Diversão e Arte

Amir Labaki discute a consolidação do gênero documentário mundo afora

Labaki é criador do mais importante festival de documentários na América Latina

Ricardo Daehn
postado em 08/05/2016 07:38

Labaki é criador do mais importante festival de documentários na América Latina

Criador do mais importante festival de documentários na América Latina, Amir Labaki não hesita em alinhar a produção brasileira, ao lado de filmes norte-americanos e franceses, na lista do mais instigante cinema do mundo, em termos de documentário. Com olhar cada vez mais aguçado, pelos 21 anos de estabelecimento do É Tudo Verdade, o festival que escoa realidades estimulantes desenhadas por cineastas da Dinamarca, Holanda e China, focos de aprimorados documentários, Labaki não acredita em tudo que vê. Falsear a realidade não cola, no rigor do crítico e curador: ;Desconfie sempre quando, num documentário, tudo parecer coerente e harmônico demais;. Autor e colaborador em mais de 10 livros, entre os quais O Cinema Brasileiro ; De O pagador de promessas a Central do Brasil, Amir Labaki sabe que nem tudo é cinema, tendo se arriscado até na publicação de texto indiretamente atrelado ao momento nacional: 1961 - A crise da renúncia e a solução parlamentarista. Voltando à sétima arte, mas distante do documentário, Labaki não segreda preferências por Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick. ;Eles representam o ápice da exploração autônoma mas articulada do som e da imagem para o desenvolvimento de uma narrativa para a tela grande;, resume.

Há um movimento que bem capture o atual estado das coisas no Brasil?
Não há um movimento, um estilo ou uma temática hegemônicos. Mas três tendências fortes estão representadas no festival, com recorte para Brasília: a renovação do documentário biográfico presente em Cícero Dias ; O compadre de Picasso, de Vladimir Carvalho; o filme autobiográfico e familiar constituído na frente de O futebol, de Sérgio Oksman; e, no terceiro caso, a investigação histórica representada em Lampião da Esquina, de Lívia Perez.

Quem dá sustentação à ala documental de produção no Brasil? Quais as vantagens imediatas de visibilidade do gênero e o que pode ser aperfeiçoado?
A produção de documentários tem se viabilizado por meio da combinação de aportes privados e públicos: concursos, leis de incentivo, recursos próprios e coproduções com a tevê, estando o Canal Brasil à frente. Comparativamente a modelos internacionais, haveria muito a crescer quanto à participação da tevê, à presença como coprodutora de plataformas on-line e a um maior quinhão para documentários nas chamadas e concursos públicos. Há ainda um marcante desequilíbrio entre o reconhecimento estético e público ao documentário nacional e a participação relativa do setor nos recursos públicos investidos na produção cinematográfica.

A convulsão brasileira, com a crise proliferada, deixou o festival algo vulnerável? Ou, ao contrário, alimenta o evento, pelas perspectivas de futuras produções que instiguem?
A crise econômica atingiu a todos, naturalmente, mas conquistamos a confiança de patrocinadores fiéis nestas duas décadas de festival. Não haveria assim razão para falar em vulnerabilidade. Quanto a crise inspirar bons filmes, nunca se sabe.

Qual o momento mais emocionante do É Tudo Verdade para o organizador Amir Labaki e para o espectador Amir Labaki?
O organizador e o espectador são um só. Comove-me descobrir grandes filmes e ter o privilégio de apresentá-los pela primeira vez aos espectadores brasileiros. Como faremos em Brasília com Cícero Dias, o compadre de Picasso, O futebol e Um caso de família.

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