Irlam Rocha Lima
postado em 10/05/2016 07:30
Marisa Monte está livre, leve e solta. Com o lançamento de Coleção, o sexto disco de carreira %u2013 aos quais se juntam dois ao vivo e seis DVD %u2013 , ela deixa de ter vínculo com a Universal Music, gravadora que absorveu da EMI a maior parte do catálogo da cantora e compositora carioca. O recém-lançado CD reúne músicas da artista não registradas em seus álbuns e algumas de outros autores, em que divide a interpretação.
Coleção chega às lojas cinco anos depois do lançamento de O que você quer saber de verdade. %u201CEm vez de fazer uma coletânea de sucessos, como fora proposto, optei por reunir 13 canções espalhadas por outros projetos que tiveram a minha participação. Parte delas são músicas de minha autoria, ou que fiz com Arnaldo Antunes%u201D, explica Marisa. %u201CMas há outras que gravei em duo com colegas queridos, ao longo de 30 anos de carreira%u201D, acrescenta.
A cantora conta que Coleção a levou a rever todas as canções, quase 40, gravadas fora dos seus álbuns, a fim de formar um conjunto, que pudesse fazer sentido e tivesse um equilíbrio interno. %u201CA maioria delas foi mantida exatamente como na versão original. Em algumas, me permiti a liberdade de remixar e adicionar novas vozes, utilizando critério subjetivo, íntimo e emocional. Foi um desafio chegar a essas 13, mas aproveitei para iluminar o que talvez tenha passado despercebido%u201D, destaca.
Embora esteja sempre compondo, Marisa não dá indicação que pretenda, pelo menos em breve, lançar disco de inéditas. Ela vai além: %u201CO CD é uma derivação do LP, mas hoje com a tecnologia digital, estamos libertos desse formato. A partir de agora, sem compromisso com gravadora, posso compor duas músicas e lançá-las na rede%u201D, sugere.
Para a estrela da MPB, nos dias de hoje qualquer pessoa pode fazer seu playlist e com isso o álbum, na forma original como é lançado, passa a não fazer mais sentido, e tornou-se algo do passado. %u201CO universo digital oferece infinitas possibilidades a serem exploradas%u201D, afirma. %u201CDaqui para a frente, outras opções se tornam ainda mais naturais%u201D, complementa.
A cada lançamento, Marisa sempre pôs o pé na estrada com longas turnês, mas dessa vez será diferente. %u201CNão tem excursão à vista. Tenho feito poucas apresentações ultimamente, mas dependendo do convite, posso subir ao palco com pequenos shows, na companhia de quatro músicos%u201D. Já está previsto, por exemplo, um com a cantora lusitana Carminho, em Lisboa, no próximo mês.
~O CD é uma derivação do LP, mas hoje com a tecnologia digital, estamos libertos desse formato.
A partir de agora, sem compromisso com gravadora, posso compor duas músicas e lançá-las na rede%u201D
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Coleção
CD de Marisa Monte com 13 faixas. Lançamento da Universal Music. Preço médio: R$ 35,90.
As canções
Nu com minha música
(Caetano Veloso)
%u201CÉ uma canção que fala ao coração de todos os músicos, ao descrever o cotidiano na estrada. Gravei com Rodrigo Amarante e Devendra Banhart num estúdio em Los Angeles, onde estive para trabalhar alguns arranjos com o produtor Mario Caldato%u201D.
Cama
(Marisa Monte, Arnaldo
Antunes e Carlinhos Brown
A música faz parte da trilha original do filme Era uma vez, do cineasta Breno Silveira, que entrou em cartaz em 2008. A trilha não chegou a ser lançada em CD.
É doce morrer no mar
(Dorival Caymmi e Jorge Amado)
%u201CNuma das vindas de Cesária Évora ao Brasil, no começo dos anos 1980, fui convidada para participar de um show dela em São Paulo. Cantamos juntas, também, na ExpoLisboa, em 1998. Tivemos encontros memoráveis em Lisboa e no Brasil, que a levou a ter vontade de cantar m português. Sugeri a ela uma série de músicas para gravarmos e a escolhida foi o clássico É doce morrer no mar, de Dorival Caymmi e Jorge Amado. Ela veio especialmente ao Rio para gravá-la%u201D.
Carinhoso
(Pixinguinha e João de Barro)
Admiradora de Paulinho da Viola, Marisa ficou profundamente emocionada, quando ele a convidou para cantar a música preferida dele no filme (documentário) Meu tempo é hoje, dirigido por Izabel Jaguaribe. %u201CA filmagem foi no salão nobre do casarão do Parque Lage, lugar inspirador e testemunha de momentos bhistóricos da cultura brasileira%u201D, diz a cantora.
Alta noite
(Arnaldo Antunes)
%u201CEm 1992, Arnaldo Antunes ainda fazia parte dos Titãs e já era meu parceiro. Seu novo projeto, Nome, era um vídeo-livro multimídia que unia poesia, música e artes visuais. Arnaldo me convidou quatro dessas músicas, entre elas Alta noite. %u201CEnsaiamos meticulosamente cada divisão, cada variação e gravamos ao vivo, olho no olho, ao som do piano mágico de João Donato%u201D.
A primeira pedra
(Marisa Monte, Arnaldo Antunes
e Carlinhos Bown)
Fez parte das oito canções, gravadas a pedido de do multinstrumentista argentino Gustavo Sanataolalla, lançadas como conteúdo exclusivo na plataforma digital, em 2013, que marcava o lançamento do iTunes na América Latina. %u201CA primeira pedra já havíamos cantado ao vivo e fizemos o registro, com a banda de apoio do show Universo ao meu redor, formada pelo power trio da Nação Zumbi, Dadi e um quarteto de cordas%u201D.
Dizem que o amor
(Francisco Santana e Argemiro Patrocínio)
%u201CO Argemiro era dono de uma mina de sambas, que falam de amor, da natureza e da Portela. Em 2001, produzi seu primeiro disco solo. Ele me pediu para cantar Dizem que o amor, gravado em mais uma sessão de músicas lindas, muitas histórias e gargalhadas%u201D.
Ilusão
(Julieta Vinegas)
Arnaldo Antunes fez a versão em português de Ilusión, gravada em duo por Marisa e pela cantora mexicana, no show comemorativo para o lançamento do iTunes na América latina, em 2013, em São Paulo.
Esqueça
(Marc Anthony e
Roberto Corte Real)
Gravada por Marisa para a trilha sonora do filme A taça do mundo é nossa, com a turma do Casseta & Planeta, dirigido por Lula Buarque. O filme se passava nos anos 1970 e o repertório era composto basicamente de grandes sucessos daquele período, quando Esqueça fez muito sucesso com Roberto Carlos.
Chuva no mar
(Marisa Monte e Arnaldo Antunes)
%u201CCarminho fez várias visitas à minha casa e mostrei a ela minha produção mais recente e nos divertimos cantando juntas várias canções, Uma dessas novidades era Chuva no mar, que ela pediu para gravar. Cantamos juntas sob uma base de violões para que ela pudesse levar a canção para Portugal. Me surpreendi com a fusão de nossas vozes, numa curiosa alternância de sotaques e timbres%u201D.
Fumando espero
(Juan Vikadomar e Felix Garzo) %u201CSempre adorei as versões em português de tangos clássicos, gravados nos anos 1940 e 1950 por Dalva de Oliveira. Um dos meus preferidos é Funando espero, que gravei em casa, só eu e Dadi (ex-Novos Baianos). Construímos uma base de violões e um pouco de percussão, com arranjos do maestro Gustavo Mozzi, gravados em Buenos Aires%u201D
Volta, meu amor
(Manacéa e Áurea Maria)
Faixa do CD Tudo azul, da Velha Guarda da Portela. %u201CAlém dos pandeiros, das pastoras e de todo o lirismo poético de Oswaldo Cruz, a canção traz ainda a voz do adorável Argemiro%u201D.
Waters of march
(Antônio Carlos Jobim)
Em duo, Marisa Monte e David Byrne gravaram o clássico de Tom Jobim em 1995, no estúdio Downtown na Broadway, alternando vozes nas letras em português e inglês %u2013 ambas feitas pelo Maestro Soberano. O registro foi num disco para levantar fundos para a pesquisa e a prevenção da Aids no Brasil.