Como um ritmo vivo, o samba acompanha as transformações mercadológicas das últimas décadas. Essas mudanças passaram a exigir de artistas outras habilidades que ultrapassam o universo da composição, do canto e do batuque. O fato impulsionou sambistas a seguir carreira solo. Nomes como Arlindo Cruz, Sombrinha, Chrigor, Belo e Salgadinho são alguns exemplos que enxergaram na presença individual uma forma de conquistar novos públicos e ganham mais autonomia na mídia.
;Isso é uma tendência que chegou fortemente a partir da década de 1970. O artista se torna mais midiático e a arte não se restringe à música: ele precisa ser bonito, dançar, cantar, ter presença de palco. São elementos que o transformam em um artista visto como mais completo pela sociedade;, afirma Gabriel Carneiro, professor de pandeiro do Clube do Choro e mestre em música pela Universidade de Brasília (UnB).
Na avaliação do especialista, a importância dada a outros elementos fez com que a música sofresse certa desvalorização como trabalho isolado. Apesar de ser um artista fantástico, se Cartola tivesse vivido no nosso tempo talvez não fizesse muito sucesso por não ter as outras características que o momento atual exige;, reflete.
Outro desafio para os novos tempos do samba está na polêmica relação de artistas com as gravadoras. Com a crise sofrida pelas empresas em 1990, os investimentos em novos trabalhos se tornaram mais escassos. ;Existe a parte boa e a ruim das gravadoras. Elas continuam com o poder de projetar o artista, mas, ao mesmo tempo, é possível fazer sucesso sem o aporte delas e ter uma maior liberdade de trabalho;, avalia Carneiro.
Crise da indústria
Os anos1990 trouxeram o uma verdadeira febre de grupos de samba e de pagode dedicados ao ritmo de matriz africana. No fim do mesmo período, a crise da indústria fonográfica resultou em fusões como a da BMG e Sony e fechamento de gravadoras.
;O mais difícil de fazer parte de um grupo era dividir opiniões com todos. Trabalhar sozinho resulta em decisões são mais rápidas e tudo é mais eficiente. É muito bom cuidar de seu próprio nariz;, ressalta o pagodeiro Salgadinho, que foi vocalista do grupo Katinguelê durante 20 anos. O músico ressalta em entrevista ao Correio a mudança da dinâmica entre os grupos atuais.
;Na nossa época tudo girava em torno de uma decisão coletiva. Hoje em dia 80% das decisões nos grupos são feitas por investidores ou produtores. Isso transformou o mercado fonográfico em um ambiente mais business;, destaca Salgadinho. ;Às vezes os envolvidos se preocupam tanto com o mercado e desconstroem tudo o que foi construído pelo artista.Os arranjos musicais estão muito repetitivos e as vozes estão parecidas;, avalia Salgadinho.
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