Diversão e Arte

Cauby e Ângela Maria comemoravam com shows os "120 anos de carreira"

O último encontro dos dois se deu no dia 3 deste mês no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Irlam Rocha Lima
postado em 16/05/2016 07:38
O último encontro dos dois se deu no dia 3 deste mês no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Últimos remanescentes da época de ouro do rádio, Cauby Peixoto e Ângela Maria, juntos, somavam 120 anos de carreira. Para comemorar a data, empreenderam uma turnê por várias capitais brasileiras. Em junho de 2012, eles foram homenageados na Câmara dos Deputados, onde receberam a medalha de Mérito Legislativa, pela contribuição à cultura brasileira. A parceria de Ângela e Cauby teve início no começo da década de 1950, em casa noturna da Zona Sul do Rio de Janeiro, já como estrelas de programas da Rádio Nacional. Mais tarde, gravaram dois discos, e continuaram a dividir o palco. Isso, porém, se acentuou há três anos, depois de lançarem o álbum Reencontro.

O último encontro dos dois se deu no dia 3 deste mês no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em Brasília, eles se apresentaram em 20 de abril, quando deram uma entrevista ao Correio Braziliense. Confira:

Entrevista/ Cauby Peixoto
Em que circunstâncias você conheceu Ângela Maria, na Rádio Nacional?

Eu a ouvi no Programa Paulo Gracindo e fiquei encantado com a voz dela. Em seguida quis conhecê-la melhor, pessoalmente.

Vocês se tornaram ídolos dos ouvintes da Rádio Nacional. À época, havia disputa entre as estrelas da emissora?
Entre Ângela e eu, não, mas entre outros havia.



[SAIBAMAIS]Quando vocês cantaram juntos pela primeira vez?
Foi na boate Drink, que eu possuía no Leme. A Ângela cumpriu temporada vitoriosa lá e, no show, eu costumava interpretar alguma música com ela.

Quantos discos você gravou ao longo da carreira e quaisas músicas que considera de maior sucesso?
Incontáveis. Entre CDs, LPS, mais de 110. Tem muito mais de cinco sucessos. Os maiores sucessos, inegavelmente, são Conceição, Bastidores, New York New York e Blue Gardênia. Mas tem outras mais que o público gosta muito de ouvir nos shows.

Como foi sua passagem pelos Estados Unidos, onde buscou fazer carreira?
Foi muito interessante. Já estava com uma carreira quase consolidada, mas a saudade do Brasil me fez retornar.

Como faz para manter a voz poderosa?
Não falo alto, falo muito pouco. Não entro em discussões. Não tomo gelado em hipótese alguma e durmo muito.

Depois de alguns shows juntos, de dois discos gravados, como surgiu a possibilidade de fazerem a primeira turnê?
Sempre fizemos shows juntos, mas a turnê foi uma ideia do Manoel Poladian. Temos nos apresentado em várias capitais, lotando plateias, inclusive no Theatro Municpal do Rio de Janeiro.

A Brasília você vem desde sempre. Há três anos você a Ângela receberam a medalha de Mérito Legislativo, na Câmara dos Deputados. Que importância essa comenda teve para você?
Sempre fui muito bem recepcionado em Brasília, cantei em muitas casas noturnas aí, e fiz grandes amigos. A homenagem no Congresso Nacional foi um marco em minha carreira.

Entrevista/ Ângela Maria
Ângela, passados tantos anos, até hoje você é chamada de Rainha do Rádio. Você assim se considera?
É um título importante, conquistado em 1954, que tenho muita honra de ostentar. À época, recebi 1 milhão e 500 mil votos, que era um número impressionante para aquele momento. As pessoas pagavam 1 mil reis pelo voto e o valor total era desatinado a instituições de caridade.

O apelido de Sapoti lhe foi dado pelo então presidente Getúlio Vargas, ou isso é uma lenda?
Sim, foi o presidente Vargas quem me deu esse apelido. Ele foi convidado para a festa de réveillon de 1953, na casa do Victor Costa, que era o diretor da Rádio Nacional. Alguns cantores também estavam entre os convidados. Quando fui cumprimentar o presidente, ouvi dele; ;Você é como um sapoti, fruta que tem sua cor e é doce como sua voz;. A partir dali, passaram a me chamar assim.

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Contratados da Rádio Nacional, você o Cauby se tornaram amigos na emissora?
Nós nos conhecíamos, mas só nos aproximamos quando, depois de me ouvir na Boate Vogue, no Leme, que era a casa noturna mais badalada de Copacabana, ele me convidou para fazer uma temporada no Drink, que ele acabara de adquirir. Lotei a boate durante toda a temporada, com um show dirigido pelo Vanucci, que, tempos depois, iria para a TV Globo.

Babalu é uma música marcante em sua carreira. É verdade que você a gravou por acaso?
Aconteceu o seguinte: o Waldir Calmon, pianista famoso nos anos 1950, estava gravando o disco na Copacabana, gravadora da qual eu era contratada. Ia ser um LP instrumental, mas como eu já fazia sucesso na época, ele me convidou para participar e sugeriu que eu gravasse Babalu. Esse foi o registro original, mas depois a gravei outras vezes. Desde então, essa música de Margarita Lecuona nunca mais saiu do meu repertório de shows.

Mais para a frente, você fez sucesso com Gente humilde, de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque. Essa canção lhe foi oferecida para gravar?
Não. Eu ouvi Gente humilde num disco que o Chico Buarque fez na Itália. Identifiquei-me muito com ela, pois a letra retratava uma realidade vivenciada por mim até a adolescência. Aí, gravei a música no CD Ângela Maria e se tornou um dos meus maiores sucessos. O Chico depois me disse que gostou muito da gravação e que era meu fã.

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