As 1,5 mil pessoas presentes ao Net Live Brasília em 20 de abril último se emocionaram ao assistir à apresentação de Cauby Peixoto e Ângela Maria. Boa parte delas, porém, tiveram a sensação de que possivelmente não voltariam a ver, em cena, aquele que foi um dos maiores cantores da música popular brasileira.
Um dos últimos remanescentes ; ao lado de Ângela ; , da era de ouro do rádio, Cauby, naquela noite, deixou claro que estava fisicamente debilitado, com dificuldade para respirar e fazer emissão da voz ; logo o instrumento que fez dele um intérprete inigualável, admirado por várias gerações de admiradores.
[SAIBAMAIS]
Cauby já esteve incontáveis vezes na capital, até antes mesma da inauguração. Há quem se recorde de tê-lo visto cantar, mais de uma vez, no piano bar do Brasília Palace Hotel ; ponto de encontro de engenheiros, e donos de empresas construtoras e autoridades naquela época. Depois, voltou para shows em teatro, casas noturnas e clubes sociais.
O espetáculo em que dividiu o palco com Ângela, no espaço de eventos do Setor de Hotéis e Turismo Norte, foi o último feito por eles, que aproveitaram para lançar o CD Reencontro, gravado em 2015. Três anos antes, os dois haviam estado na cidade para serem homenageados na Câmara dos Deputados, que os distinguiram com a medalha do Mérito Legislativo.
Ângela abriu o show e, acompanhada por um sexteto, sob a direção musical de Ronaldo Rayol, Ronteto, cantou canções marcantes em sua carreira, como Lábios de mel, Vida de bailarina, Gente humilde e Babalu. Em seguida, chamou Cauby para se juntar a ela. Nesse momento o público já pode perceber as limitações físicas dele. Para chegar até a cadeira em que ficaria sentado durante toda a apresentação, precisou do apoio de alguém da produção.
Um choque
Quem conhecia a força da voz e a performance cênica do cantor, ficou tocado ao vê-lo naquela circunstância. ;Tomei um choque ao ver a dificuldade que ele tinha para se locomover e respirar, e, claro, na hora de cantar. Aliás, nem mesmo em clássicos do seu repertório, como Conceição e Bastidores, não conseguia chegar até o fim;, conta a cantora Sandra Duailibe. ;Eu me emocionei com o respeito da plateia que, ao perceber como o estado de saúde dele estava comprometido, o ovacionou.;
Sandra diz que se sensibilizou, também, com a demonstração de afeto, carinho e cumplicidade de Ângela, o tempo todo atenta a Cauby, mesmo quando não dividiam a interpretação de alguma música. ;Mas o que vou querer guardar na lembrança é aquela voz maravilhosa, de outros tempos, aquele glamour que, com muita elegância, imprimia durante a presença em cena. Cauby vai ficar para sempre no coração dos brasileiros.;
Fã do cantor desde a adolescência, Maria do Carmo Farias Vieira, 72 anos, assistiu ao show de Cauby e Ângela no Net Live com a filha Carleuza. ;Foi a primeira vez que o vi ao vivo e bem de perto. Estava muito feliz por poder assistir a um show dele com a Ângela, mas fiquei preocupada ao notar o quanto estava debilitado, e chorei bastante. Afinal de contas, ali, em frente a mim, estava um artista por quem sempre tive grande admiração;, lembra. Desolada desde que soube, pelo marido, da morte do astro, a dona de casa afirma que Cauby não tem substituto na MPB.
Servidora do Itamaraty, que acompanha a trajetória do cantor desde os tempos da Rádio Nacional, Selma Babuco foi outra das espectadoras do encontro de Cauby e Ângela. ;Assim que soube do show, comprei ingresso para assisti-los. Cheguei ao local com muita expectativa, por revê-los depois de muito tempo;, e guardava uma grande expectativa;, conta.
Para Selma, mesmo com mais de 80 anos, Ângela Maria continuava cantando bem. ;Já o Cauby, infelizmente, deu sinais de conviver com sérios problemas de saúde. No show, a voz falhou várias vezes, prejudicando o canto, o que me deixou triste. Mas, na minha memória, o que vai ficar registrado é aquele cantor que ouço nos discos, vejo em reprises na televisão; e que, em outros tempos, aplaudi na boate do Hotel Plaza, no Leme (Rio de Janeiro), e numa casa notura, em Buenos Aires.;
Lembranças
Veterano compositor, que na década de 1990 apresentava o programa Canta Brasília, na Rádio Cultura, Carlos Elias, teve Cauby e Ângela como convidados. ;Eles vieram fazer um show no Teatro Nacional e os entrevistei. No programa, cantaram Nem eu, de Dorival Caymmi. Cauby comentou que era a primeira vez que interpretavam a canção em duo. Então falei para ele que os dois haviam feito o mesmo, há muitos anos, na Rádio Tupi;, lembra Elias.
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