Diversão e Arte

Músicos consagrados do samba e pagode apostam em trabalhos autônomos

Artistas enxergam na carreira individual chances de maior projeção e autonomia

postado em 17/05/2016 08:51

Artistas  enxergam na carreira individual chances de maior projeção e autonomia

Como um ritmo vivo, o samba acompanha as transformações mercadológicas das últimas décadas. Essas mudanças passaram a exigir de artistas outras habilidades que ultrapassam o universo da composição, do canto e do batuque. O fato impulsionou sambistas a seguirem carreira solo. Nomes como Arlindo Cruz, Sombrinha, Chrigor, Belo e Salgadinho são alguns exemplos que enxergaram na presença individual uma forma de conquistar novos públicos e ganhar mais autonomia na mídia.

;Isso é uma tendência que chegou fortemente a partir da década de 1970. O artista se torna mais midiático e a arte não se restringe à música: ele precisa ser bonito, dançar, cantar, ter presença de palco. São elementos que o transformam em um artista visto como mais completo pela sociedade;, afirma Gabriel Carneiro, professor de pandeiro do Clube do Choro e mestre em música pela Universidade de Brasília (UnB).
[SAIBAMAIS]
Outro desafio para os novos tempos do samba está na polêmica relação de artistas com as gravadoras. Com a crise sofrida pelas empresas em 1990, os investimentos em novos trabalhos se tornaram mais escassos. ;Existe a parte boa e a ruim das gravadoras. Elas continuam com o poder de projetar o artista, mas, ao mesmo tempo, é possível fazer sucesso sem o aporte delas e ter uma maior liberdade de trabalho;, avalia Carneiro.

Os anos 1990 trouxeram uma verdadeira febre de grupos de samba e de pagode. ;O mais difícil de fazer parte de um grupo era dividir opiniões com todos. Trabalhar sozinho resulta em decisões mais rápidas e tudo é mais eficiente. É muito bom cuidar de seu próprio nariz;, ressalta o pagodeiro Salgadinho, que foi vocalista do grupo Katinguelê durante 20 anos. O músico destaca ao Correio a mudança da dinâmica entre os grupos atuais.

;Na nossa época, tudo girava em torno de uma decisão coletiva. Hoje em dia, 80% das decisões nos grupos são feitas por investidores ou produtores. Isso transformou o mercado fonográfico em um ambiente mais profissional;, diz Salgadinho. ;Às vezes, os envolvidos se preocupam tanto com o mercado e desconstroem tudo o que foi construído pelo artista. Os arranjos musicais estão muito repetitivos e as vozes parecidas;, avalia o músico, que administra a carreira solo paralelamente aos trabalhos de composição e produção musical de artistas como o grupo Pura Juventude, Silvio Aguiar e Wagninho (ex-Negritude Júnior).

Moldando a carreira


Apesar de ter participado do grupo Fundo de Quintal, o sambista Arlindo Cruz considerava que fazia, ao lado de Sombrinha, um ensaio do que se tornaria uma carreira solo. ;Lançamos um estilo de produzir samba;, avalia o cantor, que enxerga a decisão como algo que exige responsabilidade. ;Muitas pessoas perguntam o motivo da minha saída do Fundo de Quintal. São mudanças que definimos porque tivemos um crescimento artístico. Um casal que se ama discute com o passar do tempo. Imagina um grupo com seis cabeças diferentes?;, aponta Arlindo Cruz.

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