Diversão e Arte

Elenco do filme 'Aquarius' protesta contra impeachment, em Cannes

Vídeo do protesto foi divulgado na página oficial do evento no Facebook

Agência France-Presse
postado em 17/05/2016 12:22
[VIDEO1]
Cannes, França - A equipe do filme brasileiro "Aquarius", liderada pelo diretor Kleber Mendonça Filho e pela atriz Sônia Braga, protestou nesta terça-feira (17/5) no tapete vermelho de Cannes contra o "golpe de Estado no Brasil". "Um golpe ocorreu no Brasil", "Resistiremos" e "Brasil não é mais uma democracia" foram alguns dos cartazes, escritos em diversos idiomas, que o cineasta e sua equipe seguraram na famosa escadaria do Palácio de Festivais.

Na sala do Grande Teatro Lumi;re, onde o filme foi projetado, o grupo voltou a se manifestar ao grito de "Fora", enquanto outras pessoas seguravam uma faixa com a frase: "Stop coup in Brazil". Um dos presentes abriu sua blusa para deixar à mostra uma camiseta com a inscrição "Super Dilma", em referência à presidente Dilma Rousseff, afastada neste mês de seu cargo no âmbito da abertura de um julgamento de impeachment, denunciado por ela como um "golpe de Estado".

Vídeo do protesto foi divulgado na página oficial do evento no Facebook

Minutos depois começou a projeção de "Aquarius", o único filme da América Latina entre os 21 aspirantes à Palma de Ouro. Conta a história de Clara (Sônia Braga), uma mulher que resiste a pressões de promotores imobiliários para deixar seu apartamento no Recife. Vários cineastas brasileiros presentes em Cannes criticaram o "golpe de Estado" de Michel Temer, que assumiu a presidência após a abertura do julgamento de impeachment de Dilma, e sua decisão de acabar com o ministério da Cultura, integrando-o ao da Educação.

Um país dividido
Mendonça Filho reencontrou em Cannes a atriz de seu filme Sônia Braga, que mora em Nova York e a quem ele não via desde o fim das filmagens em Recife. Ambos falaram sobre os últimos acontecimentos no Brasil. "Eu moro nos Estados Unidos, mas também no Brasil, tenho família e amigos lá e penso que o que está acontecendo, a manipulação da tomada do poder, tem que ser exposto ao mundo inteiro", afirmou Sônia Braga à AFP. "Uma das coisas que mais me preocupa é como o Brasil está dividido. Nunca havia visto o meu país tão dividido", disse a atriz.

[SAIBAMAIS]De acordo com a estrela, de 65 anos, "tudo o que se fez desde o fim da ditadura, desde a abertura do Brasil, fizemos juntos. Temos que entender que em dois anos, de qualquer forma, vamos votar para presidente. Temos que voltar a fazer as coisas juntos". O diretor Eryk Rocha apresentou em Cannes "Cinema Novo", um documentário poético sobre o movimento cinematográfico, um dos mais importantes da América Latina e que revolucionou a criação artística nos anos 1960 e 1970. "O Brasil está entrando em um novo momento, extremamente grave e de incerteza. Como cidadão, sinto uma profunda impotência e angústia com o que está acontecendo: o Brasil está vivendo uma ruptura muito grave no processo democrático", disse.



Outras vozes
O cineasta criticou em particular o fim do ministério da Cultura. "É um reflexo do grande retrocesso que está acontecendo no Brasil", afirmou. "Há dois erros gravíssimos. O primeiro é desarticular um ministério da Cultura que em todos os países do mundo - como na França - é um eixo fundamental do desenvolvimento. O outro é desarticular o da Educação", disse. "É necessário reconstruir esta ideia do coletivo para transformar o mundo", disse o cineasta, que fez questão de afirmar não ser "nem lulista nem petista", e sim um "artista independente".

Isabel Penoni e Valentina Homem são duas jovens diretoras brasileiras que começaram a fazer cinema nos últimos anos. Em Cannes elas apresentaram, na mostra Quinzena dos Realizadores, o curta-metragem "Abigail", sobre a viúva do antropólogo Francisco Meireles, conhecido por seu trabalho com as comunidades indígenas nos anos 1940 e 50.

A visão de ambas sobre o que está acontecendo no Brasil também é muito crítica. "Do ponto de vista de quem faz cinema e quem trabalha com arte é terrível, porque havia conquistado algumas coisas graças às políticas de cultura, sobretudo com o governo Lula, que democratizou a cultura. Agora a tendência é ter muito menos investimento regular na produção", disse Penoni.

Valentina Homem observou que quase todos os filmes brasileiros exibidos em Cannes este ano - incluindo o próprio, o de Kleber Mendonça Filho, o de Eryk Rocha, assim como o curta aplaudido na Semana da Crítica "O Delírio é a Redenção dos Aflitos", de Fellipe Fernandes - foram produzidos em grande parte com dinheiro público canalizado por iniciativas dos governos anteriores.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação