Diversão e Arte

Leitura de HQs em plataformas digitais ganha nova vida em tablets

Artistas como André Diniz defendem a ideia de que o mercado de quadrinhos digitais não é inimigo do meio tradicional

Alexandre de Paula
postado em 23/05/2016 07:06

Tablets e smartphones se tornaram opções para quem quer ler quadrinhos sem precisar de cópias físicas

O autor André Diniz foi um dos primeiros a se aventurar no mundo dos quadrinhos digitais no Brasil. No início dos anos 2000, muito antes das novas formas de consumir produtos culturais na web se concretizar, Diniz disponibilizou álbuns e livros, no site da extinta editora Nona Arte, para download em formato PDF. ;De repente, surge um caminho para se publicar o que quiser, do jeito que quiser, com alcance mundial (em tese, claro), a custo zero ou quase. Como não ficar fascinado?;, questiona o quadrinista. Com a chegada cada vez maior de novas plataformas para leitura, o consumo de HQs fora do papel em tablets e smartphones começa a se tornar uma realidade.

O próprio André Diniz mantém hoje um site em que publica histórias suas e de outros autores para serem lidas nos meios virtuais, o Muzinga (www.muzinga.net). Mesmo com o acesso rápido e fácil, os quadrinhos digitais ainda precisam batalhar para conquistar o público, afirma Diniz. Segundo o quadrinista, no entanto, o novo mercado abre algumas novas possibilidades. ;Há exemplos de HQs que não conquistam muito os leitores mais ;experientes;, que não ganham prêmios nem resenhas entusiasmadas nos principais sites e, mesmo assim, conquistam um público absurdamente amplo, diverso e abrangente.;

CEO da Social Comics ; uma plataforma digital para ler quadrinhos por assinatura (semelhante ao que a Netflix faz com filmes) ;, João Paulo Sette concorda com a visão de Diniz de que o digital pode ajudar autores independentes. ;Se uma pessoa vai até uma livraria comprar algum quadrinho, ela não vai levar o independente, só vai comprar os mainstream, muito porque não vai querer investir seu dinheiro em algo que não conhece;, atesta. As plataformas digitais auxiliam a quebrar essa barreira, acredita Sette. ;No Social Comics, ele já paga R$19,90 por todo o catálogo, então tanto faz ler o quadrinho mainstream, o independente ou menos conhecido.;

O empresário conta que uma das grandes dificuldades que encontraram ao começar o Social Comics foi convencer editoras de que disponibilizar quadrinhos na web não diminuiria as vendas tradicionais. ;Havia a preocupação por parte delas de afetar nas vendas físicas. Tivemos que aos poucos provar que era um modelo diferente de receita e que poderia conviver com o mundo físico.;

A ideia de que o mercado de quadrinhos digitais não é inimigo do meio tradicional também é defendida por André Diniz. ;Eu sempre fui um grande leitor digital, entusiasta tanto como autor quanto como consumidor, e espero sinceramente que o público enxergue que o digital vem para somar, não para substituir ou acabar com nada;, comenta. Para o quadrinista, ainda existe uma resistência grande de parte do público, pouco disposta a arcar com custos (mesmo que mais baixos) da compra de e-books.

O streaming é, para Diniz, uma das maneiras de driblar essa resistência na compra de livros digitais. ;Os sistemas de assinaturas parecem estar mudando aos poucos essa equação neste momento, estou justamente publicando parte das minhas obras lá no Social Comics;, acredita.

A derrocada total da venda dos quadrinhos físicos não será uma realidade, acredita o CEO do Social Comics. ;Não acredito que o quadrinho físico vá acabar, mas acho que se tornará um item colecionável. O modelo de streaming vai afetar é o dia a dia da banca porque ele é a nova banca, como o Netflix e o VoD (sigla em inglês para vídeo sob demanda) são a nova locadora;, aposta.

Onde ler quadrinhos digitais

Social Comics

(www.socialcomics.com.br)

Serviço por assinatura. Catálogo com quadrinhos nacionais

e estrangeiros. R$ 19,90 por mês.

Muzinga

(www.muzinga.net)

Site disponibiliza histórias de André Diniz e outros quadrinistas para leitura online gratuita, além da venda de e-books em diversos formatos.

Duas perguntas // João Paulo Sette

O que a experiência com a Social Comics tem mostrado a vocês a respeito dos quadrinhos em formato digital?

A primeira coisa é que o quadrinho digital pode conviver com o físico. O colecionador não vai deixar de comprar seus prediletos para ter na estante. Mas o mais importante acontece quando os parceiros e artistas independentes se beneficiam da plataforma em 360 graus. Ou seja, o usuário dá chance para outros quadrinhos e acaba descobrindo muita coisa que gosta e até compra o quadrinho físico. Temos vários depoimentos de artistas contando que suas vendas físicas aumentaram depois do Social Comics.

O mercado de quadrinhos digitais no Brasil ainda é muito mais fraco do que no exterior? Há um crescimento?

Se você comparar o mercado brasileiro com o americano ou o japonês, é muito pequeno (não só em termos de tiragem, como também de produção). Esses países são 10, 20 vezes mais do que o Brasil. Porém, estamos no melhor momento do quadrinho brasileiro. Nunca se produziu tanto, nunca se lançou tantos títulos. Ainda estamos engatinhando, mas acredito que tem muita coisa para acontecer nos próximos anos.

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