Uma série de contos sobre personagens do Rio de Janeiro que moram em Copacabana. Um cronista tardio, que larga o emprego de professor de uma universidade pública para se dedicar inteiramente à literatura e acaba por produzir um belo livro de crônicas. As memórias de uma família durante a ditadura militar e um imbróglio com direito a nazismo e julgamentos em plena Copacabana do século 21. A lista de temas é tão variada quanto o panorama da literatura contemporânea. O Diversão fez uma seleção com títulos que merecem uma espiada, alguns que podem se esgotar, inclusive, em único fôlego se o leitor tiver tempo, e outros cuja linguagem pode ser degustada com tempo.
Crônicas
Cristovão Tezza só conseguiu colocar em prática o projeto de fazer exercícios físicos quando descobriu que era possível ler enquanto caminhava na esteira. Geringonça, segundo o escritor catarinense radicado em Curitiba, é uma palavra que cumpre exatamente o que promete. Os livros brasileiros eram preferência nas listas de mais vendidos em 1974. Em 2013, não havia um livro brasileiro entre os best-sellers. Ah, e às vezes, o cronista tem crises de imaginação. Para isso, ele sugere que se crie no Brasil um Ministério das Crônicas de Terças-feiras. São muitos os temas que cabem nas crônicas de Tezza. Máquina de caminhar reúne 64 textos publicados nos últimos seis anos na Gazeta do Povo, no qual o escritor mantém uma coluna.
A máquina de caminhar
De Cristovão Tezza. Record, 192 páginas.
R$ 37,90
Uma Copacabana nada festiva
Regina perdeu o marido e, a pedido do casal de filhos, trocou o apartamento grande no Jardim Botânico por um conjugado em Copacabana. A filha queria mais espaço para ela e o marido e achava que a mãe não precisava mais de muitos metros quadrados depois da morte do pai. Em um quarto de hotel em Nova York, um casal está prestes a viver um triângulo com um brasileiro contratado por uma noite. Durante uma viagem à Itália, um milionário brasileiro é surpreendido por ameaça conduzida pela ex-mulher insatisfeita com o acordo financeiro pós-divórcio. Os personagens de Edney Silvestre em Welcom to Copacabana & outras histórias carregam uma tensão e espelham caráter duvidoso. Nem sempre é fácil simpatizar com eles. Welcome to Copabacana é o primeiro livro de contos de Silvestre e expõe uma certa decadência e desencantado refletidos em personagens ora solitários, como Regina, ora desiludidos, como o michê. Elegante, a narrativa de Silvestre é sempre envolvente e captura o leitor do início ao fim.
Welcome to Copacabana & outras histórias
De Edney Silvestre. Record, 352 páginas. R$ 39,90
Nazismo e Rio de Janeiro
Ronaldo Wrobel, que em 2011 foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com Traduzindo Hannah, constroi uma aventura enraizada em dois continentes ao narrar a história de um neto e uma avó. Ronaldo, o personagem, precisa viajar à Alemanha depois de receber um telefonema de juíza envolvida em processo histórico que tem o nazismo em uma das pontas. Filha de judeus e cristãos, a avó do personagem imigrou para o Brasil para escapar da guerra. Mas deixou no continente natal meia vida de paixões, traições e intrigas. E é com isso que Ronaldo se depara ao descobrir um diário. O romance inacabado de Sofia Stern é leitura leve e intrigante, com enredo pontuado por aventura e mistérios.
O romance inacabado de Sofia Stern
De Ronaldo Wrobel. Record, 256 páginas. R$ 39,90
Guardiã de memórias
Esperança sempre foi ;essa menina;. Nunca foi, como ela mesma diz, protagonista. Está mais para testemunha. Nessa condição, viu e ouviu muita coisa, tanta coisa que decide colocar tudo no papel antes que a memória falhe. Esperança, afinal, está com 80 anos. Vive em Paris, mas a história que ela conta começa no interior do Brasil, num tempo em que política era coisa perigosa. Integrante do Partido Comunista, o pai da menina é o verdadeiro protagonista dessa história, da qual a narradora dá indícios logo nos primeiros capítulos, quando os soldados de Getúlio entram em sua casa e não encontram a fotinho suspeita de uma menina de cabelos negros e laços de fita nascida atrás das grades. A estreia literária de Tina Correia, professora aposentada da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, é de uma delicadeza comovente. Esperança é a narradora e fala de um Brasil antigo e conturbado Essa menina ; de Paris a Paripiranga.
Essa menina ; de Paris a Paripiranga
De Tina Correia. Alfaguara, 170 páginas. R$ 39,90
Um romance epistolar
Luiz Ruffato cresceu em um bairro operário de Cataguases (MG) na época da ditadura, mas ninguém falava no regime. Essa tensão de um tema onipresente mas jamais citado inspirou a vontade de fazer um livro no qual o personagem nunca fala diretamente sobre sua própria condição. Nas cartas enviadas pelo filho à mãe em De mim já nem se lembra, desfila uma certa realidade brasileira nem sempre explícita. Escrito originalmente em 2007 e publicado por uma editora didática, o livro não chegou a circular e ficou restrito ao círculo escolar. Agora, depois de alguns ajustes, Ruffato publica novamente essa história comovente de um maço de cartas descobertas após a morte da mãe. Escritas por um irmão morto em um acidente de carro, as cartas transportam o personagem para afetos e traumas passados na voz de alguém há muito ausente. ;Quando criança, eu morava num bairro operário onde a presença da ditadura se dava pela ausência dela. Não se falava sobre ditadura;, conta Ruffato. ;Por outro lado, as pessoas mais importantes daquele bairro eram as pessoas ausentes, filhos ou pais que tinham saído da cidade para trabalhar em São Paulo e viravam uma espécie de lenda. Essas duas grandes ausências faziam parte do meu imaginário de ditadura quando criança. A ditadura não é um assunto nas cartas, não é algo que se fale sobre, mas está totalmente presente. E, por outro lado, o personagem mais importante é exatamente aquele que não está presente, o irmão.;
De mim já nem se lembra
De Luiz Ruffato. Companhia das Letras, 136 páginas. R$ 34,90
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