Diversão e Arte

Eduardo Moscovis e Mariana Ximenes trazem polêmicas, ao primeiro plano

Ricardo Daehn - Enviado especial
postado em 02/06/2016 07:39 / atualizado em 28/09/2021 14:55
 
 
 
São Paulo — O momento da efervescência brasiliense na telona do cinema foi antecedido, na fase das filmagens, pela presença, na capital, de dois nomes de destaque nas artes cênicas: Mariana Ximenes e Eduardo Moscovis.

De tão íntimo do público, com o qual convive, na tevê, há 30 anos, Eduardo se descola do nome,  apresentando-se como Du. Ele está preocupado com a criação dos quatro filhos e, por isso, considera importante lidar com pessoas diferentes e temas diversos. “Quero seguir nas obras românticas, cômicas, urbanas, rurais, nas de época e nas contemporâneas”, enumera Moscovis, o astro de O outro lado do paraíso.

De objeto de desejo, no seriado Louco por elas, à maturidade, como pai dedicado, no longa de André Ristum, Moscovis não abraça “a crueldade dos rótulos”. “Não é questão de relutância”, ressalta o ator da futura terceira temporada da série Questão de família, ao fugir da pecha de sex symbol.

Também no embalo de trama com fundo familiar, a atriz Mariana Ximenes sobressai, no papel-título de outra produção candanga: a comédia Uma loucura de mulher. O segredo para estar à altura das qualidades da protagonista? “Bebo água, e, por mais exausta, antes de dormir, tento tirar toda a maquiagem”, entrega a atriz paulistana, aos 35 anos.

Se faz do eterno bom humor, na vida, um aliado, Mariana parece casar profissão e êxito pessoal. É que ela promete esbanjar alegria, no mais recente desafio: reviver Tancinha, a personagem de Cláudia Raia, em Sassaricando (1987). “Tô ansiosa: Haja coração!”, diz, ressaltando o nome da nova novela. Eduardo e Mariana conversaram com o Correio.

Entrevista/Eduardo Moscovis
 
Como vê a questão do cinema dentro do painel de críticas ao uso de recursos públicos em cultura?
Eu acho que a gente caiu numa cilada, uma “grandessíssima” cilada de troca de acusações e de ofensas para todo lado. Há dedos acusativos de um contra o outro, e tudo com ‘muita’ propriedade. A gente não está conseguindo se enxergar como um único povo. Todos nós — mesmo vindos de lugares diferentes, em termos de poder aquisitivo, de regionalismo e de oportunidades — estamos numa grande roubada. Estamos muito desassistidos, em todas as condições: da política à segurança, do saneamento à saúde... Inclusive na cultura. Tudo faz parte: não adianta querer demonizar o negócio. O grande risco disso tudo é, como a galera que lidera está se vendo muito em xeque-mate, ela incita o terror e a destemperança. “Vamos nessa: vamos todo mundo acusar todo mundo” — isso sedimenta o quadro político com que lidamos há muitos anos. “Você é direita, eu sou esquerda. Eu te odeio, você me odeia”. Se tivermos interesses, vamos comungar de ideologias. Sabe, isso é de uma promiscuidade, é uma puta bagunça.

O filme O outro lado do paraíso enfatiza a paternidade. Qual o futuro que espera para os seus filhos?
Penso: “Que país é esse?”. Não gosto de ser pessimista, mas não fecho os olhos. Tudo tem sido difícil. A começar pela situação da minha cidade (Rio de Janeiro). Onde vivo, onde eu certamente vou criar os meus quatro filhos. Nem no macro, nem no micro, tenho visualizado coisas bacanas. Claro que elas existem — agora, é tudo muito mal administrado, só. Pensando nos meus filhos, acho que vai ser difícil, complicado, e até penoso.

Para nutrir a relação pai e filho, na tela, buscou inspiração na arte?
Não. Sou pai, na vida real, então a minha inspiração é a minha vida, meus filhos, a relação que eu tenho com eles. O filme propõe algo próximo do que eu acredito: a vida é uma troca de valores que são essenciais. No caráter do Nando (personagem) está o fato de ele não abrir mão do sonho dele. Vai com a família para Brasília. Ele cria uma insatisfação nas crianças, num primeiro momento, mas que, adiante, será superada, e o filho entenderá que não se pode abrir mão de sonhos. No filme, o aprendizado vem pela autoridade, mas há convencimento e explicação para os filhos. No fim das contas, a gente pode estar fazendo tudo errado, como vários pais, como a gente faz e como os nossos pais fizeram. E isso é totalmente chavão e, menos ainda, uma desculpa para você fazer besteira, como pai. Não há aval para você fazer qualquer coisa. Serve se for genuíno e com valores construtivos.

O novo filme mostra uma estrutura de casal datada, legítima para a época. Como nota o papel dos gêneros, hoje em dia?
A dificuldade é como todos nós lidamos com essa transição. Porque, independe de filtros — se você curte, ou não se você é mais para o antigo, em que pesa uma formação machista, latina: não cabe mais machismo. São elementos que recolocam a família e os papéis masculino e feminino em xeque. Assim, aqueles papéis lá não podem mais existir. Automaticamente, acionamos um efeito dominó. A ausência de pai e mãe, em casa, repercutir na criação dos filhos. A mãe, em casa, trazia presença e convivência. Como é que as mulheres se colocam? Onde é que elas querem ainda ficar resgatando e mantendo o que é bacana para elas? “Bicho, se coloca aí, então”. Resolve o que quer. Quer direitos iguais, ou não quer direitos iguais? E ainda tem a pior de todas: falam que são muito mais fortes do que homens. “Pera aí: agora bagunçou tudo... Vocês são frágeis; vocês precisam da gentileza?!” Todo mundo precisa de gentileza. Participei do Saia Justa, no GNT, e sempre tinha umas questões, em que diziam “Ah, mas você é homem!” E eu rebatia: “Cara, não tô entendendo, não tô deixando de ser homem, mas eu penso igual a vocês nesse caso x ou y”.
 
 

Entrevista/
Mariana Ximenes 


Há questionamento de valores em Uma loucura de mulher?
É um filme de situação: não tem uma piada imediata. É um filme que traz até situações sérias, mas permeadas por humor. Ele é para rir, mas propõe reflexão. O que minha personagem no filme reivindica é respeito: por passar por situação em que é exposta e o marido não a protege. Acho bem compreensível a postura dela. No dia a dia, as mulheres estão com força e não há mais lugar para machismo. Não posso generalizar que os homens estejam acuados (risos); sou uma otimista (risos). Acho que os homens serão mais maduros e terão maior tolerância.

Como esta loucura de mulher se preserva, em termos de beleza (risos)?
Não fiz plástica, que é até uma questão do filme — mas não julgo quem faça. Vivo intensamente. Sei que o sono é altamente reparador, mas minha mãe sempre fala: “Menina, você tem que dormir mais”. Sempre dormi pouco. Gosto muito de viver e tenho uma alegria muito grande em trabalhar. Sou apaixonada pelo meu ofício — desde criança, queria ser atriz. Tento ter bom humor, sempre, na vida. Bebo água, e, por mais que esteja cansada, sempre tento tirar a maquiagem, mesmo exausta. Mas recomendaria para as mulheres que durmam mais.

Quais são seus próximos filmes? Por um deles, aliás, você faturou o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado, né?
Devem ser lançados, o premiado Um homem só, da Claudia Jouvin, e O grande circo místico, do Cacá Diegues. No do Cacá, sou Margarete, uma trapezista que tem uma vida bem amarga. Ganhar Gramado, com Um homem só, foi um reconhecimento de um trabalho, mas fiquei ainda mais feliz por ter sido dirigido por uma das minhas melhores amigas, Jouvin, que me conhece muito fora de cena e me estimulou a fazer. Foi um projeto que surgiu do meu desejo de fazer algo diferente — algo bem simbólico.

Como você lidou com o desafio, na novela das sete?
Tentei fazer uma Tancinha completamente nova. Pedi bênção à Claudia Raia: mas são outros tempos, outra história. Não é um remake, mas, sim, uma releitura. Tentei fazer a minha Tancinha com o maior amor que posso dar. Tô ansiosa pelo resultado. Injetei nela alegria de viver, ela é pulsante ela é explosiva romântica e corajosa. Tô ansiosa: Haja coração! (risos)
 
O repórter viajou a convite da Imagem Filmes e da Europa Filmes. 
 
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