Era década de 1960, e a cidade de Chicago, nos Estados Unidos, fervilhava com a luta pelos direitos das mulheres. A predisposição à contestação político-social era sensível dentro do movimento feminino diante da visível discriminação de gênero. "O que queremos? O direito de escolha", elas bradavam nas ruas. Seria possível, naquele momento, remodelar de forma revolucionária os padrões sociais?
O documentário She;s beautiful when she;s angry (Ela é bonita quando está brava), dirigido por Mary Dore e recém-chegado à Netflix, traz à tona o movimento feminista dos anos 1960, mais propriamente entre os anos de 1966 e 1971, quando eclodiram as manifestações em torno da causa. As lutas iam do contexto sociopolítico-econômico até as esferas mais íntimas, em relação ao autoconhecimento do universo feminino. A necessidade de criar uma organização que lutasse pelos direitos das mulheres culminou em um movimento poderoso, que permanece atual.
A narrativa do longa se constrói a partir de arquivos históricos e entrevistas contemporâneas. Dore apresenta figuras como Betty Friedan, autora de A mística feminina, um dos livros mais importantes do século 20, e Rita Mae Brown e Kate Millet, participantes mais ativas do movimento à época. O documentário aborda protestos contra o concurso Miss America, a criação da Organização Nacional da Mulher, as dissidências do feminismo negro e a manifestação lésbica.
Aborto, padrões de beleza, salário, maternidade, assédio e estupro pautavam as discussões, numa tentativa de desconstruir a sociedade patriarcal que ainda reverbera. Obra é preciosa por enfatizar a importância de combater uma agenda machista responsável, 40 anos depois, por estupros coletivos.