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Babi Souza, do projeto Vamos juntas?, fala sobre feminismo e sororidade

'Desnaturalizar a cultura do estupro é desnaturalizar o machismo', diz Babi Souza

Adriana Izel
postado em 07/06/2016 12:23
'Desnaturalizar a cultura do estupro é desnaturalizar o machismo', diz Babi Souza
Babi Souza é considerada hoje uma das representantes ligada à luta feminista no Brasil. A jovem criou o projeto Vamos juntas?, uma iniciativa que começou nas redes sociais para que mulheres que andassem sozinhas nas ruas, olhassem ao redor e se vissem outra mulher fizessem a proposta: Que tal irmos juntas?.

[SAIBAMAIS]A boa repercussão do projeto nas redes sociais fez com que ele se tornasse no livro Vamos juntas? O guia da sororidade para todas, que debate e aborda temas como sobre sororidade, feminismo e empoderamento por meio de depoimentos. Ao Correio, Babi falou sobre o projeto, temas comuns ao feminismo como a desconstrução da cultura do estupro.

O projeto Vamos juntas? nasceu de um dilema muito comum às mulheres: o medo de andar sozinha. Inicialmente, você criou com a intenção de que as mulheres andassem juntas por segurança. Você imaginava que o projeto fosse se tornar muito maior do que isso?
Quando eu criei o Vamos juntas? pensei: "imagina que demais se todas as gurias da agência (que eu trabalhava) colocarem o ;vamos juntas?; em prática" (risos)? Eu não imaginava nem que seria algo tão grande, quem dirá que ele se transformaria em uma rede de apoio tão importante para tantas mulheres. Aos pouquinhos, o movimento passou a ser muito mais sobre "irmos juntas" e se tornou sobre "estarmos juntas" para superarmos juntas as diversas situações que a sociedade sexista ainda nos impõe.

No livro Vamos juntas? O guia da sororidade para todas você explica que resolveu começar com a publicação de uma imagem no Facebook. Por que iniciar o projeto na rede social? E por que começar com uma imagem ao invés de um texto?
Eu sou jornalista e trabalhava em uma agência digital, então sabia do poder que as redes sociais têm tanto com relação à abrangência, quanto com relação a sua "democratização" da informação. E escolhi uma imagem por saber que ela certamente engajaria muito mais que apenas um texto.

No livro você usa o termo sororidade, que ainda é desconhecido para muita gente, pode explicá-lo?

Sororidade é a ideia de irmandade entre mulheres. Fraternidade é irmandade entre homens, então sororidade é o seu feminino. Significa basicamente que todas podemos formar uma aliança, no caso do Vamos juntas? em prol de uma sociedade menos competitiva entre nós mesmas e menos sexista.

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Nos últimos dias, o estupro de uma jovem de 16 anos por 33 homens chocou o Brasil e também acabou lançando luz à cultura do estupro, assunto velado no país. O que você acha que é preciso fazer para desconstruir a cultura do estupro?
O primeiro passo é aceitar que o machismo é institucionalizado. Que é normal uma mulher ter medo de andar na rua por saber que a sociedade não julga que o corpo dela é dela e que ela tem direito sobre ele. Entendido isso, vejo dois pontos de atuação: educação de homens e empoderamento de mulheres. A cultura do estupro normaliza a violência sexual e culpabiliza a vítima. É preciso educar homens e ensiná-los de que o corpo da mulher é dela (e que nada pode tirar esse direito) e empoderar as mulheres para que elas não esqueçam disso e tenham coragem para denunciar, fazer escândalo e falarem abertamente sobre como a gente tem certeza de que da nossa vida e do nosso corpo é a gente que cuida.

A cultura do estupro está muito presente em músicas, filmes, séries e até livros. Para você, o que pode ser feito para mudar isso?

Desnaturalizar essa cultura que é também desnaturalizar o machismo.

Temos visto muitas mulheres se manifestando empaticamente na internet sobre o caso. Você acha que as redes sociais podem ser facilitadores para a união das mulheres? Muitas mulheres buscam ajuda com você pelas redes?
Sem dúvidas a internet é uma facilitadora. O Vamos juntas? recebe cerca de cem mensagens por dia e, não raro, as mulheres comentam que querem que a história seja publicada para receber o apoio das outras mulheres. A internet mostra a força do número (em uma história de estupro contada no livro a vítima recebeu mais de 400 comentários de apoio), além de criar uma barreira que faz com que as mulheres se sintam protegidas para desabafar, denunciar.

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