José Carlos Vieira, Igor Silveira
postado em 09/06/2016 07:30
João Gilberto completa 85 anos amanhã. A última grande novidade de que se tem notícia sobre ele foi em agosto do ano passado. O pai da bossa nova finalmente deixara o apartamento no Leblon, em que morou por décadas, para viver no Copacabana Palace. A rotina do baiano, no entanto, não mudou em quase nada. Ele continua recluso, com uma dieta à base de filé que encomenda no mesmo restaurante, o Degrau, há mais de 40 anos. Ou seja. João Gilberto continua sendo João Gilberto. A diferença é que recebe o café da manhã no quarto e, segundo a empresária do artista, Claudia Faissol, estaria trabalhando em um novo projeto musical.
Na época da mudança, algumas fotos e vídeos curtos foram publicados pela filha Bebel Gilberto em uma rede social. Ele aparece ouvindo música com um fone de ouvido e tocando violão para a caçula, Lulu, de 12 anos.
De acordo com Walter Garcia ; músico e professor do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) ;, é impossível indicar somente uma característica marcante do artista. ;Há alguns traços da estética dele: o arranjo musical que almeja, acima de tudo, a comunicação, e que, por isso, economiza tanto em notas quanto em massa sonora; as relações dissonantes entre a voz e os acordes do violão; e o contínuo pensamento sobre as bases e as potencialidades da canção popular brasileira em diálogo com a canção popular de outros países e com diversas formas da arte moderna;, enumera.
Esse jeito todo peculiar de João Gilberto encantou não só os artistas da geração de Gilberto Gil e Caetano Veloso e a turma bossanovista. Ele influenciou e influencia músicos que nem eram nascidos quando o baiano lançou o mítico Chega de saudade, em março de 1959.
Um dos artistas mais criativos da atualidade, o norte-americano Beck faz questão de ressaltar a importância de João Gilberto em seu processo criativo. No disco Odelay, por exemplo, ele usa um sample de Desafinado. Stereolab e Belle and Sebastian são outros dois exemplos de grupos gringos que beberam na fonte do pai da bossa nova. O primeiro chegou a gravar Samba de uma nota só. Os queridinhos do Nouvelle Vague sempre citam o aclamado álbum Getz/Gilberto, de 1964, como referência.
Até o hard rock do Guns N; Roses leva a bossa de João. Um dos guitarristas da banda, Richard Fortus falou sobre o artista brasileiro em entrevista durante a passagem mais recente da banda no Brasil. Fortus revelou que é um grande fã de bossa nova e ressaltou que Tom Jobim e João Gilberto são influências fundamentais para ele.
Nacional
É nítida a influência da bossa nova para músicos brasileiros também. Los Hermanos, que cultiva uma verdadeira legião de fãs, incorporou aspectos clássicos do ritmo a partir do segundo disco, Bloco do eu sozinho. Quando o vocalista Marcelo Camelo resolveu sair em turnê com um show no formato banquinho e violão, a influência ficou ainda mais clara: a batida característica de João Gilberto (dentro das limitações de Camelo, claro) e a voz comedida, concentrada na afinação muitas vezes ausentes no grupo de rock. Cícero, Silva e outros cantores da nova geração da nova música brasileira também surfam na onda da bossa.
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