Ao 35 anos de carreira, Rosa Passos alcançou invejável patamar na cena da música popular brasileira. Depois de um período sabático, ao qual se permitiu, voltou a gravar discos, fazer shows e sair pelo mundo em turnês. Hoje, ela retorna dos Estados Unidos, onde, durante cinco dias, cumpriu intensa programação.
No dia 5, fez show na Trumpets, em Nova Jersey; de 6 a 8 ocupou o palco do Blue Note, célebre templo do jazz norte-americano. Já na despedida daqueles país, no dia 9, esteve à frente de uma master class de canto e violão na conceituada Berklee College of Music, onde em 2008 foi honrada com o título de doutora honoris causa.
Em sua volta ao Brasil, de imediato Rosa vai se envolver com a divulgação do primeiro disco ao vivo, gravado em Carmelo (Uruguai), que acaba de sair pela Biscoito Fino, no qual interpreta criações de alguns dos seus compositores favoritos: Tom Jobim, João Donato, Johnny Alf e Djavan. E surpreende ao incluir no repertório um clássico de Roberto Carlos, a quem nunca havia interpretado.
O Ao vivo, com 11 faixas, é aberto por Olhos verdes (Vicente Paiva), registrado antes no É luxo só, álbum de 2011, com o qual Rosa homenageou Elizeth Cardoso. Tom é presença marcante com Você vai ver e Só danço samba (dele e de Vinicius de Moraes). Djavan, a quem cantora dedicou por inteiro o CD Samba dobrado (2013), comparece também com duas canções, Capim e A ilha. De Gilberto Gil ela canta a bela É preciso aprender a só ser; e de Caetano Velos recria Meu bem, meu mal.
Ganham releitura outros clássicos da MPB, da importância de Verbos de amor (João Donato e Abel Silva), Eu e a brisa (Johnny Alf), Quando o amor acontece (João Bosco e Abel Silva). Emoções é um caso à parte, pois pela primeira vez uma canção de Roberto e Erasmo Carlos é ouvida na voz da cantora baiana-brasiliense.
;Quando há dois anos fui me participar de festivais de jazz na Argentina e no Uruguai, em 2014, não tinha intenção de fazer registro das apresentações. Mas o Fico Acosta, engenheiro de som gravou os dois shows no Teatro Uama, em Carmelo (cidade próxima a Montevidéu) e me deu o áudio de presente;, conta Rosa. ;Achei a gravação tão limpa e tão natural, que depois de ouvi-la bastante, me veio a ideia do disco. Levei em consideração, também, o repertório, que considero bem interessante. Na escolha das músicas, me deixei levar pela intuição;, acrescenta.
Nesse show, Rosa tinha ao seu lado no palco o quarteto formado por Lula Galvão (violão), Celso de Almeida (bateria), Paulo Paulelli (contrabaixo acústico) e José Reinoso (piano), com quem tem perfeito entrosamento. ;Lula toca comigo desde o começo da minha carreira Paulelli e Celso há pelo menos 20 anos, enquanto o José Reinoso começou a me acompanhar nas turnês pela Europa em 1995;, revela.
Recentemente, Rosa participou do Festival Bourbon Street em São Paulo e em Parati, no litoral fluminense. ;Em Parati, cantei na praça principal para um público de 15 mi pessoas. Fiquei impressionada porque as pessoas conheciam todas as músicas que interpretei e fizeram coro comigo;, comemora. ;O meu agente está fechando agenda de shows no Brasil, a partir de julho. Já está acertada a minha participação num festival de jazz em Teresina, para o dia 7;, anuncia.
Foi com o LP Recriação, lançado em 1979 que Rosa, oficialmente, iniciou sua trajetória musical. De lá para cá, ela armazenou 18 títulos em sua discografia, incluindo o CD Ao vivo em Carmelo. Historicamente, Curare, de 1991, foi o primeiro CD gravado no Brasil. Em outros, ela homenageou Ary Barroso, Tom Jobim (na comemoração dos 40 anos da bossa nova ), Caymmi, João Gilberto ; em Amorosa ; Elizeth Cardoso e Djavan. Em seus trabalhos, tem contado com a participação de músicos consagrados como o francês Henri Salvador, o norte-americano Ron Carter, o cubano Paquito D;Rivera e o japonês Yo-Yo Ma.
Embora nunca tenha sido uma grande vendedora de discos, sempre foi elogiada pela critica e recebeu palavras elogiosas de colegas de ofício como João Gilberto (seu maior ídolo e referência), Caetano Veloso, Chico Buarque e Ivan Lins. O biógrafo Ruy Castro, certa vez, a chamou de ;João Gilberto de saias;. Mesmo transitando entre o samba, a bossa e o jazz, Rosa criou seu próprio estilo de cantar e hoje influencia outras intérpretes.
Ao vivo em Carmelo
CD de Rosa Passos com 11 faixas. Lançamento da gravadora Biscoito Fino. Preço médio R$ 20.