Alexandre de Paula
postado em 14/06/2016 07:00
Muita coisa mudou desde que o então estudante de medicina Jotapê Martins começou a traduzir quadrinhos em 1979. Um dos primeiros e principais tradutores de HQs no Brasil (responsável pela maioria das primeiras traduções de heróis no país), ele aponta a tecnologia como um grande fator de mudança, que trouxe algumas melhorias. Mas constata que o mercado hoje é mais difícil. ;Eu paguei toda minha faculdade traduzindo gibis, hoje não se paga nem o aluguel de uma quitinete;, afirma.
A tarefa de traduzir histórias em quadrinhos está além de simplesmente verter um texto para outra língua, explica Martins. O desenho, a mudança de formatos, tudo isso influencia na hora de transformar uma história produzida em outro idioma. ;A adaptação de quadrinhos não se limita apenas ao texto, traz para um formato novo. Às vezes, até recolorindo. Em quadrinhos, é preciso pensar tradução como algo maior do que só o texto;, explica.
A tecnologia fez com que a necessidade de mudanças se tornasse menor. Como hoje é mais fácil manter o mesmo padrão adotado por outros países, as editoras preferem optar por não fugir ao modelo recebido originalmente. ;Se você comparar os originais com as publicações brasileiras, hoje é tudo muito parecido. Porque é mais fácil, mais rápido;, acredita o responsável por dar nomes a muitos heróis dos quadrinhos em língua portuguesa.
Com a queda nas vendas de quadrinhos, as editoras buscaram maneiras de diminuir custos, uma delas foi reduzir a remuneração de tradutores, conta Jotapê. ;Você corta de onde é possível, quase sempre do elo mais fraco. Então, não fazer quase nenhuma mudança na história original torna o trabalho mais rápido e, por consequência, mais barato.;