Diversão e Arte

Em entrevista, Matheus Nachtergaele ressalta a importância do amor

Em conversa com o Correio, ator fala sobre a tragédia pessoal, que foi perder a mãe e acredita que só o amor e a ternura podem mudar este mundo conturbado

Alexandre de Paula
postado em 14/06/2016 07:04

Matheus Nachtergaele lembra a mãe no espetáculo 'Processo de conscerto do desejo'

A ausência e a morte são sombras constantes na trajetória do ator Matheus Nachtergaele. Com o peso de ter perdido a mãe quando ainda era recém-nascido e ter passado a infância e a adolescência sem saber as razões que a tiraram daqui, Nachtergaele resolveu expurgar a dor transformando-a em arte e poesia. O ator roda o país com a peça Processo de conscerto do desejo, recentemente encenada na cidade. No palco, ele dá voz a poemas escritos pela mãe, apresentados a ele aos 16 anos, quando soube também como ela havia partido (pelo suicídio). "Minha história toda tem sido uma tentativa de me reconciliar com a vida apesar disso", conta.

Ao Correio, o ator falou sobre política, sexualidade e a tentativa de encontrar beleza e alegria numa existência marcada pela ausência e pela saudade. "A aprendizagem é gostar de ficar na vida, tentar fazer dela uma coisa bonita." Às ideias preestabelecidas e preconceituosas, ele prefere responder com ternura e garante: "Numa espécie que não precisa reproduzir para sobreviver, como a nossa, o amor fica livre. E o amor é o que importa".

A questão da ausência é muito forte para você, como é transformar isso em arte?
Não à toa, as pessoas dizem que a gente vai se formando a partir das desventuras, um homem vai se fortificando ao superar suas tristezas, um poema bonito é uma tentativa de superação da tristeza. A gente conta um pouco um mundo que a gente viu, mostra o subjetivo, desabafa e torna isso coletivo. Eu nasci sob essas circunstâncias, tristes, minha mãe se matou logo após o meu nascimento, minha história toda tem sido uma tentativa de me reconciliar com a vida apesar disso. Tive todas as bençãos do mundo, um pai poeta, uma madrasta maravilhosa. E recebi os poemas de mamãe quando tinha 16 anos, no mesmo dia que soube como ela morreu. Tinha, de repente, a fala de mamãe nas minhas mãos, a fala subjetiva de uma poetisa. Sem tentar entender o destino, eu me tornei um ator e portanto um bom instrumento para ser arauto da poesia dela.

E essa exposição negativa, os boatos e as fofocas te incomodam muito?
Não mais, porque cada vez me envolvo menos. É realmente um mal desnecessário que acompanha o ofício. Os políticos agora deixam nossa vida com um pouco mais de paz. Nada que a gente fizer vai superar o absurdo da política hoje. Não tem atriz sem calcinha que seja escandaloso que os atos deles.

O grande artista sempre transforma o pessoal em universal, não?
Sim, todo grande artista coloca o seu subjetivo. É aquilo: ;Quer falar do mundo, fale do seu quintal;. Virginia Woolf, Guimarães Rosa, Caymmi, eles falavam do seu quintal e se tornaram tão universais... É observar com coragem o próprio umbigo e falar de tudo. E, além disso, essa peça tem esse chamado de jogar luz no que é triste, abrir um pouco a cabeça para o tabu do suicídio. Realmente é algo muito grave, mas o fato de não poder falar sobre isso é muito ruim para quem fica. Poder falar disso até com alegria, com libertação é algo incrível.

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