Carlos Helí de Almeida - Especial para o Correio
postado em 28/06/2016 07:31
Faro (Suécia) ; Em meados dos anos 1960, Ingmar Bergman (1918-2007) escreveu o roteiro de um longa-metragem intitulado The cannibals. O projeto teria Bibi Andersson como protagonista e previa um pequeno papel para uma atriz dinamarquesa em ascensão na época, conhecida como Liv
Ullmann. Antes do início da produção, no entanto, o diretor ficou gravemente doente e a ideia foi engavetada. Meses depois, ainda em sua temporada no hospital, Bergman viu uma foto de Bibi e Liv juntas e, inspirado na semelhança física entre as duas atrizes, desenvolveu o argumento de Persona (1966), drama psicológico sobre duas mulheres cujas identidades gradualmente se fundem uma na da outra.
Nascia assim um dos trabalhos mais arrojados do realizador sueco, que chegou a deixar marcas no imaginário de outros cineastas ; basta lembrar que Três mulheres (1977), de Robert Altman (1925-2006), e Mulholland drive (1999), de David Lynch, são centrados em personagens femininas cujas personalidades se entrelaçam e se confundem ao longo da trama. Lançado há 50 anos, e constantemente listado entre os mais importantes filmes de todos os tempos, Persona, é um dos temas-chave da programação deste ano da Bergman Week, semana de eventos que celebram a obra do diretor que acontece anualmente na ilha de Faro, onde Bergman rodou vários de seus filmes e viveu por cerca de 40 anos, até sua morte, em 2007.
Importância
O programa, aberto ontem com a exibição de uma cópia em 35mm de Persona, na sede do Bergman Center, fundação que preserva e promove o acervo do diretor, oferece projeções de filmes, exposição de fotos e debates sobre diferentes aspectos de Persona. No encontro Cries and silence of Persona, a masterpiece of modern cinema, marcado para hoje, o crítico francês Jean-Michel Frodon falará sobre a importância do filme na história do cinema moderno. Domingo, último dia de atividades, o tema é Queer Persona, no qual a pesquisadora Louise Wallenberg e o escritor Daniel Humphrey, autor de Queer Bergman ; Sexuality, gender and the european art cinema, discutem os símbolos gays na filmografia do diretor.
;O programa jogará luz sobre Persona, o mais ambíguo eexperimental trabalho de Bergman, que envelheceu sem ganhar uma ruga sequer;, resume Helen Beltrame-Linné, a brasileira à frente do Bergman Center desde novembro de 2014, ao apresentar o catálogo de atividades do Bergman Week. Entre as atrações está a exposição Behind the Mask ; 50 years of Persona, com fotos de bastidores do filme, cuja emblemática fotografia em preto e branco tem a assinatura de Sven Nykvist. ;Não devemos esquecer que 10 anos se passaram desde a morte do renomado diretor de fotografia, um dos mais importantes colaboradores de Bergman. O Bergman Week exibirá alguns dos mais icônicos filmes de Nykvist em seu formato original, 35mm, como O silêncio (1963) e Gritos e sussurros (1972);, observa Helen.
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