Pouco conhecido no Brasil, Márcio Faraco é o cantor e compositor brasileiro de maior sucesso na Europa. Gaúcho, que iniciou a carreira em Brasília na década de 1980, contemporâneo e amigo de Cássia Eller, desde 1992 ele mora em Paris, onde conheceu Chico Buarque, de quem se tornou parceiro. Após lançar Ciranda, o CD de estreia, é presença frequente nos mais importantes festivais de jazz e world music e já fez turnê por aquele continente com Milton Nascimento.
Artista de família de músicos, Faraco voltou a encontrar alguns amigos de Brasília e fez um show na Casa de Cultura Brasília, na Asa Norte, acompanhado pelo guitarrista Genil Castro. Ao Correio concedeu uma longa entrevista em que recorda-se do início da carreira na capital, dos grupos em que atuou e de sua estada na França, base do seu trabalho que hoje ecoa, inclusive, nos Estados Unidos.
O que guarda na memória sobre a cena de Brasília?
Era uma Brasília com sede de cultura, aberta às novidades e mais tolerante. Falo isso pensando na Lei do Silêncio, que acho um absurdo. Uma cidade sem alma é a coisa mais triste que há.
O que foi mais marcante?
Foi a sensação de que estávamos começando alguma coisa. A cidade se desenvolvia ao mesmo tempo que sua forma de expressão era criada. A Legião Urbana sempre é citada, com muito mérito, como exemplo da cultura candanga, mas não posso deixar de destacar o pioneirismo do Liga Tripa e do Mel da Terra. Naquele momento, vi que tínhamos uma linguagem própria, uma maneira de falar. Uma espécie de atitude rock em todos os estilos. Seja no jazz, seja na bossa e mesmo no samba. A projeção nacional da cidade em termos musicais, porém, veio com Oswaldo Montenegro, com o estouro de Bandolins no Brasil todo. Nessa época, eu tocava em bares e festivais, depois passei a fazer parte do grupo Beijo à quatro, embrião do Pessoal do Beijo. Logo depois, com Giovanni Faraco, Fernando Torres, Ronaldo Lima e Rodrigo Caldas, criamos o Nexo Explícito, de rock que namorava a MPB.
Amigo de Cássia Eller, o que recorda da convivência com ela?
Eu conheci a Cássia na casa da Janette Dornellas. Bati na porta e a Cássia atendeu enrolada numa toalha. Estava linda. Fiquei apaixonado por ela instantaneamente. Depois, quando descobri seu talento, passei a morar ali. Não conseguia voltar para casa. Passávamos nossos dias tocando e conversando. Ela, Janette e eu. Isso resultou no show Dose dupla, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional, um marco na vida de nós todos. Devo a ela minha primeira aparição em disco, quando gravou Lullaby, música que compusemos juntos. Tenho saudades dela, acho que é uma saudade misturada porque é também saudades de um tempo.
Por que você decidiu morar na França e não no Rio de Janeiro, como vários músicos de sua geração?
Na verdade, antes de morar na França, morei cinco anos no Rio de Janeiro. Cheguei a assinar com a Som Livre, mas o disco nunca saiu. Essa decepção é que me fez sair do Brasil.
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