Diversão e Arte

Livro traça histórico de como a cocaína mudou a relação de poder no Rio

Em livro sobre o traficante Nem, da Rocinha, o jornalista britânico Misha Glenny fala sobre relações entre o morro e o Estado

Nahima Maciel
postado em 03/07/2016 07:33

O autor foi morar na Rocinha para conhecer a comunidade

Em novembro de 2011, o jornalista britânico Misha Glenny passava uns dias no Brasil quando acompanhou, pela televisão, a prisão do traficante Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Era o início do mês e, em apenas alguns dias, a favela seria ocupada para a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), idealizada pelo secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Glenny já era um frequentador assíduo do Brasil. Visitou o país pela primeira vez em 2006, quando pesquisava para escrever McMáfia, livro-reportagem sobre a globalização do crime organizado. Assistir pela televisão à captura do então traficante mais procurado da capital fluminense lembrou ao jornalista a prisão do americano O. J. Simpson, ex-jogador acusado de matar a mulher. Glenny viu ali um livro em potencial.

Quando o Brasil foi eleito sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o inglês teve a certeza de que estava na hora de escrever o livro: Nem era o personagem perfeito. ;Achei interessante como ele dividia opiniões. Para muitas pessoas, ele era a encarnação do mal, um traficante terrível, mas, para outras, que viviam na favela, era uma espécie de Robin Hood. Então, pensei que seria uma boa história porque mostra a distância de percepções entre os brasileiros;, conta o autor, que esteve no Brasil para lançar o livro na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) na última quinta-feira.

O dono do morro ; Um homem e a batalha pelo Rio conta a história do traficante, mas não se atém ao personagem. Glenny desenha um mapa da ocupação das favelas cariocas pelo tráfico e a profunda mudança nas relações entre Estado e morro depois da chegada da cocaína ao negócio. Dinâmico e profundamente ancorado em um trabalho minucioso de apuração, o livro agarra o leitor e não larga. É uma característica dos livros de Glenny. Há sempre muito a dizer porque há sempre uma enorme quantidade de material recolhido em investigações sistemáticas e obsessivas.

Foram mais de 28 horas de entrevista com Nem na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde o traficante cumpre pena. Lá, Glenny avisou que este não seria um retrato oficial: ele entrevistaria também a polícia, os investigadores responsáveis pela prisão, os inimigos, os amigos, a família, jornalistas e quem mais pudesse fornecer informações sobre os quatro anos em que o traficante comandou a Rocinha. Além das visitas à penitenciária, o inglês se impôs o compromisso de morar na favela. Se falaria sobre o modo de vida na comunidade, precisava vivenciá-lo. ;E viver numa favela era muito diferente de viver em lugares como Ipanema ou Botafogo;, justifica. A seguir, Glenny conta como se interessou por Nem e que tipo de perfil pretendia desenhar.


A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação