Diversão e Arte

Como produtor, Kleber Mendonça Filho homenageia a 7ª arte em documentário

Em entrevista ao Correio, Kleber fala sobre documentário que abordará o Cinema São Luiz e outras salas

postado em 10/07/2016 07:08

Em entrevista ao Correio, Kleber fala sobre documentário que abordará o Cinema São Luiz e outras salas

O prestígio conquistado pelo cinema pernambucano no Brasil e no mundo é um fenômeno incontestável. E um dos responsáveis pela projeção dos filmes produzidos no estado é o cineasta Kleber Mendonça Filho, diretor dos premiados O som ao redor (2012) e Aquarius (2016), o primeiro longa-metragem de Pernambuco a concorrer à Palma de Ouro de Cannes, principal festival cinematográfico do planeta. Enquanto colhe os louros pelo trabalho na obra mais recente (premiada em festivais da Austrália e da Polônia), o recifense mira uma nova tela: a televisão. Com 10 episódios, a série documental Os filmes já começam na calçada analisará a relação afetiva entre as salas de cinema e o público.

O início da produção está programado para o fim deste ano, e a estreia da série, para o ano que vem, ainda sem canal definido. Mas a relação entre o cineasta e a temática é antiga. Kleber começou a pesquisar o tema quando ainda era estudante de jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ambientes de salas de cinema são uma paixão pessoal. Não por acidente, eu terminei indo trabalhar no Cinema da Fundação;, explicou Kleber, que atua no local desde 1998.

O Cinema São Luiz será um dos espaços de destaque da série. É lá onde o diretor promove o festival Janela Internacional de Cinema todo ano. ;A gente tem muita sorte de ter o São Luiz. O filme se transforma em relação de três partes. As pessoas criaram uma ligação com Janela, com o local e com o filme;, celebra.

O diretor acompanha um movimento de cineastas que também passaram a produzir para televisão. Casos internacionais, como Martin Scorsese (Vinyl, Boardwalk Empire), David Fincher (House of cards) e Steven Spielberg (The whispers, Public morals); brasileiros como Fernando Meirelles (Felizes para sempre?), José Padilha (Narcos e série ainda sem nome sobre a Operação Lava-Jato, em produção) e Breno Silveira (Um contra todos) e pernambucanos, como Claudio Assis (Se cria assim), Hilton Lacerda (Contos que vejo) e Henrique Spencer e André Pinto (Fãtásticos).

Em festivais de que participa, Kleber confirma essa mudança. ;Toda vez que viajo, tenho conhecido realizadores jovens que já mudam o discurso. Antes era comum dizer que quer fazer um curta-metragem, para depois realizar um longa. Cada vez mais, eu ouço que querem fazer uma série;, compara.

Confira, abaixo, entrevista com Kleber Mendonça Filho:

O que pode adiantar da série documental Os filmes já começam na calçada?
A série é de viagem, de descoberta, preservação, memória e de uma certa alegria e amor pelo cinema. A ideia parte da minha relação com salas de cinema, que conseguiram um ambiente de convívio para desfrutar e compartilhar um filme. Esse ambiente vem mudando ao longo dos anos. É por isso que fico impressionado pelo Cinema São Luiz existir intacto por mais de 70 anos. E é muito bom que fique claro que eu não sou contra as novas maneiras de consumir filme. Você hoje tem um lançamento mundial de um filme na Netflix. Isso tudo para mim faz parte e é cinema também. A série oferecerá uma análise e uma viagem muito particular que é em salas de cinema de uma outra época, que ainda permanecem abertas. Uma viagem no tempo.

Além do Cinema São Luiz, a série falará de quais salas?
Existem salas de outros países que também funcionam dentro de um formato que cada vez mais a gente não vê hoje em dia. A lista não está totalmente fechada, mas Aquarius passou em Sydney, na Austrália, em uma sala de 1929. É uma sala espetacular. Também vamos mostrar espaços em Los Angeles, Berlim Oriental, Índia e Paris. Utilizaremos imagens de arquivo e atuais. Há uma relação que é quase emotiva com os espaços. Não há essa relação, de ligação pessoal, com as salas modernas de Multiplex.

Por que escolheu a televisão para falar de cinema, e não um documentário convencional?
Eu, geralmente, só faço coisas que dizem respeito a mim. Acho que a televisão chegou em um nível técnico excelente. Esteticamente, qualidade excelente. Séries hoje são praticamente filmes. A série é muito mais adequada para televisão. Talvez seja o primeiro passo para que eu me aproxime da televisão. E o segundo é fazer série de ficção. Estou cada vez mais interessado. Eu fiz um curta-metragem encomendado pela SporTV sobre a Copa do Mundo no Recife. Adorei ter feito para televisão.

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