Diversão e Arte

Além da mesmice, youtubers cativam público ao transmitir conhecimento

O compartilhamento de experiências é uma das apostas de alguns canais na plataforma

Alexandre de Paula, Adriana Izel
postado em 12/07/2016 07:30
O compartilhamento de experiências é uma das apostas de alguns canais na plataforma
Se alguns famosos da internet conquistaram sucesso apenas com carisma, outros apostam na oferta de conteúdo mais elaborado e na transmissão de conhecimento para cativar o público. Receitas, experiências científicas, diferenças culturais, vídeos com fotografia caprichada e edição benfeita, tudo isso também pode caber na caixinha do YouTube e ajudar a atrair uma legião de fãs.

Os canais Manual do mundo e Ana Maria Brogui são dois exemplos claros de que ensinar e transmitir conhecimento também pode ser uma maneira de chegar ao sucesso no mundo dos vídeos. Ensinando experiências e curiosidades científicas, o Manual do mundo (comandado por Iberê Thenório) alcançou mais de 6 milhões de inscritos e ostenta mais de 1 bilhão de visualizações.

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Já o Ana Maria Brogui, do paulistano Caio Novaes, chegou a 1,9 milhão de inscritos ensinando a fazer receitas famosas no YouTube. Com 132 milhões de visualizações, o canal rendeu a publicação de dois livros com receitas ensinadas por Novaes. Para se ter uma ideia do poder de mobilização, uma transmissão ao vivo, feita em meados de junho, que desvendava como fazer o novo sanduíche do McDonald;s, teve 125 mil espectadores.

;A tevê já está por aí há mais de 60 anos. O YouTube acabou de completar 10. Ainda há inúmeros nichos a serem explorados e cada nicho pode ser explorado em microcategorias indefinidamente, já que o YouTube traz justamente essa vantagem: você não precisa necessariamente ser abrangente e falar com milhões;, explica Otávio Albuquerque, o Tavião dos canais Rolê gourmet (com PC Siqueira) e Coisas que nunca vivi (ou evitava viver) ; o primeiro com mais de um milhão de inscritos. ;É possível fazer muito sucesso falando diretamente com grupos específicos de pessoas, levando a elas um conteúdo especializado que elas querem;, completa.

Para ele, há espaço para tudo na internet e, ao contrário do que muitos dizem, é possível produzir conteúdo que vá além do mundo adolescente e, ainda assim, fazer sucesso. ;Meu esforço é justamente o de produzir conteúdo que um público talvez mais maduro possa se interessar. Muitas pessoas criticam a internet, dizendo que só há conteúdo para jovens. Isso não é verdade, você só precisa saber procurar;, comenta.

Há acadêmicos especialistas no assunto que concordam com Tavião. É o caso de Ademir Luiz, doutor em história pela Universidade Federal de Goiás (UFG), professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e responsável pelo artigo ;O intelectual público na internet: O caso do vlogueiro Felipe Neto;. Porém, ele pondera: ;os (youtubers) mais intelectualizados costumam ter um público menor. Geralmente os mais populares falam o que seu público deseja ouvir. Muitos formatos inovadores não frutificam, canais criativos possuem pouca audiência. Ser crítico, deliberadamente polêmico ou engraçado não garante necessariamente sucesso;, analisa.

O compartilhamento de experiências é uma das apostas de alguns canais na plataforma
Três perguntas / Otávio Albuquerque

Na sua visão, por que o YouTube se transformou em um fenômeno tão forte tanto para a produção quanto para o consumo de vídeos?

Acredito que por ser a plataforma mais democrática e poderosa para distribuir seu conteúdo para um número potencialmente gigantesco de pessoas. Pela primeira vez, vimos pessoas ;normais; conseguindo produzir e veicular um conteúdo que gerava uma empatia imensa com no público. E o público, por sua vez, encontrou nesses novos produtores de conteúdo figuras muito cativantes com quem podiam facilmente interagir e se identificar.

Ainda há muito a que ser exploradono YouTube? É possível ser inovador?

Muito, muito mesmo. A tevê já está por aí há mais de 60 anos. O YouTube acabou de completar 10. Ainda há inúmeros nichos a serem explorados, e cada nicho pode ser explorado em microcategorias indefinidamente, já que o YouTube traz justamente essa vantagem: você não precisa necessariamente ser abrangente e falar com milhões. É possível fazer muito sucesso falando diretamente com grupos específicos de pessoas, levando a elas um conteúdo especializado que elas querem.

Com o canal Coisas que nunca vivi (ou evitava viver), você propõe reflexões mais aprofundadas, mostra culturas diferentes e tem sucesso assim. Isso mostra que há espaço para esse tipo de trabalho na internet, que o conteúdo não tem que ser necessariamente raso, engraçado etc.?
Acredito que sim. Acho que há espaço para tudo, e meu esforço é justamente o de produzir conteúdo que um público talvez mais maduro possa se interessar. Muitas pessoas criticam a internet, dizendo que só há conteúdo para jovens. Isso não é verdade, você só precisa saber procurar. Mas mais do que isso, é de fato verdade que há muito mais demanda do que oferta de conteúdo desse tipo no YouTube ; e não vejo isso como um problema, mas sim como uma oportunidade a explorar.

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