Diversão e Arte

Corpo de Hector Babenco é velado hoje em São Paulo

Cineasta argentino naturalizado brasileiro se recuperava de cirurgia quando sofreu parada cardiorrespiratória. Deixa obra intensa, atenta às injustiças

Ricardo Daehn
postado em 15/07/2016 06:00

Cineasta argentino naturalizado brasileiro se recuperava de cirurgia quando sofreu parada cardiorrespiratória. Deixa obra intensa, atenta às injustiças No melhor dos desfechos, para uma vida atormentada e muitas vezes sofrida, o mais internacional dos diretores brasileiros, Hector Babenco, deixou um testamento cinematográfico ; o longa Meu amigo hindu ;, revelador e pleno de reconciliação. Num autorretrato, contou com a presença do estrangeiro Willem Dafoe e até mesmo Selton Mello, em cena, emprestou ares angelicais, no último filme, encerrado com ousada homenagem para o clássico Cantando na chuva, repleto de esperança.

Babenco estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde a última terça, com problemas respiratórios. O cineasta foi submetido a uma cirurgia nos seios da face e se recuperava bem, quando na noite de quarta, por volta das 23h, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu, aos 70 anos. Além das filhas Myra e Janka e de dois netos, a mulher dele, a atriz Bárbara Paz, acompanhou a internação. O velório será hoje, na Cinemateca de São Paulo, das 10h às 15h, e o corpo será cremado em Itapecerica da Serra, no Cemitério Horto da Paz.

Com muitas homenagens em mostras brasilienses (a mais recente em maio, promovida pela Casa da Cultura da América Latina), em 2004, o diretor questionou apenas o título de uma delas: Um olhar poético sobre a marginalidade. ;Meus filmes transmitem a perplexidade perante a injustiça e a impunidade;, comentou. Abastecido de melodramas mexicanos, enfronhado num tom neorrealista e amante da obra de Ingmar Bergman, entre outros, o realizador não assumia interesse em denúncia. ;Isso é o que os jornalistas fazem, para a polícia investigar;, dizia.

Independentemente do querer, Babenco tinha um cinema enfocado nos desvalidos. Logo no primeiro longa, O rei da noite (1975), após sucessão de perdas, o protagonista enfrenta quebra de padrões sociais, nos anos de 1920, na união com uma prostituta. Ao longo de décadas, o cineasta seguiu abraçando tipos deserdados. Nascido em Buenos Aires, em 7 de fevereiro de 1946, o diretor assimilou ostensivamente a cultura brasileira, a ponto de declarar: ;Cada vez mais, sou brasileiro nascido na Argentina;.

Depois de Marília Pera ter vencido prêmio da Associação de Críticos de Los Angeles (por Pixote, indicado ainda ao Globo de Ouro), o cineasta ganhou o mundo, na esteira do drama pesado do menino com internações na Febem. Vale a lembrança de se tratar do menor Fernando Ramos da Silva (dono de ;tristeza congênita;, como disse Babenco), criado numa violenta Diadema, e que viria a ser morto com oito tiros.

Vida intensa e plural
De carregador de malas a figurante de O caradura (de Dino Risi), de argentino a brasileiro (naturalizado em 1977), Hector Babenco teve uma trajetória singular que incluiu até mesmo a indicação ao Oscar de melhor direção (por O beijo da mulher aranha). Antes de retratar bandidos cariocas e a parte da marginália nacional, foi o filho inquieto de uma polonesa chamada Janka, numa família judaica em que o pai fora alfaiate e dono de quitanda em Mar del Plata.

Até a chegada a São Paulo, em 1969, o jovem Babenco passou cinco anos viajando pela Europa. Levava na bagagem o desejo de trabalhar em cinema (fato cumprido, com diretores como Sergio Corbucci), o encanto pelos textos de Henry Miller e John Steinbeck e as horas de debates numa Argentina em que chegava a assistir a três filmes diários. Da época, muito ficou registrado em Coração iluminado (1998).

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