Diversão e Arte

Filme Búlgaro mostra que o Brasil não tem o monopólio da corrupção

No longa, um homem honesto é ridicularizado e chamado de idiota em seu país

Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 06/08/2016 07:20

Cena de Slava, filme búlgaro que fala sobre corrupção e os efeitos na sociedade

Locarno (Suíça) ; O Brasil não tem o monopólio da corrupção. O filme búlgaro Slava (Glória), na competição internacional do Festival de Locarno, dirigido por Kristina Grozeva, mostra um caso raro: um homem honesto, logo considerado o idiota do país. Tsanko Petrov é um ferroviário, um tanto gago, encarregado da manutenção de um trecho da ferrovia no interior da Bulgária e de reapertar os parafusos que fixam os trilhos sobre os dormentes, razão pela qual seu instrumento de trabalho é uma grande chave-inglesa de sete quilos, atravessada na sua mochila. Mora sozinho numa casa simples e cria coelhos.

Certo dia, na sua ronda pelos trilhos, encontra algumas notas de lev (moeda búlgara) e, mais adiante, um saco arrebentado contendo uma fortuna. Decide alertar a polícia e logo ali chegam também jornalistas. O ato de Petrov ganha as manchetes, pois poderia, se quisesse, ter guardado para si seu achado. Para uns, é um exemplo de honestidade, mas entre seus colegas não passa de um idiota que não soube aproveitar sua chance, mesmo porque o dinheiro achado provinha provavelmente dos desvios de combustível e materiais da ferrovia, cometidos por funcionários, dirigentes e mesmo com conhecimento, e talvez cumplicidade do ministro dos Transportes.

Júlia Staikova, chefe das comunicações do ministério, decide premiar o honesto Petrov, que toma o trem até Sófia para ser alvo de uma homenagem com a presença do ministro e convocação da imprensa. Júlia, enquanto dirige seu serviço e prepara o encontro, está em tratamento com injeções de hormônios contra a esterilidade para poder ficar grávida.

Relógio

Enfim, Petrov recebe a homenagem, ganha um relógio novo e um diploma de agradecimento do Ministério dos Transportes. Porém, antes de receber seu novo relógio de pulso, Júlia lhe retira o velho relógio, prometendo lhe devolver logo depois da cerimônia, mas acaba se esquecendo. Ora, Petrov, quer seu relógio antigo, recebido de seu pai, mesmo porque o novo relógio é de baixa gama, atrasa e não lhe agrada.

Irritado, procura um jornalista e tem destaque num programa de televisão ao falar da corrupção e desvios de materiais na ferrovia. O ferroviário acaba preso, ameaçado de processo por difamação do ministro e é obrigado a se retratar, mas não escapa de um espancamento em regra. O filme, inspirado num caso real publicado nos jornais, é dirigido por uma cineasta, que confirmou haver, como no Brasil, uma corrupção endêmica na Bulgária, praticada principalmente por funcionários e políticos, embora as pessoas mais pobres deem exemplos de honestidade. A obra de Kristina Grozeva faz parte de uma trilogia. O primeiro filme foi a história de um professor pobre que assalta um banco com um fuzil roubado.

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