postado em 14/08/2016 07:30
Seja na música, seja no cinema ou em qualquer outra forma de arte, a cultura frequentemente explora as virtudes e as complicações da relação entre pais e filhos: Led Zeppelin e Eric Clapton lamentaram tragédias em All of my love e Tears in heaven, respectivamente; em Father and son, Cat Stevens simula uma conversa sobre as dificuldades em aceitar a independência e a maturidade; em Peixe grande e suas histórias maravilhosas, Tim Burton aborda questões sobre relações desfeitas, expectativas e decepções. No Brasil, Nando Reis, Chico Buarque, Renato Russo e inúmeros outros também já escreveram e cantaram sobre as dores e as delícias entre pais e filhos.
Complexa, porém, também, inspiradora e enriquecedora, o Dia dos Pais, além da troca de presentes e agrados, é, uma ocasião para refletir sobre o quão influente a relação pode ser. Para ilustrar isso, o Correio foi atrás de pais de destaque da área cultural da cidade que, por meio do respeito, admiração e compartilhamento de uma paixão, moldaram a trajetória de seus filhos, os quais também já se estabelecem no caminho traçado pelos seus progenitores. Confira os pais e filhos(as) que ajudam a enriquecer e realizar a cena cultural de Brasília e, consequentemente, um e o outro, seja nas artes plásticas, seja na música, seja na culinária, seja na fotografia, seja nas artes cênicas e seja na serigrafia.
Sintonia artística
Nina Orthof aprendeu a compreender o mundo por meio das artes visuais. A filha do premiado artista plástico Gê Orthof cresceu em um ambiente irrigado de arte assistindo processos artísticos do pai. Hoje, ela trabalha com audiovisual e vídeo instalação, e ajuda Gê a montar exposições. ;A gente tem uma parceria legal. Trocamos livros, ideias, conversas. Eu o vejo como um sonhador, umas das poucas pessoas que acredita profundamente no que faz. E fico feliz por ter ele, sou grata por ser filha de uma pessoa utópica que faz na vida o que acredita.;
Vocação por acaso
Giuliana Ansiliero é filha do chef Francisco Ansiliero, dono do restaurante Dom Francisco. Apesar de sempre ter admirado o trabalho do pai, Giuliana começou a carreira gastronômica por acaso, trabalhando no restaurante quando o pai adoeceu. ;Eu tinha outros planos de carreira, mas tomei gosto pelo trabalho;, conta ela. Hoje, Giuliana administra algumas das franquias do restaurante. ;Meu pai é um sucesso, eu me orgulho muito do que ele construiu. Além da carreira, as pessoas o admiram pela integridade, pela maneira como ele lida com as pessoas. Eu acho que são esses os valores que importam mais.;
Referência musical
Henrique Bandolim nasceu num berço musical. O filho do bandolinista fundador da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, Reco do Bandolim, desde pequeno sempre teve uma convivência artística. ;Assistia a ele ensaiando com amigos, via meu pai nas caixas de som tirando músicas, e aquilo foi me estimulando naturalmente;, conta Henrique. Os dois dividem os palcos no grupo Choro livre. ;Ele é uma figura incansável. Quando ele coloca o objetivo e faz independentemente das circunstâncias. A dignidade que ele deu para os músicos é incrível. Para mim, é um guerreiro.;
Lentes que inspiram
Não foi só o nome do pai que Fernando Bizerra Junior herdou. O talento para a fotografia e o amor pela profissão também fazem parte. ;Lembro-me dele me falar: ;vou te ensinar uma profissão que é uma linguagem artística que fala em qualquer lugar, para qualquer pessoa no mundo;, conta Fernando. Os dois são repórteres fotográficos e já fizeram algumas coberturas juntos, com destaque para a vez em que estiveram na fronteira das Coreias. Bizerra pai é uma inspiração pessoal e profissional para o filho. ;Ele sempre foi um exemplo nos dois âmbitos, porque no fotojornalismo você precisa de uma base familiar forte, de ética e de moral;.
Luz, câmera, vai lá pai!
Luciana Martuchelli cresceu nos bastidores de teatros vendo o pai atuar. Talvez pela inspiração familiar, ela tenha decidido fazer um curso na faculdade Dulcina de Moraes, mas não foi bem para se tornar atriz. Hoje, ela escreve e dirige, embora também tenha como herança o talento para atuar. Muitas das vezes em que Luciana dá as ordens, um dos atores é Gê Martú, seu pai. Um exemplo disso é a peça Elizabeth tudo pode, na qual Gê contracenou com Juliana Zancanaro (na foto entre Gê e Luciana).;Quando a gente trabalha junto é muito prazeroso. Mas no palco não existe pai e filha, senão não rende;, conta o ator.
Arte em família
Pedro Borges Cavalcante sempre teve a veia artística do pai, o pioneiro em serigrafia em Brasília, Natinho. Pedro começou pelo grafiti, criou a marca Chão e fez comunicação visual com ilustrações e posteres. Hoje, além de tatuador no estúdio Sphyx, ele trabalha com serigrafia com o pai. ;Ele me influenciou sendo o que ele é. A gente trabalha no mesmo ateliê e acaba dividindo tudo no ambiente de trabalho. É uma troca de energia e de influências. Eu aprendo muito com ele e ele usa muita coisa que eu faço. Meu pai é meu herói.;