Diversão e Arte

Elke Maravilha foi referência e ícone de irreverência na televisão

Artista, que faleceu nesta terça-feira (16/8), estava internada e passou por cirurgia para tratar uma úlcera, mas não resistiu

postado em 17/08/2016 07:30

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Um dos grandes ícones de irreverência do Brasil, a artista Elke Georgievna Grunnupp, conhecida como Elke Maravilha, morreu na madrugada de ontem. A artista passava por problemas de saúde e estava internada na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na Zona Sul, no Rio de Janeiro, desde 20 de junho. Ela, que estava em coma induzido, passou por uma cirurgia para tratar uma úlcera. Diabética, Elke Maravilha não reagiu à medicação. Sua última aparição foi no espetáculo Elke canta e conta, monólogo em que narrava diversas fases da própria trajetória ; desde a infância, em São Petersburgo, na Rússia, transitando entre os relacionamentos amorosos e a carreira nas passarelas, até as participações em programas de auditório.

Com uma maneira extravagante de se vestir, Elke Maravilha serviu de inspiração a muitos brasileiros. Em entrevista ao Correio em dezembro de 2009, a artista justificou o estilo. ;Eu acordo com o cabelo desgrenhado e com uma roupa normal. Mas, se eu for à padaria da esquina, uso maquiagem, bota de salto alto e peruca. Eu sou assim.; A multiplicidade de referências marcava as roupas de Elke. Com a ajuda de uma costureira, a artista gostava de confeccionar roupas e perucas inspirando-se nas culturas africana, viking e egípcia.

A artista deixa um legado extenso na tevê e no cinema brasileiro. A carreira da atriz na telona começou ainda na década de 1970. Entre os diretores que figuram no extenso currículo profissional da atriz, estão nomes como Júlio Bressane, Nelson Pereira dos Santos, Hector Babenco e Sergio Rezende, que a convidou para participar do filme Zuzu Angel, em 2006. No longa, ela interpretou uma cantora alemã e dividiu cena com a atriz Luana Piovani, que deu vida à personagem de Elke durante os tempos de militância e resistência ao regime militar. O último filme com participação da artista tem estreia marcada para setembro deste ano. Intitulado Lua em Sagitário, a obra de Márcio Pinheiro é um romance que retrata o tema agrário no Brasil.

Única


A diretora da faculdade Dulcina de Moraes e mestre em artes cênicas, Silvia Paes, afirma que a personalidade marcante de Elke garantiu seu espaço no cinema brasileiro. ;Ela foi uma eterna personagem. Dentro de sua trajetória, ela nunca quis ser uma mulher comum. Ela preferira justamente ser quem ela é. Elke foi uma forte representante de um cenário cultural e artístico do século 20.;

O estilo vanguardista de Elke Maravilha recebeu holofotes em um Brasil marcado pela homofobia, misoginia e machismo. Pioneira em uma sociedade machista e patriarcal, ela lutou com coragem a favor de causas que não se adequavam aos moldes de uma sociedade tradicional. ;Elke era a mãe dos gays, dos travestis, das drag queens. Ela falava o que as pessoas não tinham coragem de falar de maneira arrebatadora possível. A aparência dela trazia uma alegria muito forte e ao mesmo tempo ela contagiava as pessoas que estavam ao seu redor;, ressalta Silvia.

Apátrida


Nascida em São Petersburgo, na Rússia, em 22 de fevereiro de 1945, Elke chegou ao Brasil para acompanhar a família com destino a Minas Gerais, aos 6 anos. Filha do russo George Grunupp e da alemã Ilse Lieselotte Grunupp, Elke começou a carreira de modelo no Brasil aos 24 anos. Após perceberem o estilo e a personalidade forte da modelo, estilistas passaram a desenhar roupas de cortes marcantes especialmente para ela. Entre eles, estavam figuras como Clodovil Hernandes e Guilherme Guimarães. Grandes amizades surgiram no universo da moda, entre elas da estilista mineira Zuzu Angel, mãe de Stuart Angel Jones, jovem preso, torturado e morto pelo regime militar em 1971.

O posicionamento de Elke Maravilha contra a repressão militar gerou sérias consequências à artista. Após rasgar cartazes com os dizeres de ;Procura-se; com a imagem de Stuart estampada, a então russa naturalizada brasileira teve a cidadania cassada. ;O governo cassou a minha cidadania porque fui enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Eu não conseguia entrar no país algum com passaporte de apátrida. Mas, graças a Deus, consegui um passaporte alemão e viajo pelo mundo todo;, contava.

A primeira aparição de Elke Maravilha na televisão foi durante o programa de auditório Discoteca do Chacrinha, em 1972. O apresentador teria uma importância fundamental para a trajetória da artista russa, que comentou o jeito único de um dos grandes ícones da televisão brasileira. ;Ele realmente não batia bem. Tudo o que sou, devo a ele;, dizia. A relação de amizade entre os dois era tão grande, que Elke participou dos programas de talentos de Chacrinha durante 14 anos.

A vida pessoal de Elke, porém, sempre foi conturbada. O primeiro de seus oito casamentos aconteceu em 1969, aos 24 anos. O primeiro marido foi o escritor grego Alexandros Evremidis. Elke não teve filhos e assumiu que fez um aborto. Em maio deste ano, durante participação no programa Raul Gil, comentou sobre o fato. ;Fiz um aborto, pois não saberia educar uma criança. Nunca pensei, só agi. Eu faria um monstro. Tenho muitos arrependimentos. Deveria ser melhor em algumas situações e pior em outras. Tenho saudade do futuro. Passado foi, não quero voltar.;

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