postado em 21/08/2016 07:34
Antes de se tornar um dos mais queridos e eficientes produtores do Distrito Federal, Alaôr Rosa trabalhou com os principais diretores de Brasília e ocupou todos os palcos desta cidade. Conhece a cena brasiliense como poucos e se tornou figura central do panorama cênico local. Desde a primeira edição, trabalha exaustivamente pela realização do Cena Contemporânea, o principal festival de teatro do Centro-Oeste. Quando o fundador, diretor e curador do Cena Guilherme Reis assumiu a Secretaria de Cultura em 2015, a escolha de Alaôr foi natural. E assim aconteceu. Toda a programação e curadoria da 17; edição do Cena Contemporânea, que inicia os trabalhos na próxima semana, perpassa pelo olhar contestador e sensível do artista.
Pode nos recordar um pouco da sua trajetória artística e cultural?
Comecei a me interessar pelo teatro na adolescência, na cidade de Goiânia, onde cursei algumas oficinas e workshops. Em seguida, mudei-me para São Paulo para poder adquirir mais estudos e conhecimento na área, onde tive a oportunidade de estudar e trabalhar com profissionais como Paulo Betti, com a atriz e diretora Mirian Muniz, com o coreógrafo Beto Martins e com o mestre Antônio Abujamra. A vinda para Brasília se deu por um convite do Hugo Rodas que estava montando um ;oficinão; do Inacen com o texto ;Senhora dos afogados;, de Nelson Rodrigues. A princípio, era para durar dois meses e acabou ficando em cartaz por mais de cinco anos, rodando várias cidades do Brasil e da Argentina. Diante disso, resolvi buscar minhas coisas em São Paulo e me estabelecer em Brasília, abrindo uma pequena produtora de artes para dar continuidade aos trabalhos de ator e de produtor ao mesmo tempo. Trabalhei como ator com quase todos os diretores da cidade e me estabeleci como produtor cultural atuante na cidade desde 1986.
[SAIBAMAIS]
Quais foram os critérios que o conduziram na escolha dos espetáculos deste ano?
A ocupação de espaços, demanda notadamente popular em tempos de crise, é um dos traços principais da linha de curadoria dos espetáculos do festival em 2016. Com a grande quantidade de teatros fechados ou em reforma em Brasília, decidimos privilegiar espetáculos-ocupações. Assim é com O filho, do Teatro da Vertigem, que vai para um galpão em Taguatinga, com A floresta que anda (de Christiane Jatahy) no mezanino do Museu da Republica, com Kassandra, que ocupa uma boate, odiseo.com, que ocupa uma residência no Lago Norte. As ruas e os espaços não convencionais podem ser vistos como protagonistas da 17; edição do festival.
Uma das temáticas recorrentes este ano é o preconceito contra mulheres e homossexuais, um debate que está em moda. De que forma o Cena pode colaborar nessa discussão, sem serepetir?
Estes temas têm sido frequentes na vivência teatral contemporânea. Não são tempos fáceis em lugar nenhum do mundo. E se a vida inspira a arte, essas produções que têm apelo feminista e homoafetivo andam cada vez mais pulsantes, com suas estéticas renovadas e com público crescente. Cada vez mais, esses espetáculos estarão nos palcos e serão protagonistas de festivais contestadores, até conseguirem sensibilizar as autoridades vigentes de criminalizar a homofobia e de garantir os direitos de todas as minorias.