Nahima Maciel
postado em 22/08/2016 07:33
[FOTO1]Brasília era uma cidade recém-nascida quando Oscar Niemeyer desembarcou no Líbano pela primeira vez com a missão de construir um grande parque que serviria também de feira de exposições. Era 1962 e o arquiteto aceitara o convite do governo libanês para projetar uma espécie de terceiro núcleo urbano em Trípoli, segunda cidade mais populosa do país, localizada a 85km ao norte de Beirute. Na época, a cidade estava dividida em dois núcleos, um mais antigo, próximo às ruínas medievais, e outro concentrado na região portuária.
O complexo de Niemeyer traria vida a uma terceira região, com lojas, auditórios, salas de espetáculos, pavilhões de exposição, jardins, espaços para esporte e até um viveiro. A Feira Internacional Rashid Karami de Trípoli começou a ser construída em 1967 com uma expectativa de ficar pronta oito anos depois. No desenho de Niemeyer, a semelhança com o Parque Ibirapuera, inaugurado em 1954, era imensa. No entanto, a guerra civil se instalou no Líbano em 1975 e o projeto foi interrompido, assim como o sonho de modernidade representado pela obra do arquiteto brasileiro.
Meio século depois, a artista Alia Farid decidiu levar a Feira Internacional de Trípoli para o Parque Ibirapuera. Nascida no Kuwait, terra do pai, e criada em Porto Rico, pátria da mãe, Alia foi ao Líbano para filmar o complexo e realizar o vídeo que apresenta em setembro na 32; Bienal Internacional de Arte de São Paulo. A artista queria fazer um retrato da obra, mostrar que usos são feitos do local, um símbolo da esperança de modernização de um país que acabou frustrado pela guerra. A Feira Internacional nunca cumpriu o papel para o qual foi idealizada. Fruto de uma era de ouro no Líbano e no Oriente Médio, quando vários países, inclusive Iraque e Síria, investiram em grandes parques de exposições destinados a eventos internacionais, o projeto nasceu da vontade de unificação nacional. A realidade, no entanto, engoliu o sonho e a obra de Niemeyer, nunca finalizada, chegou a servir de caserna durante a guerra. Marcas de balas são uma constante nas construções do parque, assim como as ruínas das estruturas inacabadas.
Distribuído por 100 hectares, o complexo é hoje uma espécie de fantasma em uma cidade na qual convivem o antigo e moderno. Em Trípoli, segundo Alia, está uma das maiores concentrações de arquitetura mameluca, tipo de construção herdada de povo do mesmo nome que dominou parte do Oriente Médio na Idade Média. ;Trípoli é um exemplo incrível de cidade árabe que combina arquitetura medieval e moderna. Projetos como a Feira Internacional são absolutamente desconcertantes e fascinantes;, explica.
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