A música erudita brasileira carece de projeção no exterior e, para o pianista brasileiro Luiz Blumenschein, divulgar a produção nacional nunca é demais. Por isso ele não fez concessões em Inspiração brasileira, álbum que lança hoje em Brasília na Casa Thomas Jefferson com um recital da turnê A Música de Concerto no Coração do Brasil. Nascido em Goiânia e radicado em Manheim (Alemanha) há 34 anos, Blumenschein montou um repertório com obras carregadas de nacionalismo brasileiro e Heitor Villa-Lobos foi um ponto de partida.
Para o disco, ele escolheu o Ciclo brasileiro, um conjunto de quatro peças escritas por Villa- Lobos em 1936 do qual faz parte Festa no sertão, muito popular em repertórios de pianistas e orquestras brasileiros. Na sequência, Blumenschein gravou a Sonata para piano n; 3, de Claudio Santoro, e a Suíte n; 2 ; Nordestina, de Guerra-Peixe. Esta última reúne cinco peças profundamente enraizadas na cultura popular. A intenção foi ressaltar a característica nacionalista da música brasileira, particularidade marcante na obra de todos os compositores escolhidos para o CD.
Nacionalista, Bulmenschein faz questão de frisar, não quer dizer patriótico, mas algo que vem do povo, é natural e singular. E há uma enorme diversidade dentro desse nacionalismo. ;Já a música clássica, como é muito elaborada, muitas vezes se distancia desse singular, do que é singelo e fácil aos ouvidos. Sem dúvida o maior representante do nacionalismo brasileiro é o Villa-Lobos. Ele é exemplo dessa união de criatividade e singularidade. Guerra-Peixe e Claudio Santoro, que fugiram totalmente dessa simplicidade, voltaram à brasilidade, mas de uma forma distinta. Procurei juntar obras que mostrassem essa diversidade;, explica o pianista.
Dos três compositores ; os mesmos que integram o recital desta noite ;, Guerra Peixe é o menos divulgado. ;Ele é muito mais próximo de Santoro do que de Villa-Lobos. Particularmente, o acho muito mais nacionalista que os outros dois e a Suíte Nordestina é um exemplo disso. Guerra-Peixe viajou e pesquisou profundamente a música original das festas e manifestações populares nordestinas. Com certeza, vem daí sua originalidade;, acredita Blumenschein.
Para o pianista, Claudio Santoro era um homem à frente de seu tempo, sem medo de experimentar e criar obras nem sempre bem compreendidas, embora de vanguarda. ;Dentro do mundo musical ele é até mais respeitado do que Villa-Lobos, devido à elaboração de suas obras;, acredita. ;Ele foi um inovador e um experimentador. Santoro e outros compositores queriam criar outra corrente dentro do nacionalismo, com uma temática mais intelectual.; A singularidade brasileira também alimentou Villa-Lobos, mestre em juntar a brasilidade com o erudito. ;Ele criou obras memoráveis. Em Ciclo Brasileiro, nota-se a influência dos compositores russos nacionalistas Rimsky-Korsakov e Stravinsky;, repara Blumenschein.
O repertório brasileiro ainda é pouco conhecido no exterior, mas desperta curiosidade e surpresa. ;O europeu ainda é muito tradicionalista na música clássica e prefere o repertório tradicional;, lamenta o pianista. ;Isso pode ser explicado também pelo interesse econômico dos agentes produtores, que podem estar indo no caminho já percorrido, ;mais fácil, e oferecendo o que todos já conhecem.; Mas incluir repertório fora do padrão também pode ser vantajoso. ;É um público que, além de se interessar pela música, também quer saber mais sobre o compositor, o contexto de criação da obra, a história do país. Quando essa ;novidade; aparece, se vê o interesse e a alegria propiciada pelo que é ;novo;;.
A Música de Concerto no Coração do Brasil
Hoje, às 20h, no CTJ Hall Casa Thomas Jefferson Asa Sul (SEPS 706/906). Entrada Franca
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