Marcelo Adnet tinha a bênção de Jô Soares, o grande nome do horário noturno da Rede Globo. Desfruta de certa liberdade para achincalhar até a própria emissora, como já visto no elogiado Tá no ar: A TV na TV. Conseguiu, para o programa de estreia do Adnight, escalar figurões da casa para pequenas participações.
Apesar da estrutura a favor, a estreia de Adnight, nesta quinta-feira, patinou entre micos, clichês e perguntas ruins. Os primeiros minutos, com ritmo frenético, pareciam promissores: uma entrevista rápida com Marília Gabriela, um texto meio filosófico meio incompreensível de Pedro Bial (apresentador das primeiras edições do BBB já anunciado como substituto de Jô Soares), uma introdução em inglês de Joel Santana e tietagem de Tonico Pereira.
A entrada de Galvão Bueno com paródia de A história de uma gata, do clássico espetáculo infantil Os Saltimbancos, conseguiu arrancar uns risinhospiadas. "Nós Galvões já nascemos chatos, porém não nascemos ricos// No Rio, em Mônaco ou Londrina, eu batalhei para conquistar", cantado pela dupla, dava mostras de uma conversa sem freios. Parou por aí.
Ao entrevistar o narrador, o late show investiu na estratégia anacrônica de roubar risadas pelo constrangimento. Apesar de não despertar simpatia em muitos, ele tem anos de experiência e acabou de participar das transmissões da primeira Olimpíada sediada no Brasil. Em vez de explorar a trajetória dele - um dos alvos mais frequentes dos internautas e dos memes criados por ele -, Adnet apostou em perguntas superficiais.
Qual o ponto da carne que Galvão escolhe quando vai à churrascaria, durante um teste da amizade sobre o apresentador disputado por Arnaldo Cezar Coelho, Reginaldo Leme e Daniela Mercury, o nome completo de Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno (sim, é esse, caso alguém queira saber) e com quantos anos eles perdeu a virgindade foram alguns dos questionamentos feitos por ele, salvos por uma pergunta sobre casamento homossexual, defendido pelo narrador.
Os dois pisotearam uvas em um barril, vestiram roupas em estilo grego e até protagonizaram uma corrida em cima daqueles carrinhos em formato de animais disponíveis em shopping centers (como faz Jimmy Fallon). O clima insosso parecia prestes a enfrentar uma reviravolta quando Maurício Cid, do Não Salvo, foi convidado ao palco. Ele foi apresentador como o criador do meme "Cala a boca, Galvão", tomou o suco produzido por Adnet e Galvão e... foi embora, num claro desperdício.
Nas redes sociais, internautas reagiram ao programa. "Todo mundo odiando o novo programa do Adnet, segundo dados prévios da base de telespectadores da minha timeline", analisou um. Outro brincou que contrataram muitos contrarregras, mas esqueceram de escalar bons roteiristas para o Adnight. A sensação de assistir a um roteiro muito ensaiado, aliás, foi um dos incômodos provocados pelo programa.
O fato é que os índices em tempo real de medição de audiência em São Paulo mostravam o mesmo. O SBT liderava, às 23h48, com 11,8 pontos para o A praça é nossa. A Globo estava em segundo, com 10,9 pontos, seguida pela Record (6,6 pontos) e a Band (2,5 pontos). Na noite anterior, a estreia do Programa do Porchat, na Record, com Sasha e Wesley Safadão, ficou em primeiro lugar. "Em tenho 42 anos de televisão. Nunca paguei um mico desses", disparou Galvão Bueno, ainda no início da saga constrangedora da noite. A gente é obrigado a concordar.