Diversão e Arte

Morre Marc Riboud, cujas fotos viraram ícone no século 20

Definindo-se mais como fotógrafo do que como fotojornalista, ele gostava de levar o tempo necessário para capturar, em preto e branco, imagens de momentos cruciais

Agência France-Presse
postado em 31/08/2016 15:31
Definindo-se mais como fotógrafo do que como fotojornalista, ele gostava de levar o tempo necessário para capturar, em preto e branco, imagens de momentos cruciais
Mesmo quem ignora seu nome conhece suas fotos: o francês Marc Riboud, que morreu na terça-feira (30/8) aos 93 anos, fazia parte do grupo de fotógrafos cujas imagens são mundialmente conhecidas, como "Fille à la fleur", que mostra uma militante contra a guerra do Vietnã enfrentando as baionetas dos soldados.

A militante americana de "Fille à la fleur", Jan Rose Kasmir, que tinha 17 anos na época, prestou homenagem nesta quarta-feira ao fotógrafo que a converteu em um símbolo do pacifismo. "Que talento particular o mundo perdeu (...). Prometo que seguirei trabalhando pela paz em seu nome", escreveu Kasmir, que descobriu tardiamente a famosa foto, nos anos 1980, antes de se reunir com o fotógrafo.

Definindo-se mais como fotógrafo do que como fotojornalista, ele gostava de levar o tempo necessário para capturar, em preto e branco, imagens de momentos cruciais de um mundo em constante mudança.

Seu olhar, incomum, era capaz de captar mágicos instantes de graça, como em "Peintre de la Tour Eiffel", na qual o pintor parece dançar em meio às vigas metálicas acima de Paris, com um pincel na mão. Uma foto convertida em ícone da capital francesa. "Pode-se dizer que permanece em equilíbrio graças ao seu pincel. Eu não tenho nenhum mérito, a não ser ter subido a pé as escadas em caracol da Torre", comentou em 2009.

Foi depois de vender o negativo desta foto à revista americana "Life", em 1953, que o até então jovem engenheiro, na época com 30 anos, procedente de uma família da burguesia de Lyon (leste), se tornaria fotógrafo e conheceria Henri Cartier-Bresson e Robert Capa, que o convidaram a fazer parte da prestigiosa agência Magnum.

Em 60 anos de carreira, suas fotos foram publicas em inúmeras revistas, como Life, Geo, National Geographic, Paris Match e Stern. "Na maior parte do tempo olho, passeio, passeei muito", comentou certa vez.

Com cabelos brancos e um humor provocativo, defendia sua singularidade. "Não sou um fotojornalista, tampouco um artista, sou fotógrafo, e isso é tudo", repetia, acrescentando: "não sou sempre bom, mas tento".

Nascido em 24 de junho de 1923 perto de Lyon, em uma família de 7 filhos, irmão de Antoine, futuro fundador e presidente do gigante do setor agroalimentício Danone, e de Jean, que presidiria a Schlumberger (empresa de serviços petroleiros), Marc Riboud começou a fotografar aos 14 anos com uma câmera Vest Pocket preta utilizada por seu pai nas trincheiras da guerra.

Um compasso no olho

Durante a guerra, se uniu à resistência francesa perto de Vercors (sudeste), e após a disputa decidiu se dedicar plenamente à fotografia. "Nascido topógrafo, um compasso no olho", disse sobre ele seu mentor Cartier-Bresson, fazendo alusão a sua capacidade extraordinária de enquadrar e capturar as imagens.

Depois de mais de meio século de dedicação, Riboud, que sempre carregava uma câmera consigo, continuou fotografando o mundo de forma insaciável. Sempre com uma máquina tradicional. "Testei a câmera digital, uma tarde, uma vez", lembrava. Com 85 anos viajou aos Estados Unidos para imortalizar a chegada de Barack Obama à Casa Branca.

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