Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 04/09/2016 07:30
Nos 15 dias que se passaram, a capital recebeu 14 espetáculos de companhias nacionais, sete do exterior e oito locais em espaços que expandiram a caixa cênica para fora dos palcos. O público brasiliense lotou apresentações nos teatros da cidade, além de ruas, uma boate, um galpão e um barco no Lago Paranoá. As produções transitaram entre o Plano Piloto e diferentes regiões do Distrito Federal, ampliando as possibilidades de descentralização do eixo cultural da cidade.
O Cena Contemporânea convidou o público para refletir e debater as questões levantadas para além dos espaços de apresentação e Brasília foi palco para apresentações que transitaram entre o eixo político, social e de discussão de gênero. O festival confirma sua importância na cena artística da cidade e deixa como legado a certeza de que o teatro ainda é um importante espaço de reflexão.
Pedro Kosovski, integrante do grupo Aquela Companhia de Teatro (RJ) e autor da premiada peça Caranguejo overdrive, acredita que o teatro é um espaço cada vez mais potente, principalmente por sua característica principal: a presença física. ;Em tempos de relações cada vez mais midiatizadas e virtualizadas, o teatro tem essa relação física entre ator e público. É um espaço público de compartilhamento, de sensações, afetos e discursos. Acho isso muito potente e instigante do ponto de vista político, a possibilidade de formar, naquele espaço e tempo efêmero, novas possibilidades e pensamentos;, afirma o autor.
Para o artista, a experiência do corpo a corpo permite que diferentes sensações sejam percebidas pelo público, criando novos sentidos para as experiências próprias e com as percepções da realidade. Dessa maneira, o teatro teria essa função de criar e experimentar outras maneiras de discurso e de se colocar como importante espaço de questionamento.
Kosovisk afirma que é importante repensar o espaço do público, colocando-o em uma posição de protagonismo e criação. ;Atualmente somos bombardeados com informações e narrativas das mais diversas, é importante que o espaço cênico possa ser esse lugar possível de experimentar as narrativas de diferentes maneiras. É possível pensar em: como é possível ainda simbolizar algo em meio a essa enxurrada de narrativas que nos atravessam? Qual é o lugar do teatro? Como narrar algo?;, afirma o autor.
[SAIBAMAIS]
Pedro destaca ainda a necessidade de expandir a autonomia do público, criando outros meios de relação e recepção de novas ideias. ;Eu fiquei profundamente afetado em estar com esses espetáculos nesse momento aqui em Brasília, dessa efervescência política, nesse contexto o teatro tem que se politizar, criar outros modos de relação com o público, pensar de que modo ainda é possível mediar, simbolizar, no meio dessa avalanche de informações e narrativas que nos atravessam;, destaca o dramaturgo.