A sombrinha de frevo é um signo visual poderoso e demarca de forma eficiente uma parcela da identidade cultural do Recife e de Olinda. Evoca memórias e representa, como objeto, a escolha do frevo como patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco. A partir dela, o bailarino e professor de dança Junior Viegas imaginou uma ação talhada para aproximar a dança frevo da população, levando-a para ambientes variados e não necessariamente carnavalescos. O projeto de pesquisa e montagem de espetáculo Entre passos e sombrinhas, que começa suas apresentações hoje, em Serra Talhada, traz uma coreografia completa cujo fio condutor é a história desse adereço e como os foliões o integraram à folia.
A iniciativa, do Studio Viegas de Dança, engloba um espetáculo de 40 minutos e uma oficina, a serem apresentados oito vezes em cinco cidades: Recife, Olinda, Moreno, Gravatá e Serra Talhada. Um trecho de dez minutos dessa experimentação já havia sido mostrada ao público na 13; Mostra Brasileira de Dança, no mês passado. No total, dez bailarinos participam, com coreografia de Bhrunno Henryque e direção de Junior Viegas, professor no Paço do Frevo e da Escola Municipal de Frevo Maestro Fernando Borges.
Segundo o diretor, o início do frevo se confunde com o uso das sombrinhas, antes usadas em tamanho natural durante as evoluções. "A sombrinha começou a ser usada pelos ;capoeiras;, homens que acompanhavam as saídas das bandas militares no Carnaval do Recife no fim do século 19. Esses objetos eram usados como arma de ataque e defesa e o frevo, como dança, surgiu a partir desses homens pobres e taxados de violentos. Os foliões começaram a imitar os movientos dos capoeiras, que abriam caminho para as bandas e enganavam a polícia com seus passos. Dessa forma, surgiram os princípios do frevo".
O interesse cada vez maior das mulheres em participar, de acordo com Junior Viegas, fez com que as sombrinhas diminuíssem de tamanho já a partir dos anos 50. ;Isso se intensifica a partir dos anos 70 e traz novas possibilidades para o passo. Essa mudança também será mostrada no espetáculo;. A seleção do projeto pelo Funcultura é outro ponto levantado pelo fundador do Studio Viegas de Dança, em atividade há pouco mais de um ano no bairro de Campo Grande. ;Em festivais há sempre espaço para a dança popular, mas há outros espaços a serem ocupados, como editais. O fato de o projeto ter sido aprovado pelo Funcultura também é uma forma de mostrar como é possível investir nesse caminho;.