Um dos compositores brasileiros mais gravados no exterior, Marcos Valle comemora 50 anos de carreira em plena atividade. Para celebrar a data, ele está lançando, em parceria com o Canal Brasil, Live at Birland ; New York City, box com um CD e um DVD duplo, que inclui documentário, feitos com a cantora norte-americana Stacey Kent.
O show, que resultou no DVD e no CD ao vivo, foi gravado na Birdland, casa de jazz novaiorquina. Já o documentário, com direção de Charles Gavin (ex-Titãs), foi filmado entre Tóquio e Nova York. O CD traz faixa extra, Amando demais, parceria póstuma de Marcos e Vinicius de Moraes, numa versão em estúdio. A letra inédita do Poetinha foi guardada por Carlos Lyra, que em 2014 deu de presente para o compositor.
Artisticamente, o primeiro encontro de Marcos Valle e Stacey Kent ocorreu em 2011, quando fizeram dueto em Samba de verão, no show comemorativo dos 80 anos do Cristo Redentor. Eles já se conheciam e se admiravam mutuamente. A partir do duo, iniciaram a amizade que se fortaleceu com o Live at Birland. Os dois agora estão fazendo show pelo Brasil, divulgando o projeto, mas ainda não têm previsão de passarem por Brasília.
Como surgiu a possibilidade de realizar esse
projeto com a cantora norte-americana Stacy Kent?
Surgiu quando o Cristo Redentor estava comemorando 80 anos de construção, em 2011. Fizeram um show no Aterro (do Flamengo, no Rio de Janeiro), no Monumento dos Pracinhas, com vários artistas de diferentes estilos, e resolveram juntar a Stacey Kent com um artista brasileiro. Como Samba de verão é uma música muito famosa lá fora e a Stacey já havia gravado, promoveram esse encontro nosso. Foi um encontro rápido, mas surgiu uma grande amizade e o desejo de fazer algo juntos mais para frente. Logo depois, veio a oportunidade de um show no Miranda, casa de shows no Rio que havia sido inaugurada com show de Gal Costa. Essa casa me convidou para um show, mas sugeriram que eu levasse um convidado especial. Ela conhecia muitas músicas minhas e eu permiti que ela definisse o repertório. Nós decidimos gravar juntos um show, adoramos a gravação e mostramos para a Sony Music, que lançou em 2013 um disco nosso ao vivo. Em seguida, nós continuamos fazer shows no Brasil e fora e, por isso, decidimos gravar um DVD ao vivo e um documentário.
Qual é a história de Amando demais,
parceria póstuma com Vinicius de Moraes?
Entre 2012 e 2013, um jornalista descobriu uma letra inédita de Vinícius de Moraes. Tinha escrito no rodapé da letra o nome de Carlos Lyra. Ele fez uma grande surpresa para mim no dia em que o Vinícius faria 100 anos de idade. promoveram uma grande festa no Leblon e me entregaram a letra para eu fazer a música. O Miéle e a família do Vinícius estavam lá, foi muito legal. Fiquei muito feliz e fiz a música. Chamei o Carlinhos para ouvir, ele adorou e disse que parecia que eu Vinícius estávamos lado a lado.
Até que ponto a formação como pianista lhe deu suporte
para compor clássicos da bossa nova e outras canções?
Primeiro, me deu todo o conhecimento de música e desenvolveu o talento, me permitiu tocar músicas de Ravel, Chopin, Beethoven e por aí vai. Aquelas harmonias me influenciavam muito e foi ampliando meu conhecimento musical e estético. Além disso, o piano me permitiu a técnica digital, que me permitiu fazer músicas mais rápidas, que exigem uma rapidez de dedilhado, de digital.
Que importância teve para você, no início da carreira,
ter se juntado a Edu Lobo e a Dori Caymmi num trio?
Estudei com o Edu no colégio Santo Inácio quando tinha 12 ou 13 anos. Depois, já com 19 anos, acabamos tendo um encontro eu, ele e o Dori, que eu não conhecia. Além de termos feito um trio e desenvolvido ideias juntos, isso me permitiu que começasse a frequentar grandes rodas de música. Uma dessas, por exemplo, foi na casa de Vinícius de Moraes, onde estava Lula Freire, que era letrista e ouviu minhas músicas e me chamou para uma reunião na casa dele. Lá mostrei Sonhos de Maria. O Tamba Trio adorou a música e resolveu gravar. Ali começou minha carreira.
A parceria com seu irmão Paulo Sérgio Valle
foi a de maior produtividade?
Foi de muita produtividade, pois da década de 1960 a 1980 fizemos muita coisa juntos. Embora eu também fizesse músicas com outros autores como Milton Nascimento, Nelson Motta, Vinícius Cantuária, a maioria era com o Paulo. Estávamos sempre juntos, sabíamos exatamente o que estava na cabeça um do outro.
Quantas canções vocês fizeram em parceria?
Acho que pelo menos umas 300 músicas. Eu tenho umas 600 músicas e acredito que a metade foi em parceria com o Paulo.
Que outros parceiros você destaca em sua carreira?
Eu tenho muitos, é até difícil lembrar de todos. Começando pelo início da carreira,Novelli, Edu Lobo, Nelson Motta, João Donato, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Luiz Carlos da Vila, Lulu Santos, Joyce. Recentemente teve Arlindo Cruz e tem uma parceria a caminho com Paulinho da Viola. São todos sempre muito bem-vindos.
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