Diversão e Arte

'A cidade onde envelheço' é consagrado como grande vencedor do Festival

O filme confirma a produção feminina integrada por Marília Rocha e Luana Melgaço, parceiras na produtora Anavilhana

Ricardo Daehn, Adriana Izel, Rebeca Oliveira
postado em 29/09/2016 07:30
O filme confirma a produção feminina integrada por Marília Rocha e Luana Melgaço, parceiras na produtora Anavilhana
O longa-metragem A cidade onde envelheço, de Marília Rocha, foi consagrado como o grande vencedor do Festival de Brasília. A fita mineira, feita em coprodução com Portugal, levou Candangos em quatro categorias. O filme, que deve entrar em circuito comercial em 2017, acompanha a história e a relação das amigas Teresa e Francisca, em Belo Horizonte. ;São duas personagens que tiveram que mudar de país, porque veio um governo de direita, que mandava as pessoas embora. Por isso, há um conteúdo político dentro do próprio filme. Refletimos isso no longa, com uma história particular e íntima. O filme tem uma fala política não declarada;, define João Matos, produtor que representou o filme no dia da premiação.

Apesar da quantidade de prêmios, Marília não esteve presente, por causa do nascimento do filho. Também não estiveram presentes as atrizes Elisabete Francisca e Francisca Manuel e o ator Wederson Neguinho ;; todos vencedores de prêmios Candango. ;Sinceramente, eu só esperava mesmo que as atrizes levassem a premiação pela forma da interpretação delas. Só de estar em um festival como esse é algo grande, sair vencedor é uma alegria enorme;, conta Matos.

O filme confirma a produção feminina integrada por Marília Rocha (direção e roteiro) e Luana Melgaço (produção), parceiras na produtora Anavilhana. ;É importante reivindicar e nunca abrir mão de que as mulheres tenham acesso a fazer filmes, bem como os homens mais velhos, gays, negros... A barreira de limitar a realização para mulheres apenas em documentários e curtas têm que ser destruída;, completa Matos.

Teor político

O documentário Martírio, de Vincent Carelli em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita sobre a retomada dos territórios dos índios Guarani Kaiowá, foi aclamado tanto por público quanto por júri levando dois prêmios (Prêmio Especial do Júri e Prêmio do Júri Popular). ;Acho que fui premiado duas vezes pelo público e isso é o mais importante. O prêmio mais adequado é esse. É um filme de sensibilização;, analisa o diretor.

Sobre o teor político do Festival, que acumulou falas de ;Fora Temer; antes de todas as exibições e também durante os agradecimentos aos prêmios, Carelli disse que achou bastante importante de ter essa discussão dentro do evento. ;É um momento político muito difícil. Parece que estão desconstruindo o Brasil. Mas a gente vai reconstruir esse país. A história dirá;, acrescenta.

As críticas ao atual governo vieram também de Davi Pretto, diretor de Rifle, longa sobre uma família em uma região rural e vencedor das categorias de melhor som e roteiro. ;Não dá para vir um governo e mudar tudo. É essencial não retroceder depois de tudo que levamos anos para construir;, afirma. Pretto ainda falou sobre a necessidade das leis de incentivo à cultura no mercado audiovisual: ;Não existe indústria sem incentivo governamental. Siderurgia, automobilística, qualquer setor tem esse fomento, por que, na cultura, é visto como algo errado?;.

Depoimento Luana Melgaço, produtora de A cidade de onde envelheço

Estamos muito contentes com os prêmios, foi uma noite emocionante. Estivemos acompanhando à distancia, Marília em Belo Horizonte e eu em Aiuruoca, onde estou filmando um projeto novo (Coiote, de Sergio Borges).

A premiação do júri oficial de Brasília é o resultado do reconhecimento do trabalho da Marília, diretora talentosa e com mais de 10 anos de trajetória no cinema. Às atrizes Francisca Manuel e Elizabete Francisca pela entrega ao filme e à proposta da diretora, numa relação muito bonita de confiança absoluta. É também fruto de um processo de trabalho, e da parceria com uma equipe competente, comprometida e amiga que trabalhou no Brasil e em Portugal, desde 2012 até agora.

Para além da emoção e do reconhecimento ao filme, acredito que os prêmios trarão ainda mais fôlego para o seu lançamento comercial, que está previsto para o primeiro semestre de 2017, pela Vitrine Filmes. Temos uma agenda cheia de exibições em festivais fora do Brasil ; Biarritz, Chicago, DocLisboa ; e pretendemos circular em festivais brasileiros para lançá-lo comercialmente no ano que vem. Ontem recebemos a noticia que temos o apoio do Fundo Setorial para distribuição.

Estar no festival de Brasília neste ano foi muito forte. Competimos com filmes potentes, de realizadores que admiro e um trabalho de curadoria muito cuidadoso e apurado. Foi um festival renovado, e também atento ao momento político brasileiro, evidente durante as exibições, nas manifestações e contestações de grande parte dos realizadores a um governo ilegítimo. Para nós mineiros, também foi uma oportunidade de chamar atenção para a falta de financiamento e de diálogo com o governo do Estado sobre o fim do edital Filme em Minas, que financiou os dois longas metragens em competição. O edital foi encerrado, sem consulta e sem explicação para a classe cinematográfica mineira.

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