José Carlos Vieira
postado em 29/09/2016 07:30
O foyer do Cine Brasília ainda estava vazio para a cerimônia de premiação do 49; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Jean-Claude Bernardet, pesquisador, crítico, cineasta e ator conferia com alguma dificuldade a agenda telefônica do celular. Interrompido, lançou um olhar tímido e distante para o repórter que insistia em entrevistá-lo desde o início do festival, uma semana antes ; pelo dever do ofício e pela extrema admiração por uma das personalidades mais marcantes do cinema brasileiro.
Ainda com o peculiar sotaque e humor franceses, e econômicos nas respostas, conversou com o Correio poucas horas antes de ser agraciado com a medalha Paulo Emilio Sales Gomes, a partir de agora a maior honraria oferecida pelo Festival de Brasília a figuras de destaque do cinema nacional.
ENTREVISTA / Jean-Claude Bernardet
Qual sua avaliação desta edição do Festival de Brasília?
A curadoria ótima, as sessões bem-compostas, o festival reata sua vocação original de resistência cultural e política.
Qual a contribuição do cinema para evitar retrocessos culturais?
Não acredito que o cinema, em si, mude, como o teatro não muda, nada sozinho. Mas articulado com movimento sociais e com outras ações aí sim, porque ele pode levar informações, documentar ações, pode fazer com que atos ocorridos em algum lugar sejam vistos por outras pessoas em outras áreas. Mas não creio que um filme em si vai mudar alguma coisa. Ele pode proporcionar discussões, debates, como todas as expressões, como o teatro
Em outros momentos históricos, o controle dos equipamentos, das matérias-primas dos filmes eram muito mais centralizados nas mão do Estado. Hoje em dia, temos a internet as novas tecnologias que auxiliam os cineastas a divulgar suas obras. Isso ajuda a libertar o cinema?
Não sei. Atualmente, há um movimento de migração de muitos diretores para minisséries. E isso exige grandes investimentos. É uma verdadeira produção industrial.
O cinema brasileiro está consolidado como linguagem ou ainda é um arremedo hollywoodiano?
Faz alguns anos que comecei a ficar cego, portanto meu acompanhamento do cinema brasileiro é bem relativo. Posso dizer que vejo aproximadamente 50% dos filmes que via antes, não mais do que isso. Por outro lado, eu questionaria a expressão ;cinema brasileiro;, porque, eu acho que se deve pensar mais numa diversidade, numa multiplicidade da produção nacional.