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Uma das artistas da nova geração da música nacional, a paulista Paula Cavalciuk, depois de lançar o EP Mapeia, decidiu se inscrever no ProacSP (incentivo à cultura do estado de São Paulo), com a verba conseguiu lançar o primeiro CD da carreira, intitulado Morte & vida, que está disponível nas plataformas digitais. ;Há dois anos comecei a apresentar um show chamado músicas impróprias, num formato acústico de voz e violão. No ano seguinte, produzi meu primeiro EP até que veio Morte & vida;, lembra a cantora.
Contando com a ;cara de pau; de Paula, o álbum teve produção de Gustavo Ruiz, irmão de Tulipa Ruiz, e Bruno Buarque. ;Deu uma de ;caruda;, mandando inbox e foi meio assim que eles produziram meu álbum;, afirma. O material reúne 11 faixas, todas escritas pela artista. ;No fundo acho que a composição é um lance de desabafo. Quando você tem uma visão, às vezes não basta só falar sobre aquilo;, completa.
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Ao melhor estilo do disco Dancê, de Tulipa Ruiz, Morte & vida mistura influências de diferentes gêneros musicais, desde tango a maracatu, além de criar ;novos clichês; nas letras das músicas, como em Gangorra quando Paula diz ;com quantos paus se faz uma gangorra;. ;Eu gosto de ressignificar as coisas. Não é tentar reinventar a roda, mas pegar alguma coisa e torná-la minha;, define a cantora, que diz fazer um pop planetário. ;Elas podem ser cantadas de qualquer forma e me sinto bem as cantando em qualquer lugar do planeta.;
Entrevista // Paula Cavalciuk
Como a música se tornou parte da sua vida?
A música sempre esteve presente na minha vida, seja ouvindo os discos do meu pai ou ouvindo minha mãe cantarolar. Eu pensei que eu poderia me comunicar por meio da música e isso se deu. Sempre tive muito problema de autoconfiança, por esse lance de ser caipira (a artista é do interior de São Paulo). Quando eu falo que sou uma pessoa tímida as pessoas se surpreender. Mas é porque no palco estou convicta do que estou fazendo, mas até chegar a esse ponto foi bastante doloroso.
Como foi esse processo até se tornar cantora?
Na minha infância, eu não ouvia rádio. Só tinha acesso aos discos do meu pai e a música que minha mãe cantava. Eu e minha irmã cantávamos na igreja junto com a minha mãe. Eu tinha uma vontade imensa de sair do interior, eu não queria viver naquele marasmo, então fui morar em Sorocaba (SP), onde mora há 10 anos. E Sorobaca tem essa mentalidade fábril. Com 19 anos, eu fui bombardeada com essa coisa do mercado de trabalho competitivo. Eu pensava: ;o que vou fazer aqui?;. Fiz um curso técnico, mas fiquei batendo cabeça até que comecei a cantar em bares, formaturas, interpretando coisas que já eram feitas, mas pensava: ;pelo menos estou fazendo música;.
Em que momento sua carreira por essa virada do cover para o autoral?
Esse lance de cantar minhas próprias músicas é algo recente. Comecei a ser voluntária num coletivo cultural Rasgada coletiva, que fazia um evento às segundas para bandas autorais. Antes as pessoas não tinha essa cultura de sair na segunda. Eu tava ali trabalhando, vendo as bandas se apresentando, um público aberto... Eu tinha minhas próprias músicas e o pessoal que tava produzindo acabou me influenciando a fazer parte disso. Depois eu participei como voluntária do projeto Girls Rock Camp, que forma bandas de jovens de 7 a 17 anos. Eu doutrinava as meninas para ter autoconfiança. Eu estava pregando isso, mas não vivia o que eu dizia.
Como você vê o cenário da música independente hoje no Brasil?
É um cenário que está muito em construção. É difícil dizer algo definitivo. De repente estou falando algo agora e surge uma nova rede que possibilita outro contato com o público e uma nova forma de divulgação de trabalho. A internet proporciou que muita gente produzisse coisas que há dez anos não eram possíveis. Não tem muita a receita. Há uma oferta maior, mas também há o lado que às vezes fica difícil o artista ser filtrado pelo público. Eu ainda acredito que se aquilo for a sua verdade, você obterá sucesso.
Você conhece Brasília? Tem chance de trazer a turnê do disco para a cidade?
Fui alagumas vezes a Brasília. Em 2014 fui mais a Brasília do que a São Paulo. No ano passado estive na cidade em dois eventos, um dia num show no Setor de Mansões fazendo um evento de um coletivo cultural e outro numa ocupação em Taguatinga, o Mercado Sul. Foram duas experiências distintas e tão importantes. Também lembro que fiz eventos corporativos e um show com o repertório de Dolores Duran. Foram experiências muito verdadeiras com Brasília.
Crítica // Morte & vida ###
Em Morte & vida, Paula Cavalciuk estreia no mundo da música "chutando a porta". O disco mostra que ela poderá estar lado a lado com os nomes da nova geração da MPB, como Tulipa Ruiz, Karina Buhr, entre outras, em breve. Inclusive, é difícil escutar Morte & vida e não se lembrar Dancê. A sensação de querer se mexer é a mesma nos dois CDs. Semelhança que pode ser justificada até pela presença de Gustavo Ruiz e Bruno Buarque na produção do álbum. Além da mistura de influências musicais, que fazem o CD ter de tudo um pouco, outro fator interessante são as quebras de algumas frases clichês utilizadas por Paula em suas composições. Em Morte & vida, canção-título, onde a paulista canta Morte e vida interina, o cérebro logo lembra de "morte e vida Severina", do escritor João Cabral de Melo Neto. O mesmo vale para Gangorra, em que o óbvio seria dizer "com quantos paus se faz uma canoa", em vez de uma "gangorra", como propõe Paula Cavalciuk. Morte & vida é um ótimo disco de estreia. Que Paula ainda brilhe muito!