Irlam Rocha Lima
postado em 02/10/2016 07:41
Empoderamento, expressão tão em voga atualmente, quando utilizada por pessoas do sexo feminino, consiste na concepção do poder pelas mulheres, como forma de exigir equidade de gênero, nos variados tipos de atividades sociais, de modo democrático e responsável. Esse conceito luta por uma mudança na dominação tradicional dos homens sobre as mulheres, garantindo-lhes autonomia no que se refere ao controle dos seus corpos, de sua sexualidade, da sua liberdade ; inclusive para se expressar artisticamente. São ;empoderadas; mulheres, com atuação em diferentes segmentos da música de Brasília, que mostram atitude, deixando claro possuírem totais condições de idealizarem e desenvolverem ações projetos culturais, nos quais se colocam como protagonistas. O Correio foi ao encontro de algumas delas e para as quais abre alas.
Gabriela Tunes
Flautista dos grupos Época de Hoje e Seresteiras, e uma das líderes do Quem desligou o som?, Gabi, como é chamada pelos amigos, diz que a ideia do movimento é discutir a razão pela qual os espaços para a música em Brasília estão sendo fechados, por conta da lei do silêncio; estudar e propor estratégias para reverter a situação. ;Em reuniões no Senhoritas Café, na 408 Norte, criamos uma minuta de projeto de lei e disponibilizamos na internet. Conversamos com todos os deputados distritais, já houve duas audiências públicas e foi criada uma comissão geral para discutir o tema. O deputado Ricardo Vale, que protocolou o projeto, nos disse que em breve ele será votado, prevendo algumas mudanças na forma de como aferir a emissão de ruídos e os limites da intensidade sonoridade permitida; assim como nas penalidades, para que a lei se torne passível de ser cumprida;.
Rebeca Dourado
Formada em artes cênicas pela Universidade de Brasília, essa brasiliense, há quatro anos é produtora da cantora Clara Nogueira e tem organizado algumas rodas de samba em casas noturnas da cidade como Feitiço Mineiro (306 Norte), Ô de Casa (206 Norte) e Outro Calaf (Setor Bancário Sul). Ela conta que neste ano, no Dia Internacional da Mulher (8 de março), acompanhando Clara em algumas rodas de samba, percebeu que todas elas eram essencialmente masculinas; com as mulheres sempre como convidadas, ;como se o samba não as pertencesse de fato;. Rebeca chama a atenção também para o fato de os homens não perceberem as mensagem machistas, e por vezes depreciativas, contidas nas letras dos sambas. A partir daí, passei a conversar com a sambista Elizabeth Maia, que também me falou de sua inquietação em relação a isso. Para fortalecer o espaço das cantoras no samba e dar visibilidade a elas, tomamos uma atitude. Criamos um grupo de WhatsApp, como espaço de troca sobre esse sentimento. Dessa movimentação surgiu em 29 de abril a Mulheres de Samba, uma roda que reuniu em 27 de maio, no Outro Calaf, 60 sambistas e teve a presença de 300 pessoas. Já houve outras duas reuniões, no mesmo local, todas muito concorridas;.
Ana Cecília
Em 1999, Ana Cecília e Elen compositoras e MCs criaram o Atitude Feminina e hoje, nome de destaque na cena do hip-hop brasiliense e nacional. ;Eu cantava numa banda na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em São Sebastião. A Elen tinha um grupo de rap, que estava precisando de uma backing vocal e me convidou. Eu já conhecia hip-hop, porque meu tio é escutava muito. Minha estreia no Atitude Feminina foi no festival Abril pro rap, em Sobradinho, no qual nos classificamos em segundo lugar;, lembra Ana. Desde então o grupo mantém-se em frequente atividade, participando de eventos na capital e em outras cidades brasileiras. ;Em 2002 conquistamos o Prêmio Hutuz. em festival promovido pela Central Única das Favelas (Cufa), no Rio de Janeiro, na categoria feminina com a música Rosas, que deu nome ao nosso primeiro CD. Ana e Elen, que têm Rafa Santoro como produtor, foram premiadas também na edição de 2003 do Abril pro rap, com Desistir jamais, título dado ao segundo álbum. ;Rosa é a nossa música de maior sucesso, e a letra dela foi usada por três anos seguidos na prova de português do PAS. Tem a ver, pois o público que nos acompanha é formado basicamente por adolescentes. Temos no Rio de Janeiro, São Paulo e até em Cabo Verde, na África, onde já nos apresentamos;, revela Ana.
Tatá
Esse é o nome artístico de Renata Weber Gonçalves que possui doutorado em saúde mental e psiquiatria e mestrado em antropologia, e que há três anos conheceu Daniela Gontijo (Danú), doutora em bioética. Desde então, passaram a desenvolver paralelamente um projeto musical, que resultou no CD O leve, produzido e arranjado por Wilson Bebel, com 14 faixas. São ritmos brasileiros como samba, forró e maracatu, além de canções que ganharam arranjos de Wilson Bebel e se destacam, segundo o poeta Tito Freitas, pelo refinamento das letras. ;Leve, por exemplo, é uma oração cheia de rimas de trava-língua, que foi gravada também pela banda de rock Talo de Mamona e ganhou uma versão instrumental do Duo Alvenaria ; uma versão para pife e pandeiro. Lavadeira canção com sotaque mineiro, harmonicamente lembra composições do pessoal do Clube da Esquina. Já Eu vou pro samba é a face mais política do disco;, revela Tatá. Ela e sua parceira fazem parte do Coletivo Do Quadrado, formado por artistas independentes, que vêm movimentando o Teatro Garagem com shows, recitais de poeisia e exposição de artes plásticas. Ah, sim, as duas trabalhavam no Ministério da Saúde, mas trocaram a burocracia do serviço público pela música.
Nat Alien
Paraense, cujo nome de batismo é Natália Afonso, cresceu em Belém rodeada por ritmos como carimbó, lundu e techno brega. Em 2013, aos 18 anos mudou-se para Brasília, onde a arte continuou fazendo parte do seu cotidiano. No Centro Educacional Elefante Branco, onde concluiu o ensino médio, nos intervalos das aulas participava de rodinhas de violão. Na Escola de Música tomou parte em saraus de poesia e no Beco Cultural Mercado Sul (Taguatinga), fez apresentações com seu personagem Cigana. Mais tarde, se juntou à também cantora Laís Hipólito e a percussionista Fernanda Pinheiro no grupo Turbanas, responsável por um dos trabalhos mais instigantes no cenário da música brasiliense. ;Criamos uma mistura sonora que inclui soul, charme, samba e jazz e propomos construir uma identidsde musical/artística, enquanto grupo de mulheres, imprimindo personalidade e tons próprios;, explica Nat. Já levamos nosso som a diferentes locais. De estação do metrô à Universidade de Brasília; da Ação Lésbica, no Conic ao sarau da Roda das Mulheres, na Universidade Católica; da Casa Dandara, em Ceilândia, à Sala Cássia Eller da Funarte. Participamos também do Projeto do Quadrado, no Teatro Garagem do Sesc;, acrescenta.
Karen Barreira
Profissional da música há 10 anos, essa brasiliense nascida em Ceilândia é um dos raros destaques femininos da música sertaneja na capital. Com o ex-marido Kleuton gravou dois discos, o Genuinamente caipira e o Viola permanece, com os quais conquistaram o prêmio da Música Brasileira de 2011 e 2012, durante solenidade no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Com o fim do casamento a dupla se desfez. Em seguida, Karen juntou a voz à de Pamela Viola e em 2014 as duas lançaram o CD Amor distante, vencedor do Prêmio Profissionais da Música no ano seguinte. ;Quando comecei a cantar haviam pouquíssimas mulheres formando dupla e mesmo fazendo shows na música sertaneja no país. Em 2011 criei a Viola Produtora e passei a desenvolver um projeto cultural, para a gravação de disco de duplas pouco conhecidas, no estúdio GR1, em Taguatinga. Mas temos gravado também CDs de duplas com nome, como Zé Mulato & Cassiano e Pero Paulo & Matheus;, conta. ;O meu exemplo e o de outras mulheres, em diversos segmentos da música em Brasília, são uma prova de que temos condições de fazer história no campo da arte, em igualdade de condições com os homens;, acrescenta.