Diversão e Arte

Tem gringo no choro! Conheça estrangeiros que estudam música brasileira

Japonês no cavaquinho, francês no pandeiro e canadense no bandolim estão na capital para aprender mais sobre o ritmo nacional

Pedro Azevedo Silva - Especial para o Correio
postado em 05/10/2016 09:18
Jesse Rivest: ele estuda bandolim na Escola de Música de Brasília

Embora o canadense Jesse Rivest, 39, tenha se envolvido com uma brasileira que conheceu na Nova Zelândia, foi Brasileirinho (2005), filme do finlandês Mika Kaurism;ki, que o arrebatou. ;Meu primeiro trabalho na Nova Zelândia foi em um cinema independente, e os dois primeiros filmes que assisti foram Borat e Brasileirinho;, conta. ;Vi esse filme e fiquei enamorado, especialmente com a música e as cenas do Rio de Janeiro. O percussionista Marcos Suzano apareceu no filme, gostei muito do pandeiro e do bandolim;, declara-se.

[SAIBAMAIS]Foi o bandolim, aliás, que o canadense escolheu para estudar na Escola de Música de Brasília, cujas aulas frequenta há um ano e meio. Antes de se mudar para a cidade, no entanto, aventurou-se pelo pandeiro e pela Argentina. Lá, comprou o instrumento de percussão e tornou-se assíduo na embaixada brasileira em Buenos Aires, onde, duas vezes ao mês, assistia a rodas de choro.

Brejeiro, primeiro tango brasileiro de Ernesto Nazareth, publicado em 1893, foi uma das peças que o capturaram. ;É uma música que não toco ainda, mas quero um dia;, diz Rivest, músico há 20 anos, e que tem na voz e violão a dupla de instrumentos mais habitual em suas apresentações.

Há uma década divulgando música brasileira, sobretudo o choro, no exterior, o violonista Henrique Neto, do grupo Choro Livre, relaciona a aceitação desse ritmo lá fora à sua estrutura, oriunda de estilos do continente europeu, como a valsa e a polca. ;O choro é formado pela fusão da música africana e da europeia, então quando tocamos na Europa sinto que eles estão ouvindo algo que também é deles;, conta o instrumentista, que é vice-diretor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, ligada ao Clube do Choro, onde estudam 13 estrangeiros.

Paixão e choro

A primeira tomada de decisão do francês Philippe Thévenoux, 52, ao chegar a Brasília para trabalhar na Delegação da União Europeia, foi, segundo conta, ir ao Clube do Choro, numa quinta-feira de dois anos atrás. ;Me apaixonei por esses conjuntos de instrumentistas, a forma de uma variedade de instrumentos tocar junto;, diz sobre as rodas de choro.

Admirador não só do choro, mas de todo o complexo musical do país, Philippe se encontrou com o Brasil, há mais de 20 anos, por meio da música. ;Comecei a aprender realmente da cultura a partir desse interesse. Fiz muitas oficinas de canto, fiz parte de corais e grupos vocais com música brasileira. Tenho paixão por música brasileira. É muito presente em minha vida;, comenta o engenheiro agrônomo, que atua como baixo no Coral da Universidade de Brasília.

Na escola do Clube do Choro, o francês optou pelo pandeiro, por considerá-lo de mais fácil aprendizado e um melhor caminho para compreender a estrutura, os módulos e os fundamentos rítmicos de estilos como o choro, o baião e o maxixe. ;Na França, poucos sabem o que é o choro e não se toca o pandeiro do mesmo jeito que no Brasil. Não sai tanto de um público de crianças ou jovens, é uma coisa mais infantil;, diz sobre o tambourin, o pandeiro francês.

Musicalidade brasileira

Após dez anos morando nos Estados Unidos e outros cinco na China, a holandesa Anna van der Heijden, 42, chegou a Brasília há nove meses, onde trabalha com revisão de textos em inglês. Recentemente, se inscreveu no curso de música e cultura popular brasileira oferecido pela Escola Brasileira de Choro. ;A professora disse que a música daqui tem influência indígena, portuguesa e africana. Na aula passada, uma pessoa que nasceu na Amazônia falou da cultura de lá, e também cantou;, relata.

Anna diz que já conhecia um pouco de MPB e samba, mas ainda não havia ouvido falar de outros gêneros, como choro e forró. ;Eu gosto de choro, mas ainda é difícil saber que tipo de música está tocando. Para mim, simplesmente tudo é música brasileira;, conta, aos risos. ;Por isso, queria usar as aulas para entender e apreciar melhor a música do Brasil;, emenda.

Nascida em San Francisco, a norte-americana Janae Millon, 25, viveu metade da vida no Brasil, após o pai, antropólogo, vir pesquisar a capoeira por um ano, mas acabar se fixando aqui. Hoje, ela estuda acordeon na Escola de Música de Brasília. ;Muitos me perguntam por quê continuo no Brasil, e também têm essa visão com a música, de eu preferir as daqui, sendo que as que tocam na rádio costumam ser dos Estados Unidos. Dentro de uma visão mais antropológica, me sinto influenciada em ter um olhar diferente para o povo e a cultura brasileiras;, diz.

Para ler a matéria completa, clique aqui. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação