Diversão e Arte

Cláudio Ferreira lança obra sobre censura das novelas na ditadura

Apesar de o tema parecer antigo, Cláudio acredita que a discussão sobre a censura é atual

Alexandre de Paula
postado em 15/10/2016 07:30

Apesar de o tema parecer antigo, Cláudio acredita que a discussão sobre a censura é atual

Foi a dica de um amigo que despertou a vontade do jornalista e escritor Cláudio Ferreira em ir ao Arquivo Nacional estudar a censura nas telenovelas. ;Ele já havia pesquisado lá e me disse que existia muito material sobre televisão. Fui e, de fato, era muita coisa;, lembra. Foram seis meses de pesquisa que geraram o livro Beijo amordaçado ; A censura às telenovelas durante a ditadura militar. Ele lança a obra hoje, às 17h, no Espaço Cultural Alexandre Inneco, na 116 Norte.

O interesse por novelas, no entanto, já vem de muito antes. ;Estudo novelas há 10 anos, é um assunto que sempre me interessou;, conta. No Arquivo Nacional, ele encontrou 157 caixas de documentos sobre a censura em telenovelas no período da ditadura militar. ;É uma coisa imensa. E só o índice é digital, então eu passei a manhã toda, em três dias da semana, durante seis meses, para fazer essa pesquisa;, lembra.

Cláudio conta que a pesquisa permitiu concluir que, nas telenovelas, a censura ocorria muito mais em aspectos morais do que políticos. ;A primeira grande conclusão é que há menos coisas sobre a parte política, talvez porque os autores já soubessem que era mais difícil de ser liberado e evitassem esses temas;, supõe.

A maior parte do material, constatou Cláudio, trata de assuntos que eram considerados inadequados, segundo os censores, por aspectos comportamentais. ;Eram temas relacionados à moral, assuntos de gravidez precoce, adultério, toda a parte sexual, beijo, namoro, sexo antes do casamento... Do material que eu vi, fazendo uma estatística aproximada, uns 70% eram dessa parte de moral e 30%, da parte política;, revela.

Outra surpresa que Cláudio teve foi que as emissoras mantinham salas em que os censores assistiam aos episódios das produções. ;Eu achava que as emissoras mandavam o material, as gravações, e depois eles devolviam. O que eu vi é que as emissoras, as sucursais aqui em Brasília tinham uma salinha; os censores é que iam lá;, explica. ;Eles mandavam os capítulos escritos, mas mantinham essa sala. Isso é muito estranho, uma coisa é você mandar e nem ver a cara do censor. Outra coisa é ele ir na própria emissora;, comenta.

Casos clássicos
Durante a pesquisa, Cláudio Ferreira pôde analisar também alguns casos icônicos da censura na televisão. Um deles foi Roque santeiro. Escrita em 1975, a novela só foi exibida em 1985 por conta da censura. Cláudio conta que as razões para a decisão de não exibi-la não ficaram claras.

;Nos documentos da censura, não há nada que diga que ela foi proibida. A impressão que dá é que ela foi tão cortada que ficou inviável. Nenhum texto diz explicitamente que foi proibida;, explica. A indefinição, no entanto, deixa margem para dúvidas. ;A gente não sabe se foi uma decisão da emissora ou se houve algum documento que não está lá;, conclui.

Outro fato que Cláudio percebeu nas pesquisas foi que a censura se preocupava também com a popularidade do ator. ;Em Fogo sobre terra, por exemplo, eles pediram atenção à personagem de Regina Duarte. Eles tomavam mais cuidado com atores populares.;

Apesar de o tema parecer antigo, Cláudio acredita que a discussão sobre a censura é atual. ;Hoje você tem uma onda muito conservadora, que muitas vezes tem um desejo de censurar algumas coisas, que censuraria se pudesse. Isso é muito perigoso e é o que acontecia lá, pelas mãos do Estado; uma só visão das coisas determinava o que poderia ou não ser produzido;, acredita.

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Beijo amordaçado
Lançamento do livro Beijo amordaçado, do jornalista Cláudio Ferreira. Hoje a partir das 17h, no Espaço Cultural Alexandre Innecco (116 Norte Bl. A lj. 74).

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