Diversão e Arte

Aerosmith prova ainda ser tóxico na beira dos 70 anos em São Paulo

A banda se apresentou diante de 45 mil pessoas. É possivelmente uma despedida da banda em São Paulo. Em 2017, o Aerosmith dá início a uma turnê de adeus, que passará pelo Rio de Janeiro, quando tocarão no Rock in Rio

Agência Estado
postado em 16/10/2016 16:44
São 46 anos de estrada. Se esse tempo ensinou algo a Steven Tyler e seu Aerosmith foi como fazer uma boa apresentação ao vivo. Diante de 45 mil, a lotação do Allianz Parque, a banda entregou aquilo que sempre se espera de uma performance do grupo - e incluam aí os gritinhos, ainda que roucos, de Tyler, e a guitarra afiada de Joe Perry. Nos anos 1970, a dupla que lidera o grupo ganhou o apelido de Gêmeos Tóxicos. Ainda o são, numa versão quase septuagenária, é verdade.

É possivelmente uma despedida da banda em São Paulo. Em 2017, o Aerosmith dá início a uma turnê de adeus, que passa pelo Rio de Janeiro (eles foram anunciados como atração do Rock in Rio) e, se nenhum show por aqui for anunciado, às vezes por questões contratuais de exclusividade com o festival carioca, essa talvez seja a última vez que Tyler, Perry e companhia se apresentaram na capital paulista.

Os 68 anos nas costas e as quatro décadas de esgoelamento nos palcos do mundo afora, é claro, cobram seu preço para Tyler. Não dá para se esperar que sairá daquele bocão as notas agudas de outrora - e que o fizeram famoso, a ponto dele ser credenciado como um dos jurados do reality show musical American Idol. É preciso aquecer o gogó.

E mandar Cryin; logo como segunda música da apresentação é algo delicado. Tyler não foi capaz de alcançar as notas mais altas e se segurou graças aos backing vocals seguros que vinham do fundo do palco. Não que os fãs tenham se importado, ao bem da verdade, provavelmente ninguém ligou a mínima para o fato. Uma parte da multidão se preocupava em segurar o celular o mais alto possível para gravar um vídeo, a outra beijava o parceiro do lado, perdidos em um mundo só deles, e uma pequena parcela deveria, de fato, estar de olho em Tyler. Foi também um dos poucos momentos em que a fila para se comprar cerveja na pista premium localizada em frente ao palco, ficou completamente vazia.

A voz de Tyler logo entrou nos eixos. As cordas vocais da metade tóxica cantora da banda precisavam só de um aquecimento para vibrar como se esperava delas. Em Crazy, enfileirada pouco depois, estava já tudo dentro dos conformes - assim como os celulares em riste, afinal, um hit não pode passar em branco nesse quesito.

Uma pena que o mesmo não se repita nos momentos em que Joe Perry caminha até a passarela que cruza o púbico para brilhar. Solos de origem blueseira, embebidos na virilidade do hard rock, desafiam o lado mais pop do Aerosmith e dão peso ao espetáculo que é criado sobre o palco. Se não é exatamente para isso que a maioria foi ao Allianz Parque na noite deste sábado, 15, o Aerosmith não está nem aí. O peso da banda foi pedra fundamental para a construção da fama de maus de Tyler e Perry ao longo da sua trajetória.

A artilharia mais pesada é intercalada com os momentos mais cândidos, afinal, o Aerosmith se fundamenta dentro dessa dicotomia. São os opostos, a balada ardida e a guitarra pesada, que unidos são capazes de levar essa multidão que se reúne quando a banda se apresenta em São Paulo, não importa quantas vezes eles visitem a cidade.

Uma apresentação do Aerosmith divide os holofotes entre essas duas metades, Perry e Tyler. A sombra e a luz. O rock e o pop. São os dois únicos a caminharem pela passarela em meio ao público. Dividem o microfone em um dos bromances mais antigos do rock and roll - somente Mick Jagger e Keith Richards têm mais estrada percorrida nesse sentido. Mas enquanto Perry deixa sua cara fechada, Tyler é só sorrisos.

O frontman sabe que é a estrela do show. Sem tirar o microfone do suporte como de costume enfeitado com tecidos, caminha por todos os lados do palco, interage, dança, faz suas poses ótimas para fotos. Em determinado momento, ele pega o celular de alguém da plateia, filma a si mesmo e, espero, devolve o aparelho para a pessoa certa.

Depois de uma sessão blueseira, a banda emendou a balada I Don;t Wanna Miss a Thing com a cover de Come Together, dos Beatles. Foi o momento mais barulhento da performance. Nada superaria um hit seguido de uma versão dos Beatles. Nem mesmo o bis, com a catarse de Dream On e Sweet Emotion. O estrago já estava feito.

Há algo de bonito ao ver senhores, prestes a completar 70 anos (Tyler tem 68, Perry, 66) e ainda capazes de fazer um estrago no palco. Artrites, artroses, seja lá o que a idade lhes trouxe, não foram capazes de impedir um bom show de rock. Se for a última vez que o Aerosmith pisou os pés em São Paulo, foi memorável. Como era de se esperar.

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