Aos 82 anos, Leonard Cohen assustou muita gente ao dizer recentemente, em entrevista à revista New Yorker, que está pronto para morrer. ;Espero que não seja muito desconfortável;, disse o cantor e compositor. Sem subir aos palcos desde 2003, Cohen lança agora o disco You want it darker. E canta, com a voz rouca e impositiva: ;I;m ready, my Lord; (;Estou pronto, meu senhor;, em tradução livre).
Embora a declaração de Cohen tenha causado rebuliço e até feito com que o músico se explicasse, o tema da morte é algo com que o compositor já vem trabalhando há algum tempo. Em julho deste ano, depois da morte da companheira Marianne, Cohen escreveu uma emocionada carta de despedida e disparava: ;Bem, Marianne, chegamos a este ponto em que somos tão velhos que os nossos corpos se desfazem; penso que te seguirei em breve;, escreveu.
Já em uma audição para a imprensa sobre o novo disco, Cohen colocou panos quentes sobre a declaração e tentou ser otimista. ;Recentemente, disse que estava pronto para morrer e acho que exagerei. Quero viver para sempre;, explicou, durante a apresentação do novo álbum, em Los Angeles.
Na entrevista à New Yorker, Cohen disse também que You want it darker poderia ser, de fato, o último disco. O cantor teria canções inacabadas, mas não sabia se teria tempo para terminá-las. Na despedida da audição, no entanto, ele deixou transparecer um pouco de esperança de que venham novos trabalhos. ;Espero que possamos fazer isto novamente, quero ficar por aqui até os 120;, brincou.
Apesar do otimismo, Cohen provavelmente não será capaz, por causa da idade, de fazer novas apresentações e turnês com o disco. A saúde debilitada o incomoda, mas a calmaria da velhice o agrada. ;Tenho muito menos distrações que em outros períodos da minha vida e, na verdade, isso me permite trabalhar com um pouco mais de concentração e continuidade do que quando tinha obrigação de ganhar a vida, de ser marido e de ser pai. A única coisa que impede uma produção plena é o estado do meu corpo;, disse à New Yorker.
Religião
Em You want it darker, a poesia de Cohen retorna a temas que já fizeram parte da obra do compositor, como a religiosidade. Deus é presença constante, assim como a sombra da morte. A velhice, no entanto, tirou de Cohen um pouco da angústia que marcava os discos anteriores do cantor.
Sobre a religião, Cohen recusa o rótulo de religioso e se liga a qualquer coisa que possa dar algum resultado. ;Tudo, catolicismo romano, budismo, LSD, sou a favor de tudo o que funcione;, disse à revista. Com dedicação, ele conta que lê hoje o Zohar (o livro que fundou a Cabala), a Bíblia Hebraica, evangelhos apócrifos e ensaios sobre a filosofia hindu. ;A religião continua sendo minha paisagem. Tento ter certeza de que essas referências não sejam muito estranhas;, comentou na audição.
Um dos cotados há anos para ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (vencido por Bob Dylan neste ano), Cohen nem precisou de perguntas para se posicionar sobre a vitória do americano. ;Vou dizer uma coisa sobre o Prêmio Nobel. Para mim, é como colocar uma medalha no Monte Everest por ser o mais alto do mundo;, disse. Para ele, é o prêmio é óbvio e só um detalhe diante da grandeza de Dylan.
Idas e vindas
Cohen sempre foi muito mais poeta do que cantor. Tanto que, no início, a certeza é de que se tornaria escritor. A música só entrou de fato na vida do canadense porque ele percebeu que poderia pagar contas assim. O primeiro disco veio tarde, aos 32 anos, em 1967.
E a decisão nunca foi total. Durante toda a carreira, Cohen permaneceu indeciso entre se entregar à música ou se manter apenas na literatura. A vida do canadense sempre foi movimentada, no entanto, uma das passagens muito lembradas foi que, mesmo judeu, Cohen, em 1994, virou monge zen-budista e se enclausurou na Califórnia. Depois de sair, teve dúvidas se a experiência lhe acrescentou algo espiritualmente.
You want it darker
De Leonard Cohen. 9 faixas. Disponível no Itunes. US$ 9,99.
Ouça o disco:
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