O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos sobe hoje ao palco do Auditório Nelson Rodrigues, na III Bienal Brasil do Livro e da Leitura para falar sobre migrações e sociedade na palestra Os movimentos forçados de populações e os desafios à democracia. Sousa Santos é o homenageado internacional do evento, que também homenageou a poetisa mineira Adélia Prado. Amanhã, o sociólogo, considerado um dos mais importantes pensadores da sociedade contemporânea, recebe também o título de Cidadão Honorário de Brasília. No sábado, ele lança A difícil democracia ; Reinventar a esquerda e As bifurcações da ordem: revolução, cidade, campo e indignação, ambos com direito a sessão de autógrafos no Auditório Machado de Assis.
A difícil democracia, livro mais recente do sociólogo, mergulha na reflexão sobre a necessidade de as esquerdas fazerem uma revisão a partir da análise das dificuldades do sistema democrático. Para Boaventura, é preciso pensar no futuro do sistema democrático numa conjuntura em que o capital tem cada vez mais protagonismo. Para introduzir o livro e a palestra no sábado, Flávia Birolli, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, apresenta as linhas principais da reflexão de Boaventura.
Democracia
Para o pensador português, a democracia é um sistema cheio de impasses e corre perigo diante da atual configuração das sociedades do planeta. ;Hoje, vivemos um período novo em que o capitalismo, para se sobrepor à democracia, não precisa de a destruir, basta esvaziá-la e matá-la por dentro pondo-a efetivamente a seu serviço;, acredita. Para ele, a democracia brasileira está em perigo, especialmente depois do impeachement de Dilma Rousseff, condenado por Boaventura como golpe parlamentar devido à dificuldade de se provar o crime de responsabilidade que motivou o ato do Congresso Nacional.
Sobre as esquerdas, tema do livro que lança em Brasília, o sociólogo aposta em uma reinvenção capaz de levar em conta as experiências recentes. ;Nas condições atuais do capitalismo global, um governo de esquerda é sempre um governo contra a corrente porque detém o governo sem deter o poder social e econômico que o envolve. Isto significa que não pode governar ao jeito da direita porque não há simetria social ou política entre, por exemplo, a corrupção de direita e a corrupção de esquerda. E o sistema judicial é o que garante a reprodução dessa assimetria;, diz.
Falar em esquerda e direita nunca fez tanto sentido para Boavenutra. O próprio questionamento sobre a existência de uma ou outra, para ele, é revelador. ;Hoje em dia quando se faz essa pergunta ela, em geral, pressupõe que o que está verdadeiramente em causa é apenas a esquerda, não a direita. Essa luta pelo poder a qualquer preço e quando o detém não está em crise, por definição. Mas para que continue a fazer sentido falar de esquerda é necessário que esta atue em coerência;, defende.
Entre as transformações necessárias das esquerdas, o sociólogo aponta uma volta às origens e uma reaproximação com as classes e movimentos populares em vez de buscar o apoio da classe empresarial. ;É preciso ter a coragem de propor como bandeira principal uma profunda reforma do sistema político, do sistema judicial, do sistema tributário, do sistema midiático e do próprio Estado. Para isso, será necessária, em muitos casos, uma Assembleia Constituinte originária. A democracia só sobrevive articulada com a democracia participativa genuína, isto é, não controlada pelos partidos;, garante.
Palestra
Os movimentos forçados de população e os desafios à democracia
Com Boaventura de Sousa Santos. Hoje, às 21h, no Auditório Nelson Rodrigues, no Mané Garrincha
Destaques de hoje na Bienal
Contação de histórias
Com Ciro Ferreira (MS).
Hoje, às 10h30, no Café Literário
O menino e o sabiá
Teatro para crianças com a cia Mapati. Hoje às 14h, na Arena Infantil Monteiro Lobato
A sociedade do descarte e a tragédia urbana
Com Johan Van Lengen. Hoje, às 18h30, no Auditório Nelson Rodrigues
Lançamento do livro Adeus controle remoto
Com Maurício Stycer. Hoje, às 18h30, no Café Literário
Lançamento do livro Arame farpado
De Lisa Alves. Hoje, às 18h30, na Banca 308
O declínio das mídias tradicionais e novos espaços de informação e comunicação
Com Paulo Henrique Amorim. Hoje, às 19h, na Arena Jovem Cecília Meireles
Shakespeare: 400 anos de com e fúria
Com Teo Silva. Hoje, às 20h no Café Literário
Lançamento do livro O povo da lua
De Renato Alves. Hoje, às 20h30 na Banca 308