Foi uma reportagem do extinto Jornal do Brasil, em 1976, que deu nome a um movimento que balançava a juventude carioca na década de 1970. Influenciados pela cultura negra americana, pelo soul, pelo funk, jovens se juntavam para dançar e fazer música. Black Rio, assim denominou o jornal e assim ficou conhecido o movimento que teve influências no hip-hop, no funk carioca e caráter político. Agora, o livro 1976 ; Movimento Black Rio conta a história desse fenômeno cultural.
;Um novo poder está em afirmação na Zona Norte da capital fluminense, e em outras áreas periféricas do Grande Rio, mobilizando mais de um milhão de rapazes e moças orgulhosos de sua cor e espiritualmente mais próximos do Harlem do que das quadras de samba;, dizia a icônica reportagem de Lena Frias.
Apesar de ter chamado muita atenção à época, o movimento black ficou esquecido para muita gente, acreditam os autores do livro, Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Octávio Sebadelhe.
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;Pouco se sabe, ou se recolheu e guardou de forma conveniente, sobre o que foi a influência do soul americano no subúrbio do Rio de Janeiro no início dos anos 1970;, escreve Luiz Felipe na apresentação da obra.
;Alguns afirmam não ter sido um movimento autêntico, organizado. Outros alegam que foi apenas um brilhante momento em que a juventude negra resolveu dançar uma música diferente;, completa.
Tony Tornado e Tim Maia, nomes importantes do Black Rio
A intenção do livro é justamente mostrar o que foi o movimento que balançou o Rio de Janeiro da década de 1970 e teve participação importante de nomes como Tony Tornado e Tim Maia. ;A ideia aqui é chamar atenção para um importante fato da cultura nacional que talvez tenha passado despercebido por grande parte da sociedade brasileira;, explica Luiz Felipe.
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O Black Rio, aponta o autor, revelou o desejo que a juventude negra daquela época teve de se afirmar e de garantir o direito de se expressar. ;Mostrou, dentre outras coisas, o quanto os brasileiros de ascendência africana lutaram por uma simples liberdade de ir e vir, pelo direito de verem e serem vistos, por se expressarem e mostrarem uma identidade própria.;
O pesquisador Zé Octávio Sebadelhe explica, na introdução do livro, que havia a busca para apresentar uma nova identidade e uma nova maneira de se expressar. ;Essa juventude negra-mestiça buscava incondicionalmente um novo comportamento, uma forma genuína de se exprimir e uma identidade social bastante particular;, comenta.
Para ele, o movimento questionou, em plena ditadura militar, os valores conservadores vigentes, que tinham raízes, inclusive, na escravidão.
;Era uma mocidade que questionaria veementemente estatutos e modelos arcaicos da civilização brasileira ainda muito evidentes naquele período e que permanecem até hoje ; traços de uma sociedade forjada em severos conceitos da era da escravidão.;
A importância do movimento Black Rio, acredita o autor, está tanto em ter estimulado ações voltadas à consciência negra quanto em ter inspirado artistas da música brasileira. ;Não só estimulou o surgimento de instituições vinculadas à consciência negra, como veio a inspirar uma nova geração de artistas e subgêneros da música brasileira (como o samba-soul e o samba-jazz), despertando até o interesse de nomes já consagrados da MPB e atingindo uma dimensão internacional;, relata.
1976 ; Movimento Black Rio
Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Octávio Sebadelhe. Editora José Olympio. 253 páginas. R$ 49,90.