Praticamente na mesma semana, o circuito de cinema deixa claras as nuances já alcançadas na oferta de filmes nacionais: tanto Tamo junto (com estreia prevista para a próxima quinta-feira) quanto O último virgem (em cartaz) são comédias voltadas para o público adolescente. ;Uma das questões principais da minha geração é a de que somos adolescentes tardios. Ao mesmo tempo em que estou trabalhando, lançando um filme, produzindo e fazendo ponta em cinema (BR 716), estou morando sozinho; tipo, vida adulta ; eu também paro, de vez em quando, para jogar meu videogame, assisto a séries de super-herói;, observa o diretor de Tamo junto, o brasiliense Matheus Souza.
;No Tamo junto eu não queria me apropriar do discurso feminino, para criticar o machismo, com uso de uma personagem feminina. O entretenimento é a melhor forma de mudar o mundo. Tentei fazer um filme divertido, acessível e com reflexão;, conta o cineasta, de 28 anos.
Na comédia, estrelada pelo diretor e por Leandro Soares e Sophie Charlotte, há muito uso de metalinguagem, num recurso alinhado ao consumo de mercado e à pretendida originalidade. ;Quis colocar todo o tipo de piadas que passavam pela minha cabeça, sem limites. Gosto do que a Pixar faz, com piadas para as crianças e outras, superinteligentes, para pessoas mais velhas;, diz Souza.
Tamo junto é, na visão do diretor, o encontro de três personagem que estudaram juntos e têm a mesma idade, mas se comportam deslocados do que se espera. Uma (Sophie Charlotte) quer ser adulta logo, quer fechar a vida, cedo; outro (Leandro Soares) é um eterno adolescente; e o terceiro (o ator/ diretor), uma eterna criança. A busca por um denominador em comum, entre todos, move o filme. No terceiro longa da carreira, Souza conta com participações de atores como Fernanda Souza, Antônio Tabet e Fábio Porchat, numa linha de escalação similar à dos anteriores: Eu não faço a menor ideia do que tô fazendo com a minha vida, com Clarice Falcão, e Apenas o fim, com Gregório Duvivier.
Num emaranhado de incertezas que acompanham os personagens de Tamo junto, o diretor, no papel do nerd Paulo Ricardo, parece o mais conformado. Teria ele alguma similaridade com o cineasta? ;Todos nós temos diferentes versões nossas dentro da gente. Paulo é um Matheus que existe dentro de mim; principalmente, um Matheus mais jovem. Eu tinha um pouquinho daquela inocência. É um personagem que dialoga com quem eu fui e que é um cara que ainda mora em mim, em algum lugar;, comenta.
Machismo
Mudanças, sempre alinhadas à juventude, nutrem o roteiro. ;Todo filme narrativo comercial, seja comédia seja de herói, é sobre uma correção de caráter. Rei Leão é sobre o Simba aprendendo a ser responsável. No arco do personagem, está a questão de ser um líder, de ter atitude. No Todo poderoso, Jim Carrey aprende a deixar de ser egoísta, egocêntrico. Trato de um personagem crescendo numa sociedade machista, aprendendo a se desgarrar disso. Há uma correção de caráter dele;, diz.
Ligado na questão do machismo, o diretor clareia os traços suscetíveis a críticas. ;O protagonista termina um namoro para se encaixar no mundo, o que é um equívoco. Toda vez que o machismo é mostrado no filme é de forma patética ou agressiva. Os amigos dele que falam besteiras sobre mulheres são patéticos. Agressividade é uma das coisas que precisam mudar na cultura masculina;, defende.