Diversão e Arte

Alexandre Nagado lança almanaque da cultura pop japonesa

O especialista analisa as razões para que mangás, animes e afins exerçam tanto fascínio no público tupiniquim

Rebeca Oliveira
postado em 11/12/2016 07:00

Geek

No início do século 20, os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Porto de Santos. Foi o começo de uma nova era de relação social entre os dois países que extrapola as mais diferentes esferas: do sushi, um intruso gastronômico ; que de tão benquisto parece coisa nossa ; até a cultura pop, amplamente marcada por clássicos da Terra do Sol Nascente. Por mais díspares que pareçam, é o último segmento um dos que mais acirra a amizade Brasil-Japão. Em Almanaque da cultura pop japonesa, numa compilação de artigos de autoria de Alexandre Nagado publicados ao longo de duas décadas, o especialista analisa as razões para que mangás, animes e afins exerçam tanto fascínio no público tupiniquim.

Esse encantamento pelo Japão ganhou novo fôlego com a nostalgia. Produções como Dragon ball Z, Sailor moon, Speed racer e Os cavaleiros do zodíaco nunca deixaram de causar fascínio, mas ganharam atenção quando pessoas que tiveram a infância marcada por essas atrações decidiram revirar o baú de memórias afetivas e voltar a assisti-los.

;Essas produções, cada uma em seu tempo, fizeram parte da vida de muita gente que não se preocupava em saber tudo sobre os personagens, não acompanhava com rigor de fã de carteirinha, mas assistia sempre que possível e gostava. E para esses, o fator nostalgia é diferente. O fã desse tipo quer ter uma recordação da série, não está preocupado com novas produções ou remakes dos títulos que curtia. A memória afetiva é mais importante. Sempre procuro dialogar com esse tipo de público e levar um pouco mais de informação contextualizada;, afirma Nagado.

Para aumentar ainda mais o frenesi, recentemente, chegou ao Brasil o Wow! Play, uma espécie de Netflix japonesa com conteúdo voltado ao segmento geek e catálogo recheado de super-heróis de olhos puxados, como Jaspion e Ultraman. A proposta é parecida com a do Crunchyroll, serviço de streaming especializado em animes.

Mesmo com duas culturas tão diferentes, o universo ocidental se atraiu tanto por esses produtos orientais porque eles costumam ter como pano de fundo o mundo real e seu cotidiano, mesmo sobre uma ótica fantástica. ;Relações familiares, sociais, afetivas, escolares e trabalhistas são diferentes lá. Dito isso, vale ressaltar que, no fundo, todo ser humano busca as mesmas coisas. Ser aceito em um grupo, realizar um sonho pessoal ou profissional, encontrar uma companhia, atingir seus objetivos;, resume Alexandre Nagado, que também é autor do Blog Sushi POP.

;A grande sacada é que os personagens japoneses são muito emotivos, o que tem efeito catártico em uma sociedade tão rígida como a deles. E também são muito determinados, que é um traço muito valorizado lá. Essa emotividade e força de vontade encontram acolhida no público ocidental, pois são coisas universais;, complementa ressaltando a narrativa visual dos quadrinhos japoneses, planejada para envolver o leitor com um ritmo mais cinematográfico que os ocidentais.


Americanização

Apesar disso, além da escrita, há muitos personagens criados no Japão que, mesmo com grande sucesso, ganharam versões americanizadas. ;Há dois tipos de americanização. Uma, mais básica, é de nomes e adaptações no enredo para tornar mais palatável ao público americano, além de cortes de cenas de violência e sensualidade permitidas no Japão, mas malvistas no mundo ocidental. No Brasil e na Europa isso nunca foi muito necessário, vale ressaltar, mas muita coisa que passou aqui veio via EUA, já adaptada;, explica Nagado.

Ele exemplifica que essa situação aconteceu com Speed racer, chamado de Mach go go go no Japão. Recorda, também, que, nos seriados live-action, tem as adaptações de produções que trocavam o elenco original por atores ocidentais. Isso foi feito em Power Rangers, que vai ganhar filme em 2017, e algumas outras séries. ;As primeiras produções desse tipo foram bem capengas, mas as mais recentes rivalizam com os originais japoneses;, acredita o especialista.

Editora Kimera/Reprodução
Almanaque da cultura pop japonesa
De Alexandre Nagado. Kimera, 248 páginas. Preço: R$ 48,90.

Entenda

Alexandre Nagado explica as diferenças entre os mais populares produtos culturais japoneses exportados para todo o mundo ; e com igual sucesso no Brasil, mesmo em um circuito de nicho.

Mangá: são as histórias em quadrinhos japonesas ou mesmo as revistas de quadrinhos. Hoje, também se reconhece como mangá os quadrinhos de qualquer parte do mundo que sigam parâmetros visuais e narrativos do estilo japonês de quadrinhos.

Anime: é o desenho animado japonês, cujo termo é derivado da palavra anglófona ;animation;.

Tokusatsu: são efeitos especiais, mais especificamente os filmes e seriados com efeitos especiais. Godzilla, Ultraman e Jaspion são exemplos de produções tokusatsu.

O que vem por aí

Diretores de cinema estão atentos ao furor que as produções japonesas têm causado. O fenômeno dos anos 1990 Os Cavaleiros do zodíaco ganhará um filme em live-action, ou seja, com atores reais ; mas ainda sem data de estreia. O anúncio fez parte das comemorações dos 30 anos da franquia originalmente criada para o mangá por Masami Kurumada. Na tevê japonesa, o original tem assinatura de Kozo Morishita.

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