Diversão e Arte

Livro apresenta trabalho fotográfico do DJ e radialista Mauricio Valladares

A obra traz 142 imagens sobre futebol, carnaval e outros temas

Alexandre de Paula
postado em 12/12/2016 07:02
Gilberto Gil é um dos retratados
É impossível ouvir falar sobre o DJ e radialista Mauricio Valladares (responsável pelo célebre programa de rádio Ronca Ronca) e não pensar em música. Fotógrafo, Valladares mostra ainda que sabe olhar além das notas e dos acordes, como confirma o livro Preto e branco. Futebol, carnaval e, claro, também a música são alguns temas presentes nas 142 fotografias do livro.

;A ideia era que a música não tivesse um peso muito grande. Digo que é um livro que passa pela música. Porque algumas fotos sobre o tema foram determinantes, são imagens conhecidas e marcam um período que traz muita lembrança para quem viu;, explica Valladares.

Apesar de não ser o tema principal, a música chama a atenção em muitas imagens. Freddie Mercury, Led Zeppelin, Gilberto Gil, Skank são algumas das figuras importantes do meio retratadas no livro.

A seleção foi um processo difícil, conta o fotógrafo. Os organizadores Christiano Calvet e Raul Mourão tiveram um papel importante para que o livro se tornasse real. ;Foi muito difícil, mas essa visão da fotografia que tenho, de imagens que marcaram um período, ela determinou algum tipo de escolha. Eu também abri a minha visão para o Christiano e para o Raul e eles foram muito importantes para afinar essa sequência;, revela.

Projeto

;Sempre tive vontade de fazer um livro, comecei a fotografar no início dos anos 1970 e desde lá quero fazer porque sempre admirei o trabalho impresso, o jeito de publicar, de fotografar, é como um músico querer ter um disco;, comenta.

Apesar da vontade, Valladares conta que demorou para concretizar o projeto. ;A minha incerteza atrapalhou, eu sou muito lento, eu não tenho pressa, fui relegando, até que há dois anos eu consegui me colocar em contato com essas pessoas para viabilizar a ideia de que jeito que eu queria;, conta.

Todas as imagens do livro foram produzidas de maneira analógica e ampliadas pelo próprio Maurício, em preto e branco. ;Todas essas as fotos eu revelei e ampliei e eu revelava o material todo em preto e branco. Então, 90% das minhas fotos são assim;, explica.

Mesmo as imagens feitas na década de 1970 permanecem atuais, acredita Maurício. ;E não sou eu que estou dizendo isso. Depois de ver o livro, Walter Carvalho me ligou e disse: ;Maurício, essas fotografias não têm tempo. Mesmo se elas foram feitas há 40 anos, não estão presas a esse tempo. São transcendentais e estão 40 anos à frente;;, revela.

Sobre o registro de momentos marcantes e de situações únicas, Maurício compara a fotografia ao ato de compor uma canção ou fazer uma receita. ;Se não tiver todos os ingredientes, você não vai conseguir a foto. Você tem que saber o que está em volta, a luz, os planos, essas coisas, é como compor uma música, pintar um quadro, fazer uma comida. E você precisa de auxílio. Você não fez nada sozinho;, reflete.


>>Três perguntas // Mauricio Valladares

Você já está trabalhando em outro livro. Como seria esse?
Esse outro livro na verdade era para ter sido este. O Preto e branco foi criado com a gente tratando do outro livro. O novo não terá peso muito definido na coisa da fotografia isolada. A ideia é ir usando, além das imagens, depoimentos que tive com o programa de rádio, cartas, minhas lembranças, um bilhete de Renato Russo para mim, por exemplo. Então vai ser um universo em que a fotografia participa, mas não reina sozinha porque vou usar outras formas de contar a história.

Por que a escolha por todas as imagens em preto e branco?
Todas essas as fotos eu revelei e ampliei e eu revelava o material todo em preto e branco. Então, noventa por cento das minhas fotos são assim. Hoje existe a impossibilidade de permanecer assim em analógico, porque seria como tentar manter a iluminação das ruas em óleo de baleia porque a luz é mais bonita.

E como você enxerga essa transição entre digital e analógico?
A vantagem é a praticidade, a rapidez. Antes era necessário gastar pelo menos alguns dias; hoje é questão de dez minutos para dar sequência ao que você quer. Você vai se adaptando ao que está em volta. Esse livro retrata um mundo que não se repete hoje, o Maracanã acabou, o carnaval é de outro jeito, mas não é saudosista. Eu não tenho saudade de nada, nem do Led Zeppelin nem do tempo que perdi diluindo fixador para revelar fotos.

Preto e branco
Fotografias de Mauricio Valladares. Organização: Christiano Calvet e Raul Mourão. 208 páginas. Automática edições. R$ 60.

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