Fernando Jordão - Especial para o Correio
postado em 20/12/2016 18:54
Quando deixou sua terra natal rumo aos Estados Unidos, em busca de mais oportunidades para realizar o sonho de ser animador, o paulista Leo Matsuda, certamente, não imaginou que chegaria tão longe. Neste ano, ele se tornou o primeiro brasileiro a dirigir um filme da Walt Disney Animation Studios. Mais do que isso: sua animação de estreia, Trabalho Interno (Inner Workings), está entre os dez pré-selecionados para concorrer ao Oscar de Melhor Curta-metragem de Animação em 2017. A lista final ; com cinco candidatos ; será divulgada em 24 de janeiro e a premiação acontece em 26 de fevereiro.
"Estou muito honrado com essa oportunidade. [Ser pré-indicado ao Oscar] me deixou muito feliz. Mas o processo todo foi o que me deixou mais contente. A produção de um curta é bem similar à de um longa-metragem. A gente encontra os mesmos desafios. E tudo isso pelo que a gente passou, pra mim, já é o prêmio", celebra Leo em entrevista ao Correio.
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Previsto para ser lançado em 5 de janeiro ; junto do longa Moana: Um Mar de Aventuras ; e com pouco mais de seis minutos de duração, Trabalho Interno mostra o embate diário entre os lados de um homem: o pragmático e o aventureiro. O primeiro é representado pelo cérebro, enquanto o segundo, pelo coração. Os órgãos, aliás, são os protagonistas da animação.
Matsuda explica que a inspiração para o filme veio da própria infância. "Eu nasci nos anos 80 e, como a gente não tinha internet, vivia muito baseado nos livros. Naquela época existia a [enciclopédia] Barsa, que era o meu universo. Quando eu a lia, achava fascinante ver como o corpo humano trabalha. É uma imagem que eu sempre tive e, por isso, sempre quis contar essa história;, afirma.
O diretor diz, ainda, estar "muito orgulhoso" com o resultado final do curta, por ter conseguido "contar o que queria, da forma como queria". Ele revela sentir-se parecido com Paul, o personagem do filme que enfrenta os conflitos internos. "Eu sou descendente de japonês, então tenho um lado bem disciplinado, mas também tenho um lado brasileiro, que gosta de carnaval e de festa. Então, eu também vivo essa batalha interior", brinca.
Para ganhar a oportunidade de dirigir um curta da Disney, Leo precisou defender sua ideia em uma disputa com outras 73. Formado em Animação de Personagens pelo Instituto de Artes da Califórnia, o paulista foi contratado pelo estúdio em 2008. Desde então, já participou da produção de filmes como Detona Ralph, Operação Big Hero e Zootopia. Antes de entrar na Disney, ele já havia trabalhado em Os Simpsons ; O Filme e em Rio, dirigido pelo também brasileiro Carlos Saldanha.
Agora envolvido com as continuações de Detona Ralph e Frozen, Leo avalia como "fenomenal" a oportunidade de dirigir Trabalho Interno e a experiência de trabalhar na Disney. "É uma maneira de mostrar para os brasileiros que, assim como eu consegui, todas as pessoas podem conseguir também. Basta acreditar e ser fiel à sua visão. Às vezes, a gente acaba esquecendo da raiz brasileira, mas cada pessoa no Brasil tem uma história linda para contar;, finaliza.