Beatriz Queiroz*
postado em 26/12/2016 07:34
Num mundo em que pessoas propagam ódio e preconceito, muitos ainda tentam falar de amor. Mas um grupo de escritores se reuniu para falar desse sentimento de uma forma diferente. Ique Carvalho, Arthur Aguiar, Matheus Rocha e Frederico Elboni relacionaram o amor a um elemento da natureza e juntos compõem o livro Muito amor, por favor.
;Infelizmente, a sociedade coloca que amor é apenas ter uma pessoa na sua vida. E não é isso. É você tratar bem todas as pessoas que estão ao seu redor, independentemente se você tem uma relação sexual ou não com ela. É você dar bom dia e colocar o sorriso no rosto de alguém;, ressalta Ique Carvalho.
Publicitário e dono do blog The love code, Ique ficou responsável por falar do amor como fogo. Com textos leves e cheios de toques poéticos, o autor vai além do amor carnal que cairia tão bem ao seu elemento e revela ao leitor várias formas de amar. ;Me inspiro nos meus relacionamentos e no dos meus pais. Quando eu digo relacionamentos, não é apenas entre namorados e sim entre as pessoas. Eu me inspiro no carinho que eu tenho pelos meus amigos.;
Entre as histórias do mineiro estão desde algumas paixões platônicas, como Maria Elisa, até aventuras amorosas daquelas que a gente acha que só existem em filmes, ou livros. Mas o que mais marca o autor são histórias sobre o pai, A tocha que guia você em especial.
;Esse conto é muito importante pra mim, porque foi uma das últimas conversas que eu tive com meu pai em vida. Foi depois daquela conversa que eu comecei a ver o mundo diferente e principalmente ser uma pessoa melhor na vida e no amor;, explica Ique. No texto, ele conta como o pai dele mostrou a importância de aproveitar a vida e viver de verdade.
Liberdade
Com uma escrita bastante perspicaz, que dá ao leitor a abertura de interpretar as crônicas de diferentes formas e encaixá-las nas suas vivências, Matheus Rocha relaciona o amor com a terra. ;Eu escrevo para quem, simplesmente, vive, ama, chora, se decepciona, se apaixona. Eu escrevo para quem não me lê, não me julga ou procura me entender, escrevo para quem sente o meu texto e se identifica com ele.;
Uma das características claras no texto do jornalista, que também é autor do blog Neologismo, é que os personagens não são homens, nem mulheres. ;A busca por um narrador sem gênero e personagens que sigam o mesmo padrão sempre foi e sempre será uma primazia minha, por questão de respeito aos meus leitores. Respeito à liberdade que eles têm de serem eles mesmos e amarem a quem quiser;, explica Matheus. Ele também aponta que optar por um gênero predefinido seria reduzir um texto a uma parcela de pessoas.
Frederico Elboni ficou encarregado da missão de associar o amor e o ar. Assim como Ique, ele traz muito mais em seus textos e não se restringe apenas a uma coisa. ;Prefiro falar de sentimentos do que só do amor em si.; O autor conta que costuma buscar coisas que ele está sentindo.
;Não falo só sobre relacionamento, mas também comportamento. Tudo que escrevo é sempre uma autoanálise ou coisas que vi nos outros, que queria sentir, que tive medo;, explica. Ele também acrescenta que precisamos ter um mais amor nas relações humanas como um todo e mais parcimônia nas descobertas, pois ;nem sempre os grandes amores surgem como grandes amores;.
Os textos sobre o amor constroem uma linha de raciocínio e, se você souber juntar alguns deles, contam uma história quase completa. Um destaque é a tal Luísa. Não que o nome dela seja esse, mas ela existe. ;É uma pessoa que eu conheci e consegui transpor exatamente o que eu queria ao falar dela. Ela é uma menina muito especial;, entrega Frederico. Mas nem todos os textos são necessariamente baseados em fatos. ;Não pergunte sobre a veracidade, leia. Se te fez bem, legal! É gostoso poder criar uma história de amor bonita sobre o que foi ou o que poderia ser, a gente nunca vai saber.;
Rumos
O paulista não é mais um estreante no ramo literário e mantém a vida de escritor entre o online e o impresso. Autor do blog Entenda os homens, ele também tem um canal no YouTube que traz discussões sobre temas cotidianos, como cabelos cacheados e beijos nas costas. Frederico também é autor de Um sorriso ou dois e Só a gente sabe o que sente, e já está com o projeto de um novo livro para 2017.
Matheus Rocha e Ique Carvalho também estão em seu segundo livro. Falando sempre de sentimentos, Matheus é responsável pelo título No meio do caminho tinha um amor e também já está com o projeto de um novo livro de crônicas. Faça amor, não faça jogo fica a cargo de Ique, que traz essa ideia em alguns textos de Muito amor, por favor. Um deles é Coragem de acender o fogo, no qual ele deixa um recado: ;Se você gosta muito de alguém, diga logo o que sente para o outro sentir também. Não por medo de se arrepender, mas porque a coisa mais maravilhosa sobre a vida é que esse tipo de coisa pode acontecer;.
Quem também participa do livro é o ator, cantor e, agora, escritor, Arthur Aguiar. Ele é quem fala sobre quando o amor é água e traz histórias doces e engraçadas, que vão de sentimentos adolescentes a pessoas nunca esquecidas. Alguns também contam com uma carga de emoção, e outros arrancam certas risadas. O projeto foi a primeira experiência de Arthur como autor de um livro, mas ele já escrevia músicas. No disco O que te faz bem, lançado esse ano, ele traz diversas composições autorais.
Muito amor, por favor
De Arthur Aguiar, Frederico Elboni, Ique Carvalho e Matheus Rocha. Editora Sextante. 240 páginas. A partir de R$ 19,99.
* Estagiária sob supervisão de Igor Silveira