Diversão e Arte

Skank relança em versão comemorativa 'O samba poconé'

O disco é considerado o mais importante da carreira da banda mineira

Adriana Izel
postado em 31/12/2016 07:30

Após o relançamento, o grupo Skank está em turnê pelo Brasil com os hits de O samba poconé

O ano era 1996, o Brasil havia chorado a perda da banda Mamonas Assassinas em um acidente de avião; o assunto da presença de um ET na cidade de Varginha (MG) tinha tomado o país inteiro; o astro pop Michael Jackson tinha passado pela Bahia para gravar o clipe de They don;t care about us; PC Farias, que se envolveu em um esquema de corrupção, foi assassinado, assim como 19 sem-terra no Massacre dos Carajás, no Pará; os domingos eram animados pelo humorístico Sai de baixo; todo mundo dançava ao som do disco Na cabeça e na cintura, do É o Tchan, que tinha canções como Dança da cordinha e A dança do bumbum; e a banda Skank se preparava para lançar O samba poconé, álbum que se tornou um marco na história dos mineiros e na música nacional.

Naquele ano, a banda já tinha dois discos em seu currículo e, após a boa repercussão de Calango (1994), que tinha músicas como Jackie Tequila, É proibido fumar e Te ver, era preciso fazer um disco do mesmo nível. E foi o que o grupo mineiro fez com O samba poconé, que chegou às lojas em 5 de julho de 1996. Na verdade, o Skank, de Samuel Rosa, Haroldo Ferretti, Lelo Zaneti e Henrique Portugal, superou as expectativas em torno do material. Das 11 faixas, todas se tornaram hits e são conhecidas até hoje, 20 anos depois. ;Qualquer pensamento ou sonho que a gente tivesse na época, com certeza, seria menor do que realmente aconteceu. O álbum levou a gente para o Brasil inteiro e para o mundo. Tocamos em 18 países por causa dele;, afirma Henrique Portugal em entrevista ao Correio.

Tudo em O samba poconé é marcante e histórico. A começar pela capa do CD, com a imagem de uma mulher seminua ao lado de um gorila ; desenho do artista plástico Gringo Cardia. No encarte, as pinturas, que são de autoria de José Robles, fazem referência as músicas e a banda. Assim há uma cena de um jogo de futebol ao lado da letra da música É uma partida de futebol, composição de Samuel Rosa e Nando Reis. Música, inclusive, que quase ficou de fora do disco e dois anos após o lançamento virou trilha sonora da Copa do Mundo e fez com que o Skank tocasse em estádios por todo o mundo.

Já não bastasse a faixa inicial, É uma partida de futebol; a canção Garota nacional também ganhou popularidade em todo o mundo. O motivo? Um dos principais foi o lançamento do clipe, que contou com um seleto grupo de celebridades da época, como Paula Burlamaqui, Paloma Duarte e Carla Marins, todas de peito de fora, sem censura.

A MTV chegou a pedir para que o grupo fizesse uma versão para a tevê, porém, a banda não aceitou. Mas tudo bem, o Brasil vivia um momento em que era normal assistir Carla Pérez e companhia rebolando na televisão ao som do É o Tchan, além das disputas quase pornográficas no quadro Banheira do Gugu, no Domingo Legal. ;É engraçado que Garota nacional foi para o mundo todo em uma época em que não existia internet. Imagina isso hoje? O clipe foi ousado, o que fez com que ele se tornasse importante dentro do cenário do pop rock;, diz Portugal.

A fórmula
Mas o que levou O samba poconé a fazer tanto sucesso? Para o músico Henrique Portugal, é o fato do álbum não ter até hoje nada parecido com ele e ser de certa forma visionário. ;É um álbum que tem música cantada em espanhol, um rap em francês. Até hoje você não vê nada igual na música brasileira. É um disco que mesmo com 20 anos continua muito contemporâneo. Lá atrás estávamos falando de temas sérios, como em Los pretos e Sem terra. Além de ser um álbum extremamente pop e ousado;, classifica.

A versão comemorativa de O samba poconé possui três CDs. O primeiro deles é exatamente igual ao lançado em 1996. O disco dois contém as gravações de ensaios e demos que estavam guardadas com Haroldo Ferretti. O terceiro álbum tem arquivos de Dudu Marote, com remixes, versões instrumentais e registros gravados em estúdio que foram deixados de lado, como Chica nacional (versão em espanhol de Garota nacional) e Minas com Bahia, que viria a ser gravada por Daniela Mercury meses depois no CD Feijão com arroz. ;Acho que é legal mostrar para as pessoas que gostam do nosso trabalho como a gente começou, como fizemos as músicas e que desdobramentos tivemos depois desse álbum, que fez muito sucesso;, explica Henrique Portugal sobre o relançamento.

Desde o lançamento do álbum comemorativa, o Skank decidiu sair em turnê com O samba poconé ; 20 anos. Os mineiros passaram pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. No primeiro semestre de 2017 devem rodar o país cantando os hits. ;É legal, porque a gente vê muita gente (durante o show) revivendo momentos marcantes de suas vidas, relembrando algo emocionante;, conta. Apesar de não ser oficial, Portugal diz que a banda pretende levar a turnê para Brasília. ;Vamos a Brasília desde o primeiro álbum. Fizemos um show recente muito bacana com o Os Palalamas do Sucessos. Lógico que queremos levar esse show até a capital;, lembra.



O samba poconé ; 20 anos
De Skank. Sony Music, 11 faixas (CD 1), 14 faixas (CD 2) e 15 faixas (CD 3). Preço médio: R$ 84,90.



Três perguntas // Henrique Portugal

O que você acha que mudou no Skank de 20 anos atrás para agora?
Começamos a carreira com foco na mistura da música jamaicana ao lado do eletrônico. Depois fomos incorporando outras referências, que também são verdadeiras na nossa história. Começamos tocando em bares para juntar grana para fazer um álbum, então tocamos de tudo, rock, reggae... Tudo isso foi incorporado de forma natural e genuína ao nosso som. E o público gostou.

Vocês são uma banda que há 25 anos mantém a mesma formação. Qual é o segredo?
Isso é talvez o jeito mineirinho. Não é que a gente não brigue, a gente briga. Mas é questão de respeito. Gostamos do mesmo estilo musical e montamos a banda porque tínhamos afinidade. Talvez seja igual receita de pão de queijo, em cada lugar do Brasil é de um jeito. Cada banda tem sua receita de equilíbrio. Nós estamos felizes, gostamos do que fazemos e procuramos viver. O que nos une não é simplesmente pode viver de música, mas afinidade musical e respeito.

E o que acha que mudou no pop rock nacional nos últimos anos?
Esse é um assunto que ficaríamos horas conversando. O que vejo é que a música pop que fazemos é um estilo que fala para as massas, mas normalmente com letras com uma profundidade. Não falamos simplesmente de bebida, camarotes, não é isso. Não é a característica do nosso estilo musical. Mas o pop rock perdeu espaço, as letras de cunho social praticamente desapareceram. Acho que tudo isso é cíclico. Há dois anos, o Brasil estava vivendo um momento de pleno emprego, as pessoas não estavam preocupadas com letras críticas e assuntos mais sérios. Mas agora acho que pelo que o Brasil está passando, as pessoas vão voltar a pensar um pouco no que realmente importa. Nessa hora, pode ser que o segmento pop rock volte com relevância e letras mais consistentes.

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