Na categoria de melhor atriz do Globo de Ouro, a ser disputada no próximo domingo, um quesito parece ter formatado todos os papéis que deram destaque a cinco intérpretes femininas: todas as personagens exalam força e persistência. Se vencer, por exemplo, a etíope criada na Irlanda Ruth Negga, na primeira indicação ao prêmio, pode aumentar o discurso da igualdade dignificado em Loving, centrado na queda de lei que obstruía a miscigenação no estado da Virginia, em fins dos anos de 1960.
;A história é escrita por vencedores. Como artista, trabalho com o ecoar do discurso daqueles percebidos como perdedores;, reforçou, ao The Guardian, Negga que, na véspera da entrega do prêmio, terá completado 35 anos. Estrela de Café da manhã em Plutão (2005) e da série televisiva Agentes da S.H.I.E.L.D., Ruth Negga diz ter conquistado ;um presente;, a ser dividido com o maior número de espectadores convocados a conhecer a persistência da verdadeira Mildred Loving, mulher que recorreu à Suprema Corte americana, pelo direito de amar.
Privilegiado intelecto, enorme força de vontade e gentileza foram algumas das qualidades que atraíram Natalie Portman para o retrato pretendido pelo diretor chileno Pablo Larraín, na cinebiografia da ex-primeira dama Jacqueline Kennedy. Jackie, o filme, se concentra no período posterior ao assassinato de John F. Kennedy, tendo rendido a quarta indicação de Portman ao Globo de Ouro (vencido, anteriormente, por Cisne negro e Closer: perto demais. À imprensa estrangeira, a atriz, curiosamente, nascida em Israel, e que, nos anos 2000, respondeu pela composição da princesa de Star wars Padme Amidala, revelou a admiração por Jackie: ;Ela suportou acontecimentos terríveis e ainda assim foi capaz de gestos belos e de imprimir duradouras contribuições para os Estados Unidos;.
Ainda na lista das selecionadas melhores atrizes de drama o peso grande vai para as personagens ruivas, enaltecendo as atrizes Amy Adams, Jessica Chastain e Isabelle Huppert. O arsenal cênico à mão de Jessica Chastain, no longa Armas na mesa, não pode ser ignorado, haja vista o brilho de uma carreira constituída por sucessos como A hora mais escura (2012), dirigido por Kathryn Bigelow, e que rendeu a Chastain um Globo de Ouro de melhor atriz.
Na carreira que já teve duas indicações ao Oscar, êxitos como os de Interestelar (2014) e A árvore da vida (2011) e quatro candidaturas ao Globo de Ouro, Chastain confirma ter sido talhada para as artes. Em Armas na mesa, ela dá vida a ambiciosa lobista empenhada no controle de armas. Ao USA Today, afimou que o filme mostra ;o quão corrupto um sistema pode ser, ao se deixar liderar pelo dinheiro;.
Belas e talentosas
Duas vezes vencedora do Globo de Ouro (por Grandes olhos e A trapaça), a sempre adorável Amy Adams catou a sétima indicação ao prêmio, com A chegada. Com a carga da inventividade, no passado, sob medida para diretores como David O. Russell, Spike Jonze e Tim Burton, Adams, expressiva e vibrante, vê uma mensagem positiva na ficção científica A chegada, que trata de contato extraterreno. ;O mundo precisa de mais momentos e fatos que repassem otimismo;, resumiu ao jornal britânico The Telegraph.
Completando a lista das atrizes cotadas para o Globo de Ouro, desponta o verdadeiro tesouro das artes francesas, a sessentona Isabelle Huppert. Somente ao prestigiado prêmio César, Huppert já obteve 15 indicações; isso além de ter sido melhor atriz em Veneza e, por duas ocasiões, no Festival de Cannes. Mesmo longe de precisar de um Globo de Ouro, Huppert ; que viveu Madame Bovary, nas telas, além de ter rendido, insuperavelmente, na dobradinha de filmes de Michael Haneke A professora de piano e Amor ; consolidou o talento internacional, com Elle, do sempre polêmico holandês Paul Verhoeven (de fitas como Conquista sangrenta e Instinto selvagem). Em Elle, dá vida a Mich;le Leblanc, uma devota incondicional ao trabalho que, num ponto da vida, será estuprada, empreendendo reação da mais imprevista.
Coadjuvantes de peso
Para além da categoria de melhor atriz que, em 2017, alinha nomes como Meryl Streep e Emma Stone, o Globo de Ouro se rendeu a cinco atrizes de longas capazes de brilhar, mesmo em papéis de menor calibre. Confira:
Viola Davis
Na quinta indicação ao Globo de Ouro; pelo filme Fences, Viola está em papel já interpretado na Broadway. Mesmo com nítido fundo de justiça social no filme, ela ressaltou à imprensa internacional: ;Temos que parar de pensar que experiências afro-americanas não sejam inclusivas;, ressaltando o caráter universal do drama da raivosa Rose, mulher do injustiçado Troy (Denzel Washington, astro e diretor do longa Fences).
Naomie Harris
Na primeira indicação ao Globo de Ouro, a atriz entregou encenação visceral para viver Paula, uma dependente química, mãe, mas embrutecida, em Moonlight. No papel, Naomie acredita ter imprimido redenção, entretanto. Concentrada em três dias de filmagens, lidando com o mundo do crack, ela promete impressionar, no longa de Barry Jenkins.
Nicole Kidman
Uma história real deu inspiração a Lion, fita que rendeu a 11; indicação de Kidman ao prêmio. ;Amor incondicional;, nas palavras da estrela deu moldes à interpretação do papel em que retomou as origens australianas. No filme, ela vive Sue Brierley, mãe adotiva para um garoto que se vê perdido e sozinho, nas ruas de Calcutá. Partindo da Índia para a Ilha de Tasmânia, ele vê a vida mudar. Nicole Kidman já tem em casa três estatuetas do Globo de Ouro (por Um sonho sem limites, Moulin Rouge e As horas).
Octavia Spencer
Tendo um Globo de Ouro, por Histórias cruzadas (2012), Octavia disputa, agora, por Estrelas além do tempo. ;Tive a sorte do estímulo da minha mãe que quis que eu fosse quem vislumbrasse e sonhasse ser;, declarou para a mídia estrangeira. No filme, ela vive a matemática DorothyVaughn, que, aplicada num órgão que precedeu a Nasa, possibilitou as viagens pelo espaço.
Michelle Williams
Na quarta indicação ao troféu da associação estrangeira de críticos, Michelle vive Randi, em Manchester à beira-mar, filme sobre a dramática retomada de vida por parte de uma moça abalada por perda afetiva. Numa comparação, Michelle (que teve no destino, a morte do ex-namorado Heath Ledger) não deixou de fora da composição da personagem o ;sentimento real; enfrentado. Em 2012, ela conquistou um Globo de Ouro, por Sete dias com Marilyn.